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Artigos

14º Festival do Rio - Comentários #1

 

 

 
 
  O Gosto do Dinheiro (Do-Nui Mat, 2012), de Sang-Soo Im

Kênia Freitas

O sul-coreano Sang-Soo Im é um caso curioso no cenário do cinema mundial. Seu novo filme, O Gosto do Dinheiro, assim como o anterior, A Empregada, mescla uma série de referências bastante diversas: do cinema clássico melodramático aos filmes de gângster, passando por citações da cultura pop e por momentos de puro surrealismo. Fato é que em nenhum dos dois filmes esse amálgama parece funcionar muito bem: não sabemos se sentimos nojo, empatia, achamos graça ou choramos com os personagens e as situações. 

Em O Gosto do Dinheiro, o ideia do diretor era fazer uma denuncia do poder dos grandes conglomerados empresariais na sociedade sul-coreana. Para isso, ele acompanha trajetória do jovem Young-Jak que trabalha para uma rica família envolvida em diversos escândalos de corrupção, suborno, sexo e assassinatos. Aos poucos, o personagem vai perdendo a ingenuidade e é enredado cada vez mais nos esquemas sujos do clã. 

Mas ao misturar tantos elementos em sua mise em scène, que vai de um gênero ao outro (da comédia ao drama, do romance à ação),  o espectador nunca se envolve de fato com a história ou com os protagonistas. Nessa estranheza de estrutura, fica difícil ser convencido pelas imagens ou pelos argumentos.

Nota: 6.0

 

Entre Vales (idem, 2012), de Philippe Barcinski 

Rodrigo Torres de Souza

Philippe Barcinski é um diretor competente, mas faço minha ressalvas quanto à eficácia de seu novo filme, Entre Vales. Esse é um drama que apresenta enredo sem qualquer novidade e um ritmo demasiadamente lento, dificultando que o público manifeste a curiosidade e o envolvimento pretendidos com a adoção de uma narrativa não-linear, que acompanha dois momentos completamente distintos da vida de Antonio/Vicente: como um pai dedicado e chefe de um lar estruturado (apesar de um casamento abalado) e como o catador renegado e amargurado de um aterro sanitário, compondo o abismo - social e emocional - sugerido no titulo.

De todo modo, a Prèmiere Brasil teve inicio com uma produção de qualidade técnica indubitável, em que Walter Carvalho brilha novamente na direção de fotografia. Um mestre! Entre Vales também apresenta como grandes méritos seu ator-mirim, o estreante Matheus Restiffe, e um ator conhecido que já se posiciona como favorito ao prêmio de melhor ator do festival: Ângelo Antônio, que protagoniza uma das cenas mais comoventes e convincentes do ano.

Nota: 6.0

Elena (idem,2011), de Andrey Zvyagintsev

Kênia Freitas

Elena é uma dona de casa de meia idade russa entediada com o casamento já sem paixão com Vladmir, um homem rico e um pouco mais velho do que ela. Contrapondo a relação morna com o marido, Elena mostra-se bastante dedicada e apaixonada pelo filho desempregado e sua família (a nora e os dois netos da personagem), sustentando a todos com o dinheiro do marido. Assim, quando  ela se depara com a possibilidade de não poder mais ajudar aos parentes, Elena não hesita em tomar uma decisão fria e definitiva.

Talvez o maior problema de Elena seja o de acreditar que seguir a cartilha dos cacoetes de cinema contemporâneo é o suficiente para se fazer um filme. Sim, as imagens são bonitas, as cenas longas e os planos fixos no ambiente funcionam com perfeição, e os personagens revelam-se por suas ações mais do que o de explicações psicológicas. Há até uma bela cena de conflito entre jovens filmado com uma confusa câmera na mão, como manda o figurino. E, ainda assim, para além da cartilha, muito pouco parece restar do filme. Não sobra nem mesmo a frieza com os personagens, que não toma coragem de ser brutal e se amortiza em um cinema apenas agradável.

Nota: 6.0

Encontrarás Dragões – Segredos da Paixão (There Be Dragons, 2011), de Rolland Joffé

Rodrigo Torres de Souza

O novo filme de Rolland Joffé abrange temas que renderiam um longa-metragem à parte, como a Guerra Civil Espanhola que antecedeu o Franquismo e a história do padre Josemaria Escrivá (Charlie Cox), fundador da polêmica Opus Dei que depois seria canonizado. No entanto, a trama é contada do ponto de vista de Manolo Torres (Wes Bentley), ex-soldado do conflito que, à beira da morte, vê a oportunidade de reaproximar-se e ganhar o perdão de seu filho Robert (Dougray Scott) pela confissão de seus pecados. Blargh!

A abordagem adotada pelo cineasta britânico torna-se equivocada não somente por sua falta de foco, mas por propiciar uma sucessão de frases e momentos tão cafonas quanto o título do filme. O filme investe numa dramaturgia rasa e caricata, digna de novelas da Televisa. Como realce, uma trilha sonora que agride os tímpanos do espectador, numa insistente – e mal-sucedida – tentativa de transformar o filme num épico grandioso. Até mesmo as críticas à interferência da Igreja no conflito, que rende um diálogo interessante no primeiro ato (um padre revela que jovens hipócritas e babacas poderiam ser aproveitados pela instituição), tornam-se óbvias e logo compõem o quadro de elementos grotescos reunidos por Joffé nessa obra Frankenstein.

De quebra, a produção proporciona uma constatação dupla (que pode ser mais interessante que o filme em si): da irregularidade da carreira internacional de Rodrigo Santoro, canastrão (devido ao roteiro) no papel secundário desse péssimo filme; e de que a correção de aspectos técnicos (fotografia, figurino, direção de arte) não livra uma obra de ser um fracasso total. Enfim, um filme horrível! 

Nota 0.5

Comentários (2)

Ricardo Nascimento Bello e Silva | terça-feira, 02 de Outubro de 2012 - 15:32

Nossa, meio para o Encontrará Dragões - Segredos da Paixão. Deve ser um péssimo filme mesmo...

Adriano Augusto dos Santos | quarta-feira, 03 de Outubro de 2012 - 10:52

Os filmes de hoje em dia em geral são muito parecidos,os mais artisticos então...direto bate nas mesmas imagens e planos.

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