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Artigos

Cobertura - Indie 2013

Começou no dia 6 de setembro a décima terceira edição do INDIE. Além de Belo Horizonte, que hospeda a mostra até o dia 12 de setembro, São Paulo e Porto Alegre também receberão, entre as retrospectivas de Jean-Claude Brisseau e do chinês Wang Bing, os filmes da mostra mundial. BH também recebe a mostra Indie Brasil. Abaixo comentários sobre alguns filmes do INDIE:


A Garota de Lugar Nenhum (La Fille De Nulle Part, França, 2012)

A arte como forma empírica. Jean-Claude Brisseau usa as cativas aparições fantasmagóricas, o regular erotismo e as questões filosóficas de seus filmes para traçar diálogo com a arte em diferentes formas. Através da noção que viver oferece percepções distintas e livres, a expressão artística não deve seguir padrões e sim exigir caminhos diferentes de interpretação de quem a consome - aquele que o apetece ou o que o desafie diretamente. Leopardo de Ouro no Festival de Locarno 2012.


MOSTRA MUNDIAL

 


Jiseul
(Idem, Coréia do Sul, 2013) de Meul O.

Impressionante debut diretorial de Meul O. A partir do massacre Jeju na Coréia do Sul em 1948, supostamente encomendado por americanos, surge um retrato terno e cru. Composto de forma particular, favorecendo belos planos-sequência e metáforas imagéticas referentes à covardia, Jiseul não dispensa a relação com personagens e margens. No último ato o filme cai por seguir o que havia negado por toda duração - tomar a postura de um filme épico com nuances melodramáticos. Prêmio do júri no Festival de Sundance.




Vic+Flo Viram um Urso
(Vicet Floont vu Ours, Canadá, 2013) de Denis Coté

Não há princípios quanto à consciência crítica de Denis Coté; portanto, a narrativa de Vic+Flo Viram um Urso é aberta o suficiente para engendrar gêneros e traçar um panorama extremamente severo sobre o Canadá, nação que exerce função de suporte a países vizinhos - em especial os EUA - e pouco recebe de volta. Confeccionado por boa parte em planos fixos, Coté dialoga ironicamente com tradicionalismos de um conto de fadas: mágica e terror. Urso de prata no Festival de Berlim.



Desejando a Chuva (Chunmeng, Hong Kong, 2013) de Lina Yang

O grande trunfo do filme de Lina Yang é o de legitimar em vias assombrosas os anseios de uma mulher casada e com a vida estabilizada. Nelas, Yang dialoga com a religião, o desejo sexual e o tédio da rotina em uma cidade caótica. Em tom crescente, as frustrações viram monstros e o sexo, um embuste. Menção especial no Festival de Hong Kong.
 
 

Eu era Mais Dark (I Used to be Darker, EUA, 2013) de Matthew Porterfield

No processo de separação de seus pais, Abby recebe a visita da prima Taryn e encontra um mundo de indefinições; Eu era Mais Darktem em seu eixo principal o incômodo de Abby ao perceber que sua vida não está mais em zona de conforto. Matthew Porterfield usa diversas representações de refúgio para transparecer o fim. Um filme delicado, preso ao cotidiano deste rastro de família e completamente solto de convenções dramatúrgicas. Prêmio de melhor direção no BAFICI.

 


Heli
(Idem, México, 2013) de Amat Escalante

Prêmio de melhor direção no último Festival de Cannes, Heli oferece um dos plano-sequência mais interessantes dos últimos anos. Porém, tal inventividade apresentada no início do filme não perdura até o fim. Partindo do vácuo moral tão presente no cinema mexicano contemporâneo, Amat Escalante escolhe o terror vivido por moradores de Guanajuato - vindo da constante presença de traficantes e policiais corruptos no local. O terreno infértil que circunda os personagens, tão enigmático quanto depreciativo, acentua o lado panfletário do filme, que está sempre em função da tragédia.

 Upstream Color (Idem, EUA, 2013) de Shane Carruth

Segundo filme da carreira de Shane Carruth, Upstream Color parte dos sentidos e do preceito bíblico de criação e ciclo em metáforas. Composto por poucos diálogos e diversas representações visuais, o filme tem força na forma como Shane desenha o diálogo implícito como seu ponto de partida. Dele, a relação de poder, domínio e livre-arbítrio rege o intrigante - e cambaleante - fio narrativo. Integrante da mostra "Panorama" do Festival de Berlim.
 

Eu Peguei uma Gata Terrível (Koppidoi Neko, Coréia do Sul, 2012) de RikiyaImaizumi

Parte da seleção do Festival de Edinburgh, o terceiro longa-metragem de RikiyaImaizumi traz a relação entre narrador e leitor/espectador através de uma rede de intrigas que revela visão pessimista sobre o amor e suas mutações nos dias de hoje. Baseado no livro homônimo, o filme segue método simples, sem sair do planos fixos com longos diálogos ou usando o tradicional plano/contra-plano. Imaizumi mostra desconforto com o rumo de sua história e aposta em inserções brutas da proposta inicial, que aos poucos é diluída e justificada como narrativa.

