"Um Lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar"
A Casa Amaldiçoada (The Haunting, 1999) refilmagem do clássico Desafio do Além (The Haunting, 1963) de Robert Wise, é considerado até hoje um dos filmes de terror mais infames de Hollywood. A superprodução de Jan de Bont (Velocidade Máxima) surpreende pelo visual estonteante, mas frusta por não cumprir com uma "regra básica" do gênero: assustar.
A estória gira em torno de um grupo de pessoas selecionadas para uma experiência coletiva sobre a insônia na mansão Hill House, um local isolado com um passado misterioso. Na verdade isto é o que acreditam, visto que a verdadeira natureza do experimento é estudar as variáveis relacionadas ao medo, e nada melhor para isto do que um grupo de insones isolados num local como este. O grupo é composto por Nell (Lili Taylor), uma mulher solitária e desiludida com a vida; Theo (Catherine Zeta-Jones) a narcisista e libertina; e Luke (Owen Wilson) um cara egoísta e