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Melhores Filmes de 2013 - Leitores

Após a lista dos Editores com Os Melhores Filmes de 2013, chegou a hora de apresentar os escolhidos na opinião de você, usuário e leitor do Cineplayers.

A votação foi realizada num tópico em nosso fórum, que ficou aberto durante 11 dias. Foram computados um total de 56 votos, sendo 53 votos válidos e apenas 3 inválidos (por infringirem algumas das regras, explicitadas no tópico de votação).

A posição dos filmes na lista abaixo corresponde à soma de pontos adquiridos de acordo com as suas respectivas posições nas listas individuais. Foram 94 filmes diferentes listados por todos os votantes.

A disputa foi um pouco acirrada, como poderão ver com os pontos abaixo. Filmes como Amor (168 pontos), O Lado Bom da Vida (151 pontos) e Capitão Phillips (139 pontos) bateram na trave. O badalado O Hobbit: A Desolação de Smaug fez apenas 62 pontos.

Com o fim da estatística, segue a lista:

 

10. Os Suspeitos - 198 pontos

Partindo de um roteiro não mais que funcional, Denis Villeneuve se arrisca sem medo na busca por extrair o máximo de um thriller policial whodunit sobre sequestro de crianças. Um desafio que ele aceita sem se esquecer dos prazeres mais diretos do gênero - e também sem abrir mão de artifícios, apesar de, na maior parte do tempo, bem manejados. O filme vai ficando cada vez mais tenso à medida que a desestabilização moral de Keller Dover (Hugh Jackman), pai de uma das meninas desaparecidas, contamina a narrativa inteira, fazendo do contexto da "guerra travada contra Deus" dos personagens algo realmente substancial, e isso exige muita habilidade e cuidado no tratamento da dramaturgia. Tanto que o que acaba sendo o forte de Os Suspeitos mesmo é a direção de elenco, auxiliando a densidade do filme com as emoções certas no tempo certo.

- Por Vinícius Aranha

 

9. Azul é a Cor Mais Quente - 279 pontos

Premiado merecidamente com a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2013, Azul é a Cor Mais Quente chegou aos cinemas de terras brasileiras cercado de expectativa, discussões, e até mesmo polêmicas, sobretudo pelas cenas de sexo. Então, como não foi grande a satisfação de assistir a tamanha beleza no cinema! Acompanhando a história da jovem Adèle (a impressionante Adèle Exachorpolous, naquela que foi possivelmente a melhor atuação feminina do ano passado), em momentos de descobertas pessoais e amadurecimento, especialmente a partir de seu envolvimento com Emma (a ótima Léa Seydoux), o diretor Abdellatif Kechiche fez um filme que transborda sentimentos e naturalidade em cada cena, ao longo das quase 3 horas de duração (que passam voando, por sinal). Amor, desejo, desespero, traição (será que foi só de um lado?), preconceito, aceitação, amizade, e muitos outros temas perpassam toda a obra de Kechiche. Sem nunca cair em artificialismos, profundo, contundente e maravilhosamente bem interpretado, Azul é a Cor Mais Quente foi facilmente um dos grandes filmes de 2013.

- Por Douglas Braga

 

8. A Caça (281 pontos)

Vindo com temática semelhante de ótimos filmes, como “Infâmia”, “As Bruxas de Salem” e “Desejo e Reparação”, o filme ganha originalidade na maneira com que Vinterberg trabalha seu protagonista, vivido brilhantemente por Mikkelsen. O primeiro questionamento já vem logo relacionado com a época em que se passam os outros filmes: será que a sociedade realmente evoluiu com o passar dos anos? E é visceral a maneira como são respondidas essas perguntas ao longo da projeção. Em determinado momento, quando acontece a inversão de papéis (o protagonista que tem como hobby caçar na floresta, logo vira a presa na sociedade repleta de “animais”), a obra ganha momentos de tensão, desespero, angústia - enquanto o protagonista vira alvo de humilhações e agressões. Percebemos o quão longe aquilo tudo foi, restando apenas dor e lamento pelo personagem de Mikkelsen. Ainda sobra tempo para mais questionamentos: seria errado mostrar o real significado de justiça às crianças? Seria demais mostrar qual o real peso de uma mentira para aquelas que são o real significado de inocência? A Caça nos dá respostas limpas e corajosas, além de desmitificar a representação de inocência nas crianças na nossa sociedade. Por fim, percebemos a hipocrisia tão costumeira nos dias atuais. E mais um questionamento vem à tona: como conviver com pessoas que, quando você precisou, lhe viraram as costas, mas agora que tudo passou, fazem questão de sua presença? No final inquietante, percebemos que Lucas não é vítima de uma mentira ou da sociedade manipuladora, que se aproveita de especulações para fazerem julgamentos morais. Lucas é tão culpado como aqueles que o julgaram e a última cena demonstra bem isso, funcionando quase como uma “Lei de Murphy”: não há luz no fim do túnel para aqueles que não sabem enxergá-la.

