Analisando toda a história da franquia 007, uma coisa se pode afirmar: o galês Timothy Dalton foi o mais injustiçado entre todos os atores que já encarnaram James Bond. Ok, entendo que era inegável não considerar um relevante desgaste da série no ano de 1987 (quando o primeiro filme de Dalton, "Marcado Para a Morte", estreou): 25 anos, sendo 14 filmes oficiais produzidos, além de 3 atores diferentes no papel principal. E a franquia já não andava bem desde 1979, quando o insosso "007 Contra o Foguete da Morte" arranhou a imagem do agente secreto, com situações cada vez mais cômicas, que transformaram a séria numa espécie de autossátira. Já na década de 1980, se por um lado os produtores acertaram em colocar John Glen na direção (ele vinha trabalhando em cargos menores nos episódios anteriores), tentando recuperar o lado menos fantasioso de Bond , por outro erraram feio em manter Roger Moore no papel. O ator já tinha perdido o pique e estava nitidamente velho para continuar sendo o famoso espião. Enfim, acertaram na loteria quando, em 1987, escalaram Dalton e mantiveram Glen na direção.
Já com um grande conhecimento sobre o universo Bondiano, Glen agora contava com um novo fôlego para poder executar o ótimo "Marcado Para a Morte". Apesar de uma bilheteria abaixo do que se esperava para um filme da série, devido tanto ao desgaste anteriormente citado, quanto pelo contexto que o mundo vivia na época (fim da Guerra Fria, a maior mentora da franquia), sem contar as críticas negativas recebidas dos fãs e da mídia, os produtores não hesitaram em lançar, dois anos depois, a segunda aventura de Dalton: "007 - Permissão Para Matar". A única diferença é, que aqui, a fórmula foi totalmente alterada em comparação ao filme anterior. Se "007 - Marcado Para a Morte" mantém o plot "comum" dos filmes anteriores, comprometendo-se apenas em humanizar o espião britânico, em "Permissão Para Matar" o roteiro desapega-se desta fórmula pronta e se foca no lado pessoal e sentimental, evidenciando o lado mais sombrio de James Bond. Aliás, outro detalhe que podemos considerar é a influência dos filmes de ação que explodiram naquela época, com a ascensão de brucutus como Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis e Jean-Claude Van Damme como grandes astros de ação, tornando este, que é o 16º filme de 007, no mais violento da série até então. Esse fato culminou na extrema rejeição dos fãs saudosistas de Bond e, consequentemente, na sua pior arrecadação. Aliás, mesmo após 24 anos de sua estreia, continua sendo o maior fracasso de bilheterias da série (considerando valores ajustados).
É exatamente nesse ponto que volto ao que mencionei no início do texto: Injustiça. Se uma franquia do porte de 007 não consegue adaptar de acordo com o atual contexto mundial e não busca atingir uma nova cultura, ela corre o risco de desaparecer. E essa questão de adaptação sempre foi o maior segredo da longevidade do icônico personagem. Sem falar que um episódio muito parecido aconteceu recentemente com Daniel Craig, só que ao contrário da tentativa anterior, fora acolhida com louvor, tanto do público, quanto da crítica. Infelizmente, as opiniões conduzidas pela paixão e parcialidade, afastaram o grande público do James Bond de Dalton. E quando digo infelizmente, não é só pelo fato da mudança que fora feita ter sido essencial, mas também devido os dois filmes terem uma qualidade superior até mesmo para a média da franquia. E "Permissão Para Matar" vai além de ser apenas mais um bom filme de Bond: é um estudo sobre o próprio instinto do personagem. Logo na cena de abertura, muito bem executada por sinal, fica bem clara a intenção de mostrar esse lado mais pessoal do agente. Ele está a caminho do casamento de seu melhor amigo, Felix Leiter, da CIA, quando um chamado de emergência coloca-os na captura de uns dos maiores traficantes da América: Franz Sanchez (Robert Davi). Posteriormente, Sanchez acaba fugindo da prisão e se vinga de Felix, em uma das cenas mais fortes do filme. É nesse ponto que o agente secreto abandona as regras de seus superiores, rompendo o vínculo com o serviço de inteligência britânico e passa a agir por vingança.
Sanchez rompe o protocolo do antagonista megalomaníaco. Ele não quer explodir ou dominar o mundo, mas sim só ganhar dinheiro através do tráfico internacional de drogas. A verossimilhança do vilão é ainda mais destacada quando ele é usado, mesmo de maneira indireta, como crítica a alguns governos: ele demonstra total influência sobre o presidente de um país, em troca de favores políticos. Embora não entre no rol dos vilões mais memoráveis de 007, Sanchez passa a ameaça necessária, sem exageros, além de ter carisma, algo ausente nos episódios anteriores. Outro ponto positivo encontra-se na "Bondgirl" Pam Bouvier, que não se limita a ser um objeto sexual e participa ativamente, servindo como uma boa ajuda para James Bond.
A ação é elaborada de uma maneira moderada e adulta, não sendo utilizada em momento algum como válvula de escape para a história. O interessante é que ela flui naturalmente e, sempre que ocorre, é muito bem realizada. A cena de perseguição dos caminhões na parte final é a maior prova disso e merece figurar não só como uma das emocionantes perseguições da série, mas como do cinema no geral.
A única ressalva da película fica por conta do roteiro, que ao mesmo tempo em que acerta ao mudar a fórmula repetitiva, peca ao ser muito simples e previsível, não trazendo nenhuma reviravolta significante à trama, deixando a sua longa duração se passar por desnecessária. Mas esse defeito fica pequeno em vista ao seu nível de entretenimento e da eficaz interpretação do subestimado Dalton. Pena que seria a última aparição do ator como 007 devido ao fracasso comercial de seus dois trabalhos e a uma briga judicial por direitos autorais que congelaria a série por quase sete anos.
Contudo, "007 - Permissão Para Matar" torna-se obrigatório para os fãs do espião e recomendado para os que admiram um bom filme de ação. Além de conter um Bond muito próximo ao personagem literário criado por Ian Fleming, é livre dos cacoetes habituais que sempre fizeram parte do público torcer o nariz para 007, fazendo dela uma obra bem mais madura do que a média da série.
Ótimo comentário, e o filme também é muito bom. Ainda falta ver alguns, mas os melhores pra mim são esses: Skyfall, Cassino Royale, O Espião que me Amava, O Amanhã Nunca Morre e Permissão Para Matar.
\"O meu preferido é Moscou Contra 007. Depois vem Skyfall\" [2]
Faltam três filmes pra mim completar a franquia...
Nessa disputa de melhor, nossa, fica difícil pra caramba pra escolher entre Skyfall e From Russia With Love como meu filme preferido. \"Moscou\" é espionagem pura, é James Bond puro (e que filme bem montado!). Skyfall foi meu primeiro 007 nos cinemas (apesar de ter me tornado fã desde 2002, rs), sem falar é excelente também e tem o melhor vilão da franquia. Em 3º fico com Goldfinger, em 4º Cassino Royale e em 5º esse Permissão Para Matar (batendo na trave \"A Serviço Secreto de Sua Majestade).
Pra mim \"Diamantes São Eternos\" consegue ser ainda pior que \"Um Novo Dia Para Morrer\". Mas andam, praticamente, de mãos dadas, rs.