A primeira coisa que você pensa ao ver o pôster, ler a sinopse ou assistir ao trailer de 12 Horas é de exaustão: Você já vê aquele tipo de filme todo sábado numa chamado do Super-Cine que já perdeu as esperanças em histórias com esse estilo facilmente reconhecível. Pois bem, a boa notícia é que Gone (o título original do longa) consegue prender sua atenção por noventa minutos rápidos e que passam voando. A má notícia é que este passa longe de ser um bom filme: O roteiro é repleto de soluções fáceis, uma história boba e personagens vazios. O real problema é que diversas vezes a produção flerta com algumas qualidades de seus realizadores, mas logo acaba esquecendo-as apenas para introduzir uma nova pista e outra sub-trama dispensável.
A trama acompanha a história de Jill, uma jovem que foi sequestrada e ‘torturada’ por um maníaco, mas conseguiu fugir. Sem evidências de que tudo realmente aconteceu, a garota é tachada de louca por todos e acaba num hospital psiquiátrico. Após um tempo, quando tudo quase voltou ao normal, sua irmã, Molly, desaparece e por alguma razão Jill acredita que o assassino voltou para terminar o que tinha começado. Então começa uma busca incontrolável pela cidade, mesmo que Jill seja considerada uma fugitiva perigosa pela polícia.
Os problemas no roteiro já começam á partir daí: O fato dos policiais estarem mais preocupados com a protagonista do que com sua irmã desaparecida não convence em momento algum, sempre deixando o espectador incomodado com situações ilógicas e fúteis. Além disso, com o desenrolar da trama Jill é obrigada á seguir as mais diversas pistas para encontrar o sequestrador de sua irmã, o que não seria um problema se essas pistas não começassem á parecer forçadas e fáceis demais; é inacreditável, por exemplo, que Jill tenha um vizinho que tenha insônia e que tenha visto a vã do vilão ás duas horas da madrugada, mais improvável ainda é ter que acreditar que um psicopata tenha deixado uma nota fiscal de uma compra de itens suspeitos dentro de sua vã alugada.
E mesmo com várias pistas palpáveis Jill jamais pensa em pedir ajuda á alguém de sua confiança, e quando conversa com alguém ela insiste em passar um ar de maluca e ignorar tudo que falam para ela. O roteiro ainda entope a história de personagens desnecessários e que logo são descartados, não tendo nenhum uso real dentro da trama – a cena em que vemos a mãe das irmãs é boba e não dá um sentido de existir. E essa confusão desgovernada acaba provocando pequenos risos na platéia que destroem o clima de suspense que o filme constrói relativamente bem: Quando a mocinha é assustada por um gato barulhento e agitado (parecia que eu estava vendo um filme de outro gênero), não consegui segurar a risada.
Mas, como já comentei, 12 Horas tem um bom clima de tensão que envolve o espectador. Isso se dá não só pelas várias reviravoltas e surpresas que ocorrem no decorrer do filme, mas também da direção eficiente de Heitor Dhalia que deixa o público constantemente inquieto, até mesmo nas situações mais simples e previsíveis. A trilha sonora é sutil e encaixa bem na trama, e a fotografia é belíssima (um dos pontos altos do filme?!). Porém, essa tensão constante acaba causando uma espécie de efeito anestesiante no cérebro do espectador, e algumas cenas que deveriam causar um impacto maior acabam causando o mesmo efeito da anterior e daquela que vem á seguir.
Outro problema são os personagens que não empolgam e nunca saem do lugar, e isso desperdiça um bom elenco: Por conta da frieza indiscutível de Jill desde o início da projeção, Amanda Seyfried beira o caricato com uma interpretação que poucas vezes é verossímil o suficiente, o que é um problema claro dos elementos ao seu redor já que Seyfried já provou seu talento e carisma em outros trabalhos bem melhores que este. O restante dos personagens são inúteis e sem nenhuma função própria á não ser dizer frases de efeito e procurar Jill sem pensar nas possibilidades. Além disso, é frustrante ver o nome de Jennifer Carpenter – outra atriz com talento já comprovado - nos créditos iniciais e notar que sua presença é tão importante quanto seria a de mais um policial á procura da protagonista.
Por outro lado, o roteiro cria um quebra cabeça interessante para que o espectador junte as peças espalhadas pela trama, afinal: Jill é louca ou não? Apesar de vermos flashbacks e de acompanharmos de perto as fugas da personagem, jamais conseguimos ter certeza absoluta sobre sua lucidez. Infelizmente, essas qualidades acabam vetadas pelas várias incoerências absurdas do texto: Além das que eu já comentei, ainda somos obrigados á acreditar num vilão estúpido – quando ele finalmente resolver dar as caras, faz as burradas mais idiotas que se pode esperar de um vilão de um thriller.
Mesmo tendo mais defeitos do que qualidades, 12 Horas não é um filme totalmente dispensável, insuportável e irritante (como vários outros por aí), ele é apenas um daqueles moderadamente divertidos e que deixa você esquecer de toda a história em menos de três horas após você ter visto-o. Um filme que provavelmente se tornará um clássico instantâneo do Super-Cine.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário