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Desventuras no Festival do Rio - 2ª Parte

Segundo dia de festival. Mais uma maratona se inicia. Desta vez São Pedro colaborou e o dia amanheceu límpido e agradável. Mas, ao acordar, percebi que seria impossível estar presente na primeira sessão programada do dia, Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais, animação dos mesmos realizadores do delicioso A Fuga das Galinhas, às 10 horas da manhã. Uma pena, mas o dia anterior tinha sido muito puxado e não há organismo que agüente.  


Fachada do Odeon BR

O primeiro do dia ficou mesmo para o mais aguardado por mim de todo o festival. Crash – No Limite, estréia na direção de Paul Haggis (roteirista de Menina de Ouro) foi aclamado nos Estados Unidos e já é considerado um dos potenciais indicados ao Oscar do ano que vem. E o filme, da mostra Panorama Especial do Festival, é tudo isso e muito mais. Tenso desde o primeiro minuto, deixa aquela sensação incômoda ao final da projeção – e não era por menos, já que trabalha com o perigoso tema dos conflitos raciais em Los Angeles, entrelaçando várias histórias paralelas em um típico filme-painél, como Robert Altman fez em Short Cuts – Cenas da Vida e Paul Thomas Anderson em Magnólia. O impresssionante trabalho de desenvolvimento dos personagens dá margem para desempenhos únicos na carreira de vários atores (Sandra Bullock, Thandie Newton, Ryan Phillippe, Matt Dillon e vários outros, com destaque maior para Terrence Dashon Howard, incrível). Resumindo, o filme é imperdível, e ao final recebeu uma salva de aplausos.


Fachada frontal do Odeon BR

Já para o segundo filme do dia, também da mostra Panorama Especial, eu tinha muitas reservas. Querida Wendy, do Thomas Vinterberg, famoso pelo seu segundo filme, Festa de Família, considerado o marco maior do movimento Dogma 95. O meu problema era exatamente com o filme anterior do cineasta, o oco e pretensioso Dogma do Amor, que vi no festival dois anos atrás. Mero engano meu. Querida Wendy é ótimo e toca no assunto tão em voga no Brasil atualmente: o porte de armas de fogo (Crash – No Limite também trabalha em cima do tema). Com um protagonista extremamente competente e carismático (Jamie Bell, o garotinho de Billy Elliot), o filme é mais um ataque de Lars Von Trier aos Estados Unidos (ele é responsável pelo roteiro). Uma espécie de fábula belicista centrada em Dick (Bell), jovem de uma pequena cidade americana que se fascina por uma arma de fogo (a Wendy do título) e que funda uma espécie de sociedade secreta baseada no pacifismo com amigos desajustados que passam a adquirir o mesmo fascínio por armas. Só que um acontecimento acaba por levá-los a um caminho bastante diferente do planejado. Humor negro afiadíssimo e um senso estético pop que jamais pensei que Vinterberg pudesse ter, o filme também foi recebido calorosamente pelo público presente no cinema.

Eu não tinha certeza ainda qual seria o próximo filme do dia. Tinha programado Achados e Perdidos, do brasileiro José Joffilly, que acabou sendo cancelado para a exibição do grande público – a sessão ficou restrita apenas aos convidados. Para tapar o buraco, duas opções: o documentário A Educação Americana, que eu estava louco para ver (e que alguns amigos que viram adoraram) ou O Baile das Gatas Selvagens, também documentário, só que da Mostra Gay. Preferi assistir ao segundo, uma péssima escolha afinal (ainda não sei o porquê da decisão). Arrastado, mal contado e difícil de acompanhar, só deve agradar mesmo a um público bem restrito. É a história de luta das mulheres homossexuais durante parte do século XX, com relatos de quatro mulheres de diferentes idades. O filme suíço, que passou na mostra Panorama do último Festival de Berlim, arranca algumas risadas (uma das entrevistadas é particularmente engraçada), e nada mais. Outro filme sonolento, mas uma experiência válida, já que foi a primeira vez que fui ao cine Palácio, um dos mais antigos do Rio – a decoração do cinema está particularmente 'alegre', com balões nas cores do arco-íris e paetês espalhados pelo chão – o cinema abriga os filmes da mostra Gay.

Decoração "alegre" do Cine Palácio

Já o quarto filme do dia foi no Odeon BR, o templo cinematográfico do Rio de Janeiro e o mais famoso do Brasil. Ainda não tinha pisado lá neste Festival, e é um prazer enorme estar por lá. Belo, classudo, imponente, um marco. O filme foi Sra. Henderson Apresenta, novo trabalho do conceituado diretor Strephen Frears (de Minha Adorável Lavanderia e Os Imorais). Frears, inclusive, estava certo para acompanhar a sessão de gala, mas acabou não vindo. Quem prestigiou foi a bela atriz inglesa Kelly Reilly, conhecida aqui no Brasil pelo trabalho em Albergue Espanhol. Reilly subiu ao palco antes da apresentação do filme e dirigiu gentis palavras ao público, demonstrando certa timidez. E o editor aqui, que não é bobo nem nada, tirou fotos dela e com ela (não fiquem com inveja, rapazes...). O público foi ao delírio com o filme (e com Reilly, que volta e meia fica nua em cena), uma comédia com toques dramáticos que já considero o melhor trabalho da carreira do diretor junto a Ligações Perigosas. Mérito também de Judi Dench, que revela uma faceta divertida até então inexplorada pelo cinema e que, desde já, a credencia a uma vaga ao Oscar de melhor atriz ano que vem – este é o melhor trabalho dela em toda a sua carreira cinematográfica.


Kelly Reily apresentando o filme.


Kelly Reilly e um batalhão de fotógrafos

O senso de humor tipicamente inglês funciona como uma maravilha e a platéia chegou a aplaudir durante várias partes do filme, que conta a história real de Laura Henderson, que viúva aos 70 anos ousou abrir um teatro apresentando nudez em seus espetáculos, após a Primeira Grande Guerra. É outro para estar no panteão dos melhores do ano (acho que talvez só estréie ano que vem por aqui).


Mais um pouquinho de Kelly Reilly

Finalizando o dia, ainda tinha um outro filme programado pra assistir (a aventura Serenity – A Luta Pelo Amanhã), mas como eu estava cansado e com sono, acabei desistindo. Era melhor descansar para o terceiro dia de Festival, que prometia ser espetacular, com os novos filmes do John Madden (de Shakespeare Apaixonado), Marc Forster (de Em Busca da Terra do Nunca) e Gus Van Sant. Até a próxima parte do diário!


Andy e Kelly Reilly


Andy, amigos e Kelly Reilly

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