“Algum dia você vai cair e chorar. E vai entender tudo. Todas as coisas.”
Somos cientes de nossa existência. Somos cientes de nossa posição paradoxalmente grandiosa e ínfima no Universo. Somos cientes de nossa finitude. Essa ciência é o que fixa em nossas mentes questionamentos que talvez nunca sejam respondidos e, quer ocupem toda uma vida de estudos e reflexão, quer passem pelo pensamento tão rápido quanto um piscar de olhos para nunca mais voltar, nos movem a continuar em nossa jornada chamada vida. “Quem somos?”. “Para onde vamos?”. Certamente você já se pegou filosofando, mesmo que sem muita seriedade sobre a resposta para essas e outras perguntas. Muitos tentam chegar a uma conclusão. Achar as respostas que saciariam as mentes curiosas. Em seu ótimo O Guia do Mochileiro das Galáxias, o escritor Douglas Adams resumiu todas essas dúvidas na “pergunta fundamental” – “qual a resposta da vida, do universo e tudo o mais?” – e a respondeu com “42” (e não vem ao caso que estamos fazendo a pergunta errada o tempo todo). Para o escritor Franz Kafka “o sentido da vida é que ela termina”. Já para o filósofo Ludwig Wittgenstein, “esse mundo existe” e isso é o bastante para responder seus questionamentos sobre a vida e sobre Deus.
E há Terrende Malick. Para o recluso cineasta, formado em filosofia, a resposta é uma nova pergunta, em forma de filme. A resposta é o impressionante A Árvore da Vida. Esqueça a pretensão de responder os nossos questionamentos fundamentais. Malick quer mesmo é sentar conosco e durante duas horas e meia discutir as perguntas. Por que para ele o que importa não é encontrar uma resposta ao fim da jornada de dúvidas, mas sim a própria jornada de dúvidas. Daí um filme tão aberto a interpretação do espectador: lote uma sala de cinema para assistir ao filme e cada um dos indivíduos que resistirem até o fim da sessão (por que, infelizmente, será provável que muitos desistam ao longo da projeção – o que não os impedirá de também formarem uma opinião sobre o que viram, claro) terá sua visão própria da obra. É uma espécie de 2001 – Uma Odisséia no Espaço só que ainda mais subjetivo. No filme de Kubrick ao menos existia um norte, toda uma ideia sobre a evolução do ser humano, para guiar o espectador em seus insights, em A Árvore da Vida não.
Daí em determinado ponto Malick orquestrar algumas das mais belas imagens da história do cinema – não, não é exagero -, uma profusão de som e imagens que traz para a telona a criação do universo e o surgimento da vida em nosso planeta, e cada um encontrar ali o reflexo de sua própria visão acerca do que presencia. Para uns é a prova de que Deus não existe. É ciência pura ali. Big Bang, evolução, etc. Para outros é a grandiosidade de Deus regendo as grandes e pequenas coisas. Todas elas cheias de importância própria. E para outros, por que não, uma combinação de ambas? É Deus, sim, mas operando através da ciência que em suas mãos se torna uma arte milagrosa. Aí pouco depois o cineasta filma com um olhar similar a formação de uma família, o casal (Brad Pitt e Jessica Chastain, ótimos) se conhecendo, o nascimento de um filho, o crescimento da criança e consequentemente dos seus pais e tudo que pensamos é o quão grandiosos somos. O quão próximo é o Universo e o universo particular que representa cada vida. Ou o quão pequenos e ínfimos somos. Afinal, o que é a morte de um jovem ou de uma raça frente à imensidão infinita que continua sem ele(a)?
Mas quem garante que nós também não continuamos? Por que quando chega a hora de retratar o “fim dos tempos” – que filme foi tão longe assim, retratar do surgimento do universo ao fim de nossa existência? -, a história continua em um lugar onde o tempo parece não mais existir. Onde tudo é o azul da água e do céu que se funde e os integrantes da família O’Brien, que acompanhamos dos anos 50 a uma espécie de presente que não é bem o nosso presente, são simultaneamente suas versões jovens, adultas e idosas. Um lugar onde tudo que existe é a possibilidade de reconciliar, de amar. Um lugar onde Jack O’Brien (Sean Penn quando adulto e Hunter McCracken quando jovem), que vagava pelo mundo arqueado pelo peso do passado em suas costas, pode finalmente se permitir um sorriso após tanto carregar uma expressão perdida. Seria a visão de Malick do paraíso?
A verdade é que não há uma única verdade em A Árvore da Vida. Tudo é maleável, conforme a visão do espectador, não apenas a de seu diretor. “A única maneira de ser feliz é amar. A menos que você ame, sua vida passará num piscar de olhos”, é dito em determinado ponto da produção. No fim essa é a mensagem que extraio do filme de Malick (e você pode captar uma totalmente diferente, ou mesmo nada): a tal resposta é o amor que vivemos em vida. Esqueça o sentido. O que vale é o momento. E o que é sentido nele. Por que o momento passa, mas o sentimento fica até o fim. E aí o significado do universo, da vida e tudo o mais se torna o que você sentiu ao longa da vida. O significado passa a ser você e aqueles que ama/te amam. E, claro, isso pode não trazer significado algum, mas não torna tudo menos interessante, não é? Por que a vida no fim é como o próprio A Árvore da Vida: pode não significar nada, mas ainda valeria por um ou outro momento de pura beleza – uma imagem, uma música, uma cena -, ou pode significar muito, o que torna tudo ainda mais bonito. Seja como for, não conseguimos ficar indiferentes.
O Dia em que a árvore da vida defender um penalty aos 47 do segundo tempo em uma quarta de final da libertadores aí eu dou moral pra ela.
o dia que o galão da massa tiver no elenco o Sean Penn e a Jessica Chastain eu dou moral pra ele
a árvore da vida não está há 15 anos sem ganhar título.
AÍ APELOU (GOSTEI)