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Diário do Festival do Rio 2015 - Dia 1

O primeiro dia de Festival do Rio (consequentemente, o primeiro capítulo de qualquer jornalista que faça um "diário de bordo" como eu pretendo voltar a fazer esse ano) é praticamente igual pra todo mundo: você mata a saudade das coisas boas e das ruins também, e acreditem, uma não vive sem a outra, feliz ou infelizmente. Se por um lado você começa o mergulho em mais de 50 filmes que verá em duas semanas, você também, como em todo ano, perde uma ou duas sessões do primeiro dia na ingrata tarefa de buscar sua credencial de imprensa (ou seu passaporte de cinéfilo); se você reencontra amigos adorados muitos de outros estados que vieram se juntar a você na maratona, você também encontrará desafetos igualmente longínquos ou mesmo de perto, tais como 'falsianes', ex-namorados e coisas do tipo. Enfim, a dor e a delícia de ser o que é.

Esse ano o Festival do Rio está passando por uma grande reformulação (algumas motivadas pela crise), mas que fez o número de filmes cair um pouco (cerca de pouco mais de 50) e o circuito cair um bocado, limitando a vida dos cinéfilos a espaços de locomoção ainda mais reduzidos que em anos anteriores. Um exemplo é o bairro de Botafogo, que já chegou a contar com 7 salas disponíveis para o Festival e esse ano só terá 1. Essa adaptação meio que forçada obrigou muita gente a diminuir sua grade de interesse e reduzir muito seu número de filmes vistos ao final dos 14 dias. Outra coisa que mudou é o local utilizado para a Central máxima do evento que recebe o Rio Market, a central de entrevistas com os convidados, workshops e muito mais; sai a zona portuária da cidade e entra o simpático bairro do Flamengo, o que em matéria de locomoção melhorou bastante. Além disso, temos a volta do charme do Odeon, que volta a receber as sessões de debates dos filmes nacionais da competição da Première Brasil.

Vamos começar as resenhas dos filmes assistidos? Amanhã eu conto mais do meu dia a dia pela cidade maravilhosa nessas duas semanas de imersão total na sétima arte.



Seu Pior Pesadelo

Longa alemão que integra a mostra Midnight Movies, mostra direcionada a filmes fantásticos de alguma forma, terror, ficção, longas bizarros de todas as cores e formas, e onde esse título se agarra. A trama não vale a pena entregar muito pelo risco de revelar umas particularidades do entendimento de seus "símbolos" (mesmo que eles sejam mais que óbvios), mas posso adiantar que a adolescente Tina se embebeda e toma alguns alucinógenos numa festa pauleira com seus amigos, e lá pelas tantas enquanto alivia suas necessidades, vê algo bizarro atrás de uma moita, e a partir daí sua vida se transforma no inferno na Terra, pois ela não para de ser assombrada por uma criatura que só ela vê e ouve, levando todos a crerem na sua gradual perda de sanidade.

O diretor Akiz está presente na cidade para apresentar seu trabalho que deve de fato ter chamariz junto ao público jovem graças ao elenco jovem e bonito, a montagem frenética e estroboscópica (que o filme alerta na sua abertura, e também quanto ao seu jogo de luz visual incessante) e aos elementos do cinema de horror presentes na obra, mas a verdade é que o filme tem uma ideia muito ingênua de mandar sua mensagem, que fica clara bem rápido mas que é tratado como uma surpresa inacreditável lá pelas tantas, algo sobre o trinômio "dependência química + alcoólica + anorexia" serem um dos grandes males da juventude atual, principalmente a feminina. Os elementos podem ser curtidos sem maiores reservas pela galerinha e também pelo público menos exigente e que não ligue para a ausência de um tratamento de roteiro mais elaborado.

De fato é um filme que se presta muito mais à proposta de ser meio "trashzão" do que necessariamente ser um excelente produto cinematográfico. A montagem espertinha realmente é um plus e o altíssimo volume de sua banda sonora (também na abertura é aconselhado que o filme seja visto na sua capacidade máxima, o que a sala de exibição corroborou) acabam criando uma atmosfera divertida e escapista de passatempo rasteiro. A protagonista não ajuda muito em matéria de talento, mas o tal Akiz mostra saber pelo menos prender atenção durante 1:20, embora eu ainda ache que um curta desse material seria excepcional.

Nota: 5,0
Título original: Der Datchmarh



Madonna

Ao sair da sessão, ao menos uma amiga tentava relativizar as questões do filme de Shin Su-Won (que também está presente no evento), mesmo sem ter gostado do resultado final. A verdade é que chega um momento (que nem é somente no final) que nada mais importa, nem se a atriz é eficiente, ou se a fotografia tem momentos, ou se a trilha é mais delicada que o todo; o problema de 'Madonna' é exatamente esse, o todo. Não é difícil dizer onde começou o erro, porque um roteiro tão ruim jamais deveria ser filmado ou mesmo apoiado, e saber que um filme desse calibre competiu na mostra Un Certain Regard de Cannes só deixa claro como as curadorias estão cada vez mais loucas, e nem podemos responsabilizar a nossa somente, já que o material vem de aposta mais qualificada externa. Por que???

O filme acompanha duas narrativas que correm paralelas (e que acabam abrindo seu leque para ao menos outros dois personagens fortes), começando em uma cuidadora - que é alguém ainda abaixo de uma enfermeira - que recebe a incumbência do filho do dono do hospital onde acabou de ser empregada de investigar o passado de uma jovem grávida que acabou de entrar em coma por lá (não esperem justificativas pra nada; ou elas são estapafúrdias, ou simplesmente não existem). Nesse processo, ela toma contato em forma de capítulos da vida dessa criatura, que literalmente leva surras da vida desde a infância.

Bem, isso é um resumo dos mais concisos, porque a vida de ambas sofre revezes cena a cena, "mexicanizando" essa trama horrorosa cada vez mais, com diálogos constrangedores, vilões maus feito pica paus, um elenco que não tem muito o que fazer no meio do caos vagabundo e apenas se conforma em serem estereótipos machistas e gordofóbicos, corroborando para o pavor total a lembrança de ser dirigido por uma mulher. Montagem ruim, trilha sonora lacrimosa com um pianinho tocando em momentos específicos, não encontro salvação para essa produção coreana em lado nenhum para onde olho, e sigo percebendo que talvez o melhor para ele seja servir de exemplo de como não escrever um roteiro, principalmente.

Nota: 0,0
Título original: Madonna

Comentários (33)

Daniel Borges | terça-feira, 06 de Outubro de 2015 - 18:32

82% da galera que comentou aqui já me comeu (obviamente sexo virtual)

Rodrigo Giulianno | terça-feira, 06 de Outubro de 2015 - 23:36

95% acham que o Carbone é mais doidão que o Jorge Kajuru e Lobão juntos...

Felipe Ishac | quarta-feira, 07 de Outubro de 2015 - 17:43

Eu tenho 15% de chance de pegar a mina que falou que era Bi no grupo.

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