 

 
Odayaka (Odayaka na Nichijô, Japão/EUA, 2012) de Nobuteru Uchida

Com certo exagero em termos melodramáticos, Nobuteru Uchida faz de Odayaka um exercício em dois atos implícitos. O primeiro, infinitamente mais interessante, mostra o desconforto através ideia de segurança divulgada pelo governo japonês após terremotos e o iminente perigo vindo da radiação. Neste ponto o filme lembra o singelo Terra da Esperança, de Sion Sono. Ainda no primeiro ato há também a questão da normalidade dentro de atos revolucionários. A mesma normalidade segue no segundo ato, quando Uchida toma o caminho mais fácil, onde submissão e desespero estão à favor de uma narrativa ante o discurso.
 



 GFP Bunny (Thalliumshoujo no dokusatsunikki, Japão, 2013) de Yutaka Tsuchiya

Partindo da comparação entre a dissecação de sapos e a violação da natureza humana, Tsuchiya faz de GFP Bunny um exercício híbrido da ficção, documentário e reportagens sensacionalistas. A ótica é irônica sobre o fim da identidade através de dispositivos eletrônicos, cirurgias plásticas e a influência que status e vaidade causam na sociedade. A proposta transparece metodismos e uma direção preguiçosa. Logo GFP Bunny se transforma em martírio. Integrante da mostra "Bright Future" do Festival de Rotterdam.


INDIE BRASIL

 

O Gorila (Idem, Brasil, 2012) de José Eduardo Belmonte

Esqueça o conto de Sérgio Sant'anna que batiza o filme. O roteiro escrito por Claudia Jouvin se concentra em um thriller ritmado e com boas inserções de humor e deixa de lado a análise da solidão da vida urbana ou o lado patético dO Gorila, vivido por Otávio Muller. Aqui, José Eduardo Belmonte não está intencionado a desnudar identidades ou laços folclóricos de metrópoles e sim encaixar peças num quebra-cabeças aberto ao sonho, à elasticidade temporal e ao deboche, característica do cinema do diretor. Um ótimo exemplo da diferença entre literatura e cinema como forma de linguagem. Prêmio de melhor ator para Otávio Müller no Festival do Rio 2012.

 

A Floresta de Jonathas (Idem, Brasil, 2012) de Sérgio Andrade

Passado nos arredores da floresta amazônica, o filme de Sérgio Andrade utiliza  princípios comuns do cinema asiático principalmente na comunicação com o sobrenatural.  Este ponto abre discussão sobre a nova forma de cinefilia, o consumo de flmes e a função da imagem ante a linguagem.  A Floresta de Jonathas pauta a perda da identidade local a partir de corpos estranhos. E são muitos os que rodeiam a narrativa, desde os estrangeiros e sua relação díspar com o antro turístico, o urbano cortando o que é rural à própria presença de Jonathas dentro da mata. Nela, os tradicionalismos duelam com  o "novo" e a ideia de poder e condenação. Filme da Première Brasil do Festival do Rio 2012.

 


Zombio2: Chimarrão Zombies
(Idem, Brasil, 2013) de Petter Baiestorf

Talvez o mais ativo dos representantes do cinema de bordas no Brasil, Petter Baiestorf repete o método de filmes emblemáticos como A Curtição do Avacalho e Raiva, com sangue, sexo e anarquia. As convenções como forma de crítica e o discurso pró realização de filmes sem o auxílio de leis de incentivo e grandes aparatos saturam Zombio 2 rapidamente. Para os não familiarizados com a filmografia de Baiestorf, é uma boa oportunidade para conhecer o trabalho do diretor de Palmitos, interior de Santa Catarina, responsável por bem humorados curtos-circuitos justificados como filmes de terror. Seleção oficial do FantasPoa 2013.

Comentários (4)

Daniel Dalpizzolo | segunda-feira, 09 de Setembro de 2013 - 09:09

brisseau é naturalmente o grande destaque do indie (também fiz uma mini maratona em casa nos últimos dias pra me preparar pra ver fille de nulle part), mas eu arriscaria outros filmes. essa lista do pedro apresenta dicas bem interessantes.

Thiago de Oliveira | segunda-feira, 09 de Setembro de 2013 - 10:44

Daí só vi Upstream Color. Dos dez melhores do ano até agora.

Caio Lucas | terça-feira, 10 de Setembro de 2013 - 05:54

Resumo do ano: Pialat e Brisseau. Tenho chorado demais.

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