Nos últimos anos, tanto o Senegal quanto a Líbia têm enfrentado conflitos sociais de diferentes naturezas, e a questão das pessoas que atravessam o Mediterrâneo para chegar à Itália está diretamente ligada a esses conflitos. Com muita sutileza, "Io capitano" mostra a vida de dois primos em Senegal, que juntam dinheiro às escondidas para tentar uma vida melhor na Europa. O problema todo estará no percurso.
Embora o Senegal tenha uma longa tradição de estabilidade política em comparação com alguns de seus vizinhos, não está isento de conflitos internos. Questões étnicas, disputas de terra e tensões entre comunidades têm surgido em várias partes do país, particularmente nas regiões do sul e do leste. O desemprego, especialmente entre os jovens, tem sido uma fonte significativa de descontentamento social. Muitos jovens senegaleses enfrentam dificuldades econômicas devido à falta de oportunidade, muito embora, relativamente falando, o país seja menos ruim que a Líbia para se viver.
É importante pontuar isso pois os meninos, em que pese o descontentamento e a tomada de decisão de atravessar para a Europa, não era de todo uma vida descartável: por diversas vezes no longa eles sentem saudade de casa, e não foi à toa que em Senegal conseguiram juntar dinheiro.
Encontrando pelo seu caminho traficantes e oportunistas, o filme começa a ficar pesado no deserto, com a cena de uma morteonde meu coração começou a disparar. A partir de então, ficamos preso na cadeira, pois não se sabe em quem mais confiar: os meninos são separados, e vemos uma estrutura de poder de dar arrepio a qualquer defensor de direitos humanos: de trabalho escravo à torturas explícitas.
Por muitas vezes é um filme difícil, mas há aqui um esforço para criar uma ou outra cena lírica, com uma fotografia que ajuda bastante. Pode-se dizer que desperta uma série de gatilhos, e não é nada fácil, mas no fundo ouve certa tentativa de higienizar algumas cenas e, com isso, por mais agonizante que seja, é um cinema lindo, visceral, que merece o reconhecimento. É meu favorito dos filmes estrangeiros no Oscar de 2024, ainda que não seja o favorito da academia.
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