Anthony Hopkins dá vida ao grande homem Nicholas Winton, que ajudou a salvar algo em torno de 669 crianças que moravam em Praga, logo antes de Hitler a invadir, transferindo-as para a Inglaterra.
Estranho como um longa do mesmo diretor de alguns episódios de "Black Mirror" se sai extremamente burocrático e piegas, é como assistir "A lista de Schindler" versão programa sensacionalista de domingo, e é bem isso mesmo que o roteiro caminha: o ápice é quando os feitos vêm à tona mediante um programa televisivo, com direito a cenas constrangedoras típicas para agradar uma audiência de forma apelativa.
Mas todo esse desenvolvimento choroso, como a trilha irritante e os closes no olhar abatido das crianças, conta ao menos com o talento do Hopkins e de todo elenco adulto, nomes como Helena Bonhan Carter, que conseguem conferir dignidade ao material. Mas o roteiro, ainda assim, não deixa de se sabotar: lá pelas tantas, depois de ter visto todo o primeiro ato com cortes meio estranhos do nosso protagonista salvando as crianças em diversas levas de trem, é curioso notar que, ao revelar o número de crianças salvas, nós também tenhamos sido pegos de surpresa, e isso é curioso porque o resgate já fora apresentado, ou seja, a imagem não deu conta de revelar a magnitude do feito.
Assim, é um filme que usa e abusa de legendas, um filme bem didático mesmo, feito para um público acompanhar de forma mastigada, e ainda conta com diálogos bem superficiais. Há uma tentativa de criar conflitos, mas que na "hora H" (durante a invasão alemã, no último trem), parece que o filme arrefeceu, podia ir muito além.
Portanto, a história em si mesmo tendo um grande peso, como cinema a obra tem várias falhas. Por mais que seja impossível não se emocionar, ficamos com a sensação de um filme clean demais considerando que se trata de um filme sobre crianças judias sobreviventes. Não diria que é um erro de Hopkins, uma vez que ele se sai muito bem, em especial no final do filme ao conviver com a dor e, ao mesmo tempo, renegar essa pose de herói. Mas ele merecia um roteiro muito melhor, sem dúvidas.
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