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7+ | Blaxploitation

Amálgama surgida da contração das palavras black e explotation, o blaxploitation foi uma geração única e explosiva do cinema dos anos 70. O contexto cultural incendiário da época - a contracultura hippie, as lutas étnicas de Malcolm X e os Panteras Negras, a consolidação do funk/soul -  resultou em viscerais filmes de baixo orçamento com uma abordagem inovadora sobre violência, drogas e sexo nas comunidades negras pobres e marginalizadas.

Colocando um sem número de artistas negros em evidência - como os atores Richard Roundtree e Pam Grier e os mestres do funk Isaac Hayes e Curtis Mayfield - o blaxploitation, em filmes que iam do policial sério à paródia escrachada passando pelo musical psicodélíco, influenciou um sem número de gerações posteriores, sendo homenageado em obras como Jackie Brown (1997) e Django Livre (2012) de Quentin Tarantino, e Black Dynamite (2009) e Meu Nome é Dolemite (2019), entrando para o imaginário popular de toda uma geração como sinônimo de uma nova consciência e atitude. O Cineplayers listou sete filmes representativos do movimento.

07. Blácula, O Vampiro Negro (1972), de William Crain

O blaxploitation era praticamente uma indústria própria dentro do "cinemão" americano mainstream, com seus próprios astros e filmes que reproduziam sucessos antigos em novas roupagens. É o caso da versão do clássico do horror Blácula, onde William H. Marshall vive o Príncipe Mamuwalde, um nobre africano enganado pelo Conde Drácula no século XVII e trazido de volta do torpor na década de 70, vampirizando pessoas e acreditando que a viúva de uma de suas vítimas é a reencarnação do seu antigo amor. A espirituosa recriação mostra que o blaxploitation poderia até mesmo entrar nos limites do horror.

06. Super Fly (1972), de Gordon Parks Jr.

Em 1971, Gordon Parks eternizou Richard Roundtree como o policial durão Shaft; seu filho, Gordon Parks Jr., entregou no ano seguinte Super Fly, contando uma história urbana e violenta sobre um traficante que tenta se aposentar ao mesmo tempo que é perseguido por policiais da Narcóticos. Com um figurinista que coordenava espetáculos de moda, com alguns atores aditos e ex-presidiários no elenco e uma das melhores trilhas sonoras do cinema por cortesia de Curtis Mayfield, a obra capta o espírito de uma época na frente e atrás das câmeras como poucos.

05. Truck Turner (1974), de Jonathan Kaplan

O genial Isaac Hayes, não satisfeito em ter cravado um dos temas cinematográficos mais clássicos de todos com seu Theme From Shaft, também atuou no papel principal em Truck Turner, um dos mais exagerados blaxploitation - muito violento, muito sensual e muito estiloso. Em meio a muitos ângulos de câmera, figurinos chamativos e trabucos ameaçadores, Truck Turner pode soar no mínimo indelicado para alguns nos tempos atuais, mas é uma grosseria deliciosa de se assistir.

04. Space is The Place (1974), de John Coney

O filme foi lançado na crista da onda do blaxploitation, mas na verdade é uma peça Afrofuturista bastante experimental. Pense no funk psicodélico de George Clinton e seu Parliament-Funkadelic ou no reggae do produtor Afrika Bambaata e você pode começar a imaginar mais ou menos a sensação que é assistir essa doideira escrita e atuada pela lenda do jazz experimental Sun Ra, adepto da filosofia cósmica, aparecendo como a si mesmo como um potencial salvador do seu povo da opressão tirânica. Doideira do princípio ao fim.

03. Coffy: Em Busca da Vingança (1973), de Jack Hill

Após o início de carreira no cinema de terror, Jack Hill conseguiu destaque com seus blax's feministas Coffy e Foxy Brown, ambas obras protagonizadas por Pam Grier como uma heroína durona que se infiltra no mundo do crime como prostituta para tentar descobrir os assassinatos de alguém querido - a irmã no primeiro, o namorado no segundo. Grier sabia soar tanto sensual como perigosa e é musa por direito do blaxploitation, e Coffy entra nessa lista ao invés da sua contraparte por ter vindo primeiro, já que ambas as obras são bem equivalentes como thrillers policiais brutais sobre o submundo. 

02. Shaft (1971), de Gordon Parks

"Who is the man who would risk his neck for his brother, man? Shaft!", canta Isaac Hayes no clássico tema do filme. Richard Roundtree é John Shaft (can you dig it?), vendido nos slogans como "mais quente que Bond e mais frio que Bullitt". A típica trama policial é reapropriada com muita propriedade para o urbanismo caótico e violento do Harlem, e Roundtree é carismático e imponente como o lendário personagem principal, um dos grandes ícones do seu gênero. Guarda tantos momentos clássicos que Tarantino até fez uma conexão do filme com seu universo particular, já que em Django Livre a esposa do protagonista recebeu o sobrenome "von Shaft", o que denota a paixão do fã famoso. O início do blaxploitation em Hollywood.

01. Sweet Sweetback's Baadasssss Song (1971), de Melvin Van Peebles

Melvin Van Peebles escreveu, dirigiu, produziu, compôs a trilha sonora e atuou no papel principal dessa obra marginal e contracultural até o talo. Obras como Noite Sem Fim, sequência de No Calor da Noite, e Rififi no Harlem, do diretor, ator e ativista Ossie Davis, podem até ter vindo antes, mas Sweet Sweetback foi junto com Shaft a brasa que acendeu o pavio do barril de pólvora; pelos próximos dez anos, dezenas de filmes chegariam ao mercado capitalizando em cima do que essas duas obras detonaram. Ao contrário do seu irmão mais comportado feito sob a asa de Hollywood, Peebles experimenta com filtros, jump-cuts e uma narrativa limítrofe sobre um homem à margem da sociedade fugindo de policiais brancos e tudo aqui transpira transgressão, da trilha sonora do Earth, Wind and Fire em início de carreira ao do provocativo letreiro da foto ('Esse filme é dedicado à todos Irmãos e Irmãs que não aguentam mais o homem"), no filme que é talvez a obra mais "marginal herói" já parida pelos Estados Unidos.

Comentários (13)

Lucas Castro | segunda-feira, 26 de Agosto de 2013 - 18:31

mó tempo que eu quero fazer uma maratona blaxploitation. vou me basear nessa lista 😋

Augusto Barbosa | segunda-feira, 26 de Agosto de 2013 - 20:07

[2]

Dos pouquíssimos que conheço e me surpreendi de não ver na lista foi Foxy Brown.

Bernardo D.I. Brum | segunda-feira, 26 de Agosto de 2013 - 20:27

ficou a dúvida entre Coffy e Foxy Brown, Augusto.

O segundo é mais icônico, mas ambos contam histórias similares, e são dirigidos pelo mesmo diretor e têm a mesma atriz de protagonista. inclusive, se não me engano, o segundo era pra ser sequência do primeiro e só de última hora que virou uma aventura independente.

Francisco Bandeira | terça-feira, 27 de Agosto de 2013 - 00:21

Adoro alguns que tbm não estão na lista, como Black Mama, White Mama, com Pam Grier, com roteiro do ainda desconhecido Jonathan Demme! Black Caesar e Detroit 9000 (Tarantino é fã) e Cleopatra Jones com Tamara Dobson de 1973 e ainda coloco Black Samurai de 1977.

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