Filmes religiosos estão entre os subgêneros mais controversos do cinema, ou se ama ou odeia. Normalmente isso acontece pela forte devoção que as pessoas têm com suas respectivas crenças, o que as torna mais próximas das tramas desses filmes. Porém, o elemento religioso que tanto atrai os que tem fé, acaba afastando muitas outras pessoas que não compreendem ou não se importam muito religião.
O problema é que a devoção a uma crença pode ofuscar uma análise mais madura que um expectador pode vir a ter sobre filmes religiosos, e isso torna faz com que filmes medíocres alcancem sucesso de bilheteria e caiam no gosto popular, como aconteceu com Desafiando Gigantes (Facing the Giants, 2006) e Deus Não Está Morto (God's Not Dead, 2014).
Outro problema, é que filmes religiosos, acabam funcionando apenas para pessoas religiosas, sem grandes atrativos para o público casual de cinema ou para cinéfilos mais exigentes. Em filmes cristãos, como em Deus Não Está Morto, um problema sério é a forma ofensiva como o filme aborda outras religiões e o ateísmo.
Mas para alívio dos religiosos de mente aberta e apaixonados por cinema, A Cabana (The Shack, 2016) consegue passar uma mensagem religiosa importante de maneira respeitosa e cinematograficamente eficiente.
O longa é baseado no best-seller de mesmo nome lançado em 2007, e conta a história de Mack Phillips, um pai de família que vive uma vida tranquila, até a morte de sua filha mais nova. Depois desse evento, Mack recebe uma misteriosa carta, que o convida para voltar ao local onde sua filha morreu. Ao chegar lá, Mack é hospedado por ninguém menos que a santíssima Trindade: O Pai, O Filho e o Espirito Santo.
O filme é dirigido por Stuart Hazeldine, e com roteiro de John Fusco, Andrew Lanham e Destin Cretton, o filme aborda a trama religiosa de forma bem diferentes do habitual filme religioso. Por exemplo, o protagonista Mack Phillips (interpretado competentemente por Sam Worthington), é um homem complicado, com um passado obscuro, mas é uma boa pessoa mesmo assim. Normalmente, nesse tipo de filme, o protagonista é sempre um exemplo de santidade ou uma pessoa ruim, que passa por uma renovação. Mack é mostrado como um cara normal, um bom pai, um bom marido e um bom vizinho.
Quando a Santíssima Trindade é apresentada, chama a atenção o elenco. Deus é interpretado por Octavia Spencer e, em determinada cena, por Graham Greene, Jesus é interpretado por Avraham Aviv Alush, o Espirito Santo é interpretado por Sumire Matsubara. E ainda tem Alice Braga interpretando a “Sabedoria” (possivelmente um “disfarce” para Nossa Senhora). Respectivamente temos, uma mulher negra, um indígena, um israelense, uma japonesa e uma latina. Uma diversidade mais do que bem-vinda, mostrando que Deus pode estar presente nas pessoas que muitos ignoram.
A personalidade mais humana da Santíssima Trindade é um destaque de relevância social. Deus se comporta como uma simpática senhora, que cuida e aconselha, como uma verdadeira mãe, bem diferente de outras “personalidades” que muitas pessoas têm de Deus. O mesmo serve para Jesus, que em um dos momentos mais interessantes do filme, faz uma critica às religiões e à forma como as pessoas enxergam à Deus e à Jesus: “Eu não preciso de escravos, eu preciso de amigos”- conta Jesus para Mack em um dos melhores momentos do filme.
Apesar de contém cenas de podem abalar o emocional de muitos, o momento em que Mack descobre que sua filha está morta e todo o luto da personagem é mostrado no filme de forma muito simples. Essa cena poderia (e deveria) ter sido a mais impactante, pra chocar e acabar com o sentimentos do público, mas a necessidade de se fazer um filme familiar acabou vetando o impacto da cena.
Apesar de seu potencial, A Cabana não é o filme que vai converter ateus, mas é um filme que pode fazer as pessoas reverem os seus conceitos sobre fé, religião e Deus. Pois A Cabana é mais do que um filme religioso, é um filme sobre Deus.
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