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Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro 2005

Em uma noite onde se destacaram a desorganização, a falta de aplausos, o reconhecimento ao grande trabalho de Daniel de Oliveira e a consagração de "Cazuza - O Tempo Não Pára", deu para perceber que a falta de critério ainda reina no mundo cinematográfico brazuca.

Em um palco estranho montado na Marina da Glória (Rio de Janeiro), a festa começou bem com o grupo ZE - Zenas Emprovisadas, fazendo a apresentação de todo o cerimonial e parodiando "Cheek to Cheek" (música cantada originalmente por Ella Fitzgerald e Louis Armstrong). Mas a coisa começou a desandar com a subida ao palco do presidente da Academia Brasileira de Cinema, Luiz Antônio Viana, e da representante da empresa patrocinadora do evento (o que sempre coloca a credibilidade do evento em dúvida), ao som da música de John Williams para Guerra nas Estrelas. A representante da empresa patrocinadora do evento (não vou citar qual, claro) ainda teve a coragem de dizer, em seu discurso (com papel na mão), como original e criativa foi a votação - pelos acadêmicos!

A disposição do palco foi um problema à parte. Microfones opostos faziam com que apresentadores e premiados falassem um de costas para o outro, tornando-se constragedor diversas vezes. Inclusive, alguns premiados chegaram a olhar para trás antes de iniciar seu discurso. Outra questão constrangedora foi a escassez de aplausos por parte dos presentes para os vencedores - tirando a vitória de Fernanda Montenegro (onde todos ficaram de pé pela única vez), a de Daniel de Oliveira (que não estava presente) e a homenagem à carreira de Dercy Gonçalvez, de resto não se ouviram maiores demonstrações.

Quanto aos vencedores, a vitória de "Cazuza - O Tempo Não Pára" foi tão previsível quanto injusta. Em um ano apenas razoável para o cinema nacional, a melhor produção saiu de mãos abanando: "Contra Todos", um exercício cinematográfico impactante e que merecia ser mais visto - o que talvez implodiu sua premiação.

"Narradores de Javé", de Eliana Caffé, recebeu merecidamente o prêmio de roteiro original e o de ator coadjuvante, para Gero Camilo. Já "Olga", o filme mais promovido do nosso cinema ano passado, recebeu apenas prêmios técnicos, e também merecidos: direção de arte, figurinos e maquiagem. O melhor documentário ficou com "O Prisioneiro da Grade de Ferro", na provável categoria mais disputada. "Dogville" recebeu o prêmio de melhor filme estrangeiro, em mais um constrangimento - o pessoal do ZE chegou a dizer a brincar dizendo que Nicole Kidman chegou a garantir presença no evento!

"Redentor" faturou o prêmio de melhor direção para Cláudio Torres, para orgulho de sua mamãe, Fernanda Montenegro. "Nave Mãe" recebeu o prêmio de curta metragem de animação, "Da Janela do Meu Quarto" o de melhor curta de documentário e "A História da Eternidade", o de melhor curta de ficção. E Daniel de Oliveira recebeu o prêmio de melhor ator por "Cazuza", na maior barbada da noite e também o mais merecido. Não esquecendo que uma das maiores atrizes brasileiras da atualidade, Laura Cardoso, venceu a categoria de atriz coajuvante por "O Outro Lado da Rua", no discurso mais emocionado da noite.

Injustamente, Fernanda Montenegro recebeu o prêmio de melhor atriz por "O Outro Lado da Rua", deixando as superiores Camila Morgado e Leona Cavalli sem prêmio. Mas o que não deu para entender mesmo foi a quantidade de prêmios que "Cazuza" recebeu. Roteiro Adaptado, Montagem (prêmio estranhíssimo, já que a montagem do filme é deficiente), fotografia ("Narradores de Javé" era superior, mas o fotógrafo de "Cazuza", Walter Carvalho, é um dos co-diretores, o que explica o prêmio), Som (que deveria ter ido pra "Olga"), Trilha Sonora (todos os outros indicados eram superiores), Ator e Melhor Filme.

Dercy Gonçalves teve sua carreira rapidamente resumida no telão e recebeu o prêmio pelo conjunto de sua obra, e não esqueceu dos seus inevitáveis e divertidos palavrões para agradecer. Foi um dos momentos mais engraçados da noite, que ainda teve um supostamente embrigado Daniel Filho dando um showzinho particular em cima do palco. Mais um mico em uma noite de tantas situações constrangedoras.

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