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13 filmes para ver no Olhar de Cinema de Curitiba

De 7 a 15 de junho, Curitiba recebe a 6ª edição do Olhar de Cinema, festival que anualmente apresenta um rico e diversificado panorama do cinema mundial. Nesta edição, que será acompanhada in loco pelo colega Francisco Carbone, diversos filmes prometem render interessantes sessões, discussões e reflexões. Apresentamos e comentamos aqui alguns deles: 


ALIPATO - A BREVÍSSIMA VIDA DE UM MALANDRO (Khavn,  2016)

Conhecido por sua visão pessimista e caótica das Filipinas, Khavn faz de Alipato um conjunto de alegorias do apocalipse. Um filme basicamente de imagens sobre o lamento e urgência com influências do surrealismo, games e do cinema contemporâneo (Harmony Korine, Brillante Mendoza). Neste caso sobra espetáculo e falta coesão no cenário explorado. 


TODAS AS CIDADES DO NORTE (Dane Komljen, 2016)

Na memória que esqueletos de uma comunidade fantasma evoca está um protodiscurso político justificado pela solidão e desejos de seus personagens. Sempre posto de maneira que o discurso não seja epítome das ações em um grande palco, o filme não encontra outra saída senão explicitar suas intenções no mar de silêncio e ações cotidianas.


MEU CORPO É POLÍTICO (Alice Riff, 2017)

Cabe aqui questionar se o tema subverte a forma. Ainda que tudo que o filme exiba provoque discussões pertinentes acerca de gênero e liberdade, está também num molde do registro cotidiano tantas vezes usado no tal novíssimo cinema brasileiro, como em A Vizinhança do Tigre, Avenida Brasília Formosa e Vigias, por exemplo. O formalismo coloca em cheque o próprio uso da observação. 


MÁQUINAS (Rahul Jaín, 2016)

Funciona muito bem quando está em função ao que se vê, dando à imagem suas funções básicas, incluindo o norte discursivo - o valor da mão de obra na Índia ao acompanhar o cotidiano de trabalhadores de uma fábrica de tecidos. Infelizmente Rahul Jaín subestima o próprio filme e impõe o uso da palavra, criando assim personagens, discursos prontos e a distância da fabulação que a imagem criara até então. 


LA TERRA AÚN SE MUEVE (Pablo Chavarria, 2016)

Terror e dissociação. Jogo de sensações que possui momentos brilhantes e que surpreende ao se manter assim por boa parte do filme, em diálogo constante com gênero e discurso. Exceto quando se debruça em colar imagens e não significá-las. 


SOLDADO (Manuel Abramovich, 2017)

O filme acompanha o cotidiano de um soldado da banda militar e levanta a questão da desapropriação cultural em uma instituição que não está em constante ação, como é o caso do exército argentino. Abramovich registra momentos de força estética e não se inclina a desdobrar a rotina do soldado afim de um significado maior frente ao tédio.


REY (Niles Attalah)

De aura fantasmagórica, Rey é como um encontro de Raul Perrone e Jodorowsky para narrar o fim do cinema e da História através de um capítulo esquecido da história chilena. Como forma paralela de questionar valor e abordagem, Niles Attalah usa o surrealismo de forma gradual até o iminente caos. 


66 KINOS (Philipp Hartmann)

Enquanto exibia seu filme Time Goes by Like a Roaring Lion em 66 salas de cinema diferentes da Alemanha, Hartmann acompanhou as diversas formas que o cinema apresenta hoje. Dos Multiplex aos cinemas underground, dos cinemas que oferecem garçons e mesas às salas que proíbem qualquer barulho, o filme serve como um panorama - nem sempre com respostas - sobre o ritual de se ver e viver de cinema.


NAVIOS DE TERRA (Simone Cortezão)

O desejo de chegar em algum lugar, mesmo que este lugar não exista mais. Uma grande metáfora sobre saudade. E a partir disso o filme guarda um silencioso conto sobre angústia e solidão. Cortezão faz do silêncio poesia, e do cotidiano uma janela para questões sobre a frouxidão narrativa que o filme oferece.


O QUE ME MOTIVA II (Ignácio Aguero)

Na busca pelo sentido da cinematografia no cinema, Aguero, interlocutor e crente às palavras (assim como Eduardo Coutinho), expande o filme original e se permite reiniciar, arquivar raciocínios e tópicos, mas ser sempre linear no sentido que existe algo além do cinema, inclusive nos sets de filmagem. E são nos planos que a palavra se distancia que  O Que Motiva II tem força máxima. Uma experiência muito interessante no diálogo do real significado dos filmes dentro e fora das salas.


300 MILHAS (Orwa Al Mokdad)

Não há outra opção de leitura em 300 Milhas fora o poder do cinema de acender pavios que a TV e jornais não conseguem. Uma nova leitura da guerra da Síria, com conflitos maiores que reportagens de 5 minutos conseguem chegar - com desejos, arrependimentos e uma certeza muito violenta sobre o mundo. Ao mesmo tempo que se lamenta, há um sentido em tudo que Mokdad filma.


UMA PAISAGEM DE YANGTZE (Xu Xin)

É notável o diálogo de Xu Xin com o suposto desenvolvimento chinês com o número de tragédias enumeradas durante o filme. Uma Paisagem de Yangtze exibe um país apocalíptico, em boa parte de sua duração entregue somente à força da imagem e com o alicerce de uma espécie de conjunto de performances de homens frente à câmera. Munidos por sons de fábricas, tiros, bombas e fogos de artifício - representação máxima do caos de um país "desenvolvido" como recurso -, Xu Xin faz um trabalho cuidadoso sobre um momento que o país se vira para o que se escuta no filme, mas nunca para o que se vê.


GRANDE GRANDE MUNDO (Reha Erdem)

Personagens mutantes - que vão de João e Maria à Ofélia - num interessante jogo lírico de contos para contrastar com um discurso político embutido nas primeiras cenas do filme. São traumas, abusos, formas de sobrevivência que não apagam o latente sofrimento - que é a espinha dorsal do filme e suporte para todo invencionismo de Erdem. 

A programação completa do festival pode ser acessada clicando aqui

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