- Por Francisco Bandeira

 

7. O Mestre (294 pontos)

Lancaster Dodd, discursando no casamento de sua filha, se utiliza de uma metáfora para caracterizar o que tinha se tornado, para ele, o matrimônio após o advento d'A Causa: um dragão domesticado. Enquanto a simples anedota é narrada, Anderson intercala os planos que centram Dodd e os que enquadram Freddie Quell - o qual de início ri, mas depois revela uma pequena centelha de desconfiança - de modo a estabelecer o embate que desencadeará todo o filme, composto por uma série de tentativas por parte do líder d'A Causa de controlar os ímpetos desse homem cujo desarranjo interior, que o impede de se encaixar em qualquer grupo, atinge a exterioridade de seu corpo, deformando-o de tal modo a deixar torto até o seu sorriso. Porém, talvez mais interessante que essa relação entre domador e criatura, é a que existe entre Dodd e sua esposa - Anderson faz poucos close-ups em Adams, mas o posicionamento de sua personagem nos planos não deixa o espectador esquecer da influência desta sobre o marido, e a meiguice inerente de suas feições é a cobertura perfeita para o calculismo da grande jogadora que ela na verdade é. Seja filmando Dodd, intolerante como sempre com aqueles que duvidam de sua teoria, no centro do quadro e em contra-plongée, sem deixar de fora a nuca de Peggy - mesmo embaçada - ao canto, seja na simples alternância de plano e contraplano no primeiro interrogatório que Dodd inquire a Quell, Anderson demonstra o especial interesse na triangulação de poder estabelecida entre seus personagens e a incapacidade latente de seu protagonista em se encaixar nesse jogo - ou em qualquer outro.

- Por Augusto Santos Filho

 

6. O Som ao Redor (298 pontos)

De acordo com Jameson, uma das mais fortes tendências do pós-modernismo é o seu trabalho de nostalgia, rebuscando velhas tendências/conceitos/imagens dentro dum contexto novo, reinterpretado pelo olhar de uma sociedade multicultural, com todos os acessos a todos os meios — e, no contexto brasileiro, ascendente neste início de década. Kleber Mendonça Filho em O Som ao Redor faz um filme disfarçadamente clássico, solene e meditativo, mas essa estética é em si mesma uma contradição: o filme é um exercício em apropriação. Nos seus 120 minutos, KMF joga um olhar ao passado em diferentes formas e texturas: o passado político Pernambucano, o cinematográfico e, por tabela, o cultural. Por ser um olhar positivo, é um filme sobre o impossível, mas como disse Søren Kierkegaard, aquele que acreditou no impossível foi o maior de todos. Mas nesse jogo de passado e presente há uma mistura, um questionamento: mesmo que KMF seja nostálgico em sua análise da sociedade pernambucana, há um sentimento ambivalente, ou mesmo de culpa. O presente precisa ser castigado. É um beco sem saída. Pois assim está escrito: “Se eu falar, a minha dor não cessa, e, calando-me eu, qual é o meu alívio?”

- Por Victor Z. Bruno

 

5. Tabu (305 pontos)

A fotografia (e o cinema, por extensão), como toda forma de arte, possui seu próprio universo, porém ela não deixa de ser a representação mais próxima que o ser humano consegue do mundo real, um passado que existiu daquela forma, mas que visto com os olhos de um observador do presente, possui sua significação. A partir desse conceito, autores modernos já dedicaram carreiras inteiras associando a imagem com a memória, um passado que ganha contornos no presente. É assim que Miguel Gomes realiza o seu Tabu. Filme dividido em duas partes, a Europa no século XXI e o fantasma do pós-guerra em uma ex-colônia africana, filme dentro de um filme, ambos se complementando. Não se pode fugir da história. Aurora, velha e à beira da loucura, se vê presa pelos próprios demônios e ações de outros tempos. Santa, a criada negra, tal como seus antepassados da colônia, se vê presa em uma relação servil com Aurora. Além disso, há o cinema, ecos da era clássica, mas sem deixar de ser moderno, uma fusão de épocas em um único filme.

- Por Fellipe De Paula

 

4. Killer Joe - Matador de Aluguel (379 pontos)

Killer Joe - Matador de Aluguel é um filme que tem muito da linguagem cinematográfica associada a alguns diretores mais jovens com sua afetação visual arrendadora, seu tom exagerado e seus personagens que seguem arquétipos do cinema de gênero americano de forma tão extrema que seu comportamento parece mais concebido por um adolescente que viveu uma vida tendo contato com muitos personagens de filmes e muitas poucas pessoas reais. O filme do Friedkin pode até ser confundido, em seus primeiros momentos, com um filme “policial” B dirigido por algum neófito fascinado por violência gráfica, mas o filme, a medida que passa, vai se revelando um conto moral onde cada personagem verá o castigo por seus pecados chegar na forma de um Matthew McConaughey fantástico; o ator teve uma verdadeiro renascimento na carreira nos últimos tempos, mas se há um filme que serve como ponto definitivo de virada na carreira do astro é certamente Killer Joe. Além de um ser um filme extremante sacana e ao mesmo tempo muito prazeroso de se ver, a medida que a histeria e loucura da trama avançam o espectador fica mais envolvido nessa obra.

- Por João Paulo Querido Inacio

 

3. Antes da Meia-Noite (457 pontos)

'Antes da Meia-Noite' fala sobre a passagem do tempo, é um filme sobre rugas. Rugas que se manifestam temática e formalmente. Primeiro, se deve destacar o acerto em filmar a trilogia à medida em que se passam os anos: a separação entre cada um dos filmes é de 9 anos, mesmo intervalo de tempo que separa diegeticamente cada uma das tramas. Esse intervalo é essencial para que a passagem do tempo se manifeste fisicamente no rosto dos personagens. Sendo um filme essencialmente de rostos e corpos em embate, em constante mudança e evolução, o sentido só pode ser extraído da fisicalidade. Estamos fora do domínio do CGI, dos grandes cenários construídos digitalmente, que com toda sua engenhosidade alienam o cinema de sua matéria-prima mais básica: a luz e os corpos. Para além dos corpos, o filme mostra também as rugas nas almas de seus personagens - a passagem do tempo consome sonhos, faz com que esperanças se desfaçam. Aqui não se insinuam apenas possibilidades, mas se comprovam oportunidades perdidas, se impõem culpas. E o trunfo de Linklater é adequar sua estética para abarcar essa nova gama de sentimentos. Os longos planos sequência não são mais os únicos blocos formais: uma sequência decisiva do filme é filmada em longos planos estáticos, com elementos de cena bem enquadrados e ocupando posição fixa no quadro. Assim, a fluidez da memória e do sonho é em parte substituída pela dureza de uma realidade indelével - um tempo perdido que talvez não possa ser recuperado, afinal.

- Por Paulo Roberto

 

2. Gravidade (605 pontos)

Não importa que o mundo seja tomado por tecnologias que sejam capazes de levar o homem ao espaço, quando falta o ar que nos sustenta, não há o que nos ajude permanentemente, as necessidades básicas se mantém. Guiado por este ideal, Cuarón cria uma eficiente mistura de gêneros no espaço, onde personagens são submetidos a situações extremas a fim de um estudo rápido a cerca de diversos temas relativos à condição humana e sua relação com a própria existência. Ele se utiliza de momentos pontuais para narrar sua análise. São situações precisas que emolduram o filme, exatamente condizendo à sua proposta de passeio sobre a condição humana perante a sua situação em co-relação com a natureza grandiosa que o cerca. Destruição (o caos tecnológico no início), sobrevivência, renascimento – a emblemática posição fetal coreografada por Bullock, com roupas que modelam seu corpo -, a própria evolução, claramente citada na utilização quase que primitiva do extintor como propulsor suprindo a ausência de um equipamento adequado. A atmosfera também é louvável, o espaço é um ambiente eficiente por si só. Tanto na proposta de criar tensão quanto na representação do abismo pessoal por qual passa a personagem, após um choque na sua própria vida, a ambientação do diretor alcança um resultado positivo. A concretização da proposta é belíssima. O ser humano em contato com a natureza e se adaptando a ela, não importando onde.

- Por Ravel Macedo

 

1. Django Livre (659 pontos)

Todo artista que se preze consegue formar uma obra dotada de uma digital, algo que obviamente não se altera conforme o passar do tempo. Uma pequena demonstração de exemplo disso? Django Livre. A digital continua lá, mas o conceito de Quentin Tarantino segue em desenvolvimento. Ainda que esteja longe de ser exemplo entre os melhores de sua filmografia, reafirma a posição de alguém que, ainda que não seja unanimidade em se tratando de gosto, veio para ficar. Django Livre é filme de locadora, VHS, toda a reunião da vagabundagem que saiu das ruas para o Cinema, o que nos oferece Blaxploitation, Western Spaguetti, Western etc, e não há nada de errado nisso. Algo que é do conhecimento geral mas que não custa repetir: Tarantino tem mais pai que filho de prostituta, e assume isso mais uma vez.

- Por Victor Ramos

Créditos:
Luís Daniel - Organização, imagens, artigo
Paulo Roberto - Contagem, imagens
Rodrigo Cunha - Revisão

Comentários (39)

André Policarpo | segunda-feira, 20 de Janeiro de 2014 - 09:16

Django Livre\" sem dúvidas o melhor! 😋😋😋

Patrick Corrêa | segunda-feira, 20 de Janeiro de 2014 - 12:32

Não tem sinônimo que eu conheça, Kadu, só a explicação do termo mesmo.
Mas não comentei pra sugerir um sinônimo, e sim pra que deem um tempo em usá-lo.

Phillipe Rocha | segunda-feira, 20 de Janeiro de 2014 - 22:18

Galera da equipe. O link para Os Suspeitos foi colocado trocado com o filme homônimo do Bryan Singer. Nunca vi isso acontecer por aqui. No mais...gostei mto dessa lista. Que legal ver Tabu.

César Barzine | quinta-feira, 15 de Junho de 2017 - 11:10

Só acho que A Caça devia está numa posição bem melhor.

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