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Cobertura Cine PE - Dia 1: Antigo, porém novo


Eu sei, o Cine PE está na 22a. edição, logo é sim um dos festivais mais tradicionais do Brasil, além de longevo. Mas pra mim, que estou conhecendo não só o festival como também a cidade que o abriga, tudo é novo... e tudo de bom sabor, tudo é descoberta, tudo revigora. Andar pelas ruas da cidade, pelo centro, por Boa Viagem, é saber que o cinema que redesenhou a cinematografia brasileira vai além das telas. Ele é um corpo vivo, pulsante e não é apenas sotaque e celulose; de repente somos arremessados pra frente da casa de Clara, literalmente, e Sônia Braga pode sair a qualquer momento do Aquarius

O primeiro dia do festival teve esse clima de descoberta e de convites inesperados. Como estarei no júri da crítica escolhendo os melhores longas e curtas da edição, a ideia de cobertura que eu e o Cineplayers havíamos pensado deixou de fazer sentido. Então ao invés de fazer análises fílmicas de cada um dos filmes selecionados, estará no ar uma espécie de diário de bordo me acompanhando pelos caminhos de Recife e colocando de maneira menos direta minha relação com os programas apresentados, tanto na competição quanto fora. 

Esse ano o festival homenageia duas mulheres muito especiais, a cineasta pernambucana Katia Mesel e a grande Cássia Kis. Katia com 50 anos de carreira, foi a primeira cineasta a competir em um festival de cinema no Brasil e terá uma retrospectiva com 8 de seus filmes sendo exibidos na programação. Já Cássia não terá mostra, mas virá receber o troféu e a homenagem pelos quase 40 anos de carreira, uma das mais bem estruturadas na contemporaneidade. A homenagem a primeira já aconteceu no primeiro dia e mostrou uma mulher cheia de vigor e com muita vontade de entregar mais, dessa história que se confunde com a própria cultura pernambucana.

O Cine PE conta com três mostras fixas e competitivas, e uma delas é dedicada exclusivamente a material do estado. A Mostra de curtas locais nesse primeiro dia trouxe os filmes Dia-Um, de Natália Lima, e O Consertador de Coisas Miúdas, de Marcos Buccini, duas animações bem rápidas, a primeira bem sucinta e a segunda até reflexiva. A mostra de curtas em caráter nacional também contará com filmes locais em sua lista, mais precisamente 3 dos 16 selecionados, e o primeiro já passou hoje,  Sob o Delírio de Agosto, de Carlos Kamara e Karla Ferreira, uma espécie de paranoia visual que se constroi a partir das lembranças do protagonista de um trauma da sua infância por uma dificuldade econômica no qual ele se encontra. Os outros dois foram Marias de Yasmin Dias e Abismo de Ivan de Angelis, e ambos mexeram com a plateia de alguma forma. O primeiro pelo retrato direto a partir do feminicidio sofrido inclusive pela diretora e sua família, e o segundo pela forma surreal com o qual ele resolve falar de aprisionamento através da rotina.

Pra encerrar a noite em caráter de abertura da Mostra, tivemos a pré estreia do candidato a blockbuster Mulheres Alteradas, de Luis Pinheiro e com um quarteto de protagonistas cheias de talento: Deborah Secco, Alessandra Negrini, Mônica Iozzi e Maria Casadevall. Vindo de inúmeros seriados (incluindo Lili, a Ex, também estrelado por Maria), Pinheiro respondeu no debate a perguntas relacionadas ao feminismo e em porque ele dirige tantos produtos protagonizados por mulheres e sobre o universo delas. O filme estreia dia 21 e breve terá um texto dele aqui. Além dele, o filme foi precedido pelo curta Desculpe me Afoguei, filme dirigido por profissionais do Médico sem Fronteiras. Uma animação super elaborada que trata da imigração clandestina europeia hoje, emocionante e cheia de uma amarga beleza. Não a toa foi o melhor filme do dia, que elevou bastante a programação.

Amanhã tem mais boletim de notícias sobre a seleção do Cine PE 2018, das surpresas e dos debates dos realizadores. Até a próxima!

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