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O Cinema Blaxploitation

No pacote de lançamentos dos meses de novembro/dezembro, a Versátil se inspirou na data da consciência negra para trazer duas coleções sobre o tema. Pela primeira vez no Brasil reunidos numa coleção temática, os filmes A Máfia Nunca Perdoa (Across 110th Street, 1972), Truck Turner (idem, 1974), Coffy (idem, 1973) e O Chefão do Gueto (Black Caesar, 1973) formam o box Blaxploitation, uma das maiores preciosidades do mercado de home vídeo atual. Ainda nessa mesma linha, temos a obra-prima de Spike Lee que ganha uma edição individual com DVD duplo, Malcolm X.


Depois de mais de meio século da história do cinema relegados à condição de coadjuvantes, figurantes ou estereótipos, atores, diretores e produtores negros norte americanos decidiram se unir no início dos anos 1970 para um movimento voltado para sua realidade, onde protagonizariam as próprias histórias e discutiriam os temas de seu interesse, aproveitando o momento de transformações políticas e sociais da época. O cinema americano passava por uma fase de efervescência, pluralidade e experimentação e não havia momento melhor para surgir o que anos mais tarde veio a ser chamado de Blaxploitation. Agora os negros não eram apenas uma figura desimportante ou talvez um preenchimento de cota, mas sim os protagonistas, e de repente a realidade deles era plot central dos filmes do movimento, que ainda contavam com a trilha sonora de nomes como Bobby Womack e Isaac Hayes.  


O deslocamento do negro para o posto de personagem central inevitavelmente empurrava os personagens brancos para a condição de vilões ou figurantes, de modo que nesse universo os policiais costumam ser os vilões da opressão e da injustiça a serem combatidos por heróis negros sempre muito donos de si, atraentes, inteligentes e capazes. A desenvoltura de tais personagens contribuiu para que o negro fosse notado como algo além da condição secundária até então comum nos filmes, de modo que o movimento blaxploitation foi composto essencialmente por um cinema honesto, engajado, furioso e acima de tudo muito franco em mostrar sem reservas as mazelas do preconceito e crueldade da sociedade americana em várias esferas – desde o drama familiar da obra-prima O Matador de Ovelhas (Killer of Sheep, 1977) até a vertente exploitation de filmes policiais, como os selecionados pela Versátil no box, povoados por plots de vingança e empoderamento. O ápice da coleção está em Coffy, dirigido por Jack Hill e estrelado por Pam Grier, a musa do movimento – um trabalho que, além de discutir as questões raciais, ainda centraliza o poder e a inteligência na figura feminina da atriz (que viria a repetir a parceria com o diretor em Foxy Brown [idem, 1974] e reviver o movimento décadas mais tarde no papel-título de Jackie Brown [idem, 1996], de Quentin Tarantino). Os extras do digistack trazem uma entrevista com Grier e um documentário sobre o movimento, e vale lembrar que é um item exclusivo de vendas na Livraria Saraiva.


Embora não faça parte do blaxploitation, Malcolm X, de Spike Lee, conta a história do líder que teve o pai assassinado por membros da Klu Klux Klan e que passou a vida lutando pela pacificação e união das raças. Indicado a dois Oscar, o filme conta com uma atuação monstruosa de Denzel Washington e a Versátil oferece uma versão restaurada, duas horas de extras, making of, cenas excluídas e um documentário narrado por James Earl Jones sobre a vida de Malcolm X. 

Entre os lançamentos de Dezembro temos a continuação de três coleções clássicas da distribuidora: Filme Noir - Vol. 7, Clássicos Sci-Fi - Vol. 3 e A Arte de Alfred Hitchcock. Todos os digistacks vêm acompanhados de cards que reproduzem a arte original dos pôsteres, além de muitos extras. No primeiro, o destaque vai para as obras-primas Almas Perversas (Scarlet Street, 1945), de Friz Lang, e Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1952), de Ida Lupino e Nicholas Ray. No box do mestre do suspense, quem também é exclusivo da Livraria Saraiva, o destaque é de Jovem e Inocente (Young and Innocent, 1937), enquanto na coleção sci-fi a pérola é o único longa dirigido por Saul Bass, Fase IV - Destruição (Phase IV, 1974). 


Com essas coleções, mais Zumbis no Cinema - Vol. 2, a Versátil encerra com chave de ouro o ano de 2016. Agradecemos desde já pela parceria com o Cineplayers e desejamos um 2017 ainda maior. Até breve! 

Comentários (6)

Vítor Miranda | quinta-feira, 08 de Dezembro de 2016 - 14:05

a máfia nunca perdoa é obra prima

https://www.youtube.com/watch?v=L4K7g1XDwos

Josiel Oliveira | quinta-feira, 08 de Dezembro de 2016 - 22:53

Esse box do Blaxploitation veio preencher uma lacuna no mercado de DVD que era inaceitável. Cabe um volume 2 fácil.

Polastri | quinta-feira, 08 de Dezembro de 2016 - 23:08

Cabem vários e vários volumes, blaxploitation tem muitos filmes populares bons, cultuados e mal distribuídos - inclusive muitos sem legendas em português em lugar nenhum. Gostaria muito que lançassem com legendas a biografia do Leadbelly dirigida pelo Gordon Parks, ou o ótimo drama Claudine.

Espero que venda bem e vire mais um nicho da Versátil, como os noir e os filmes de samurai.

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