Alguns dizem que a arte imita a vida, porém penso o contrário, que a vida imita a arte, pois, em obras como essa, de tamanha perfeição estética, ficamos perplexos diante da complexidade que é a nossa própria origem. Questionamos filosoficamente: "quem somos, de onde viemos, para onde vamos?".
Posso dizer com propriedade que este é o meu filme preferido. Já era candidato a ser mesmo, assim que soube que quem o filmou foi ninguém mais ninguém menos que Stanley Kubrick, um gênio da sétima arte. Kubrick retratou, em "2001 - Uma Odisseia no Espaço", o gênese da espécie humana, brindado-nos desde a era pré-histórica até os dias atuais, repletos por tecnologia e ciência em contraposição à religião.
No enredo, as atenções se voltam para um misterioso monolito negro presente quatro milhões de anos atrás na vida dos neandertais. Nos dias de hoje, a nave Discovery vai até Júpiter para investigar este suposto monumento alienígena capaz de fazer contato com a Terra. A problematização é essa mesmo e não foge disso, o que contribuiu muito para que o filme pudesse centrar-se no espaço e seus mistérios. A maioria das cenas é apresentada na ausência de sons, o que foi muito bem pensado, a fim de que contemplássemos a beleza do universo e a sua grandiosidade. As cores também foram muito bem usadas aqui. O vermelho-amarelado dos raios de sol, o azul do céu, o colorido dos botões das naves, o cinza das roupas dos astronautas e o roxo-azulado das nuances das estrelas. São poucas as personagens e quem, por incrível que pareça rouba a cena, é um computador com inteligência artificial, cujo nome é HAL-9000. A ideia, no ano em que o filme fora lançado (1968), era a de que estaríamos desbravando planetas, ou seja, fazendo muito mais do que "apenas" chegar na Lua. Talvez Arthur C. Clarke (autor da obra que deu origem ao filme) tenha errado na previsão, mas permitiu ao espectador sonhar com a obra-prima de Kubrick.
O sonho é o que propõe essa obra que pode parecer difícil de ser compreendida integralmente, mas que se apodera de todos os artifícios para recriar o ambiente além do terrestre, nos convidando para uma viagem só de ida rumo ao desconhecido, em busca de respostas inalcançáveis humanamente falando. Não é só do visual que essa obra sobreviveu tão positivamente. Os diálogos dos seus protagonistas são escassos, mas refletem o pensamento moderno, de que o homem é soberano e tem domínio sobre tudo, sendo capaz até de construir máquinas pensantes como ele. Hal é um exemplo disso que, de tão inteligente, acaba virando o vilão da história e sendo o responsável pelo clímax do longa.
Assim como em outros trabalhos de Kubrick, sua obra aqui é mais uma vez vertiginosa, profunda e labiríntica, explorando a fundo a incompreensão, sem se preocupar com a dedução lógica de seu espectador acerca de sua obra. O objetivo é expor as cartas como numa mesa de pôquer, e deixar os olhos brilharem com um esboço poético da origem da vida e de seu produto, o homo sapiens. Existe uma trama, um começo, um meio e um fim (em aberto), mas o que mais fica dessa obra é, além de sua fotografia, trilha e atuações, o espanto e a consciência de que realmente devemos temer outras vidas fora da Terra. Se vivemos numa galáxia tão vasta, por que não podem haver alienígenas? Só sabemos de uma coisa mesmo, de que a nossa raça, a dos humanos, é pouco questionadora, reflete pouco, não para pensar. Só 2001 faz a gente refletir mesmo, parar e duvidar de tudo. Passeando pelas eras e gerações, numa montanha-russa de emoções, bem pontuadas por suas singelas sinfonias, este trabalho é exímio e expõe de forma magistral que o céu realmente não é o limite.
Obra-Prima absoluta. Já assisti umas 15 vezes ao longo da vida e sempre tenho impressões diferentes. Parabéns.
É sempre bom ler opiniões sobre essa grande obra! Parabéns pelo texto!!
Obrigado, galera! Bom saber que gostaram do texto. Valeu, Cristian e André! 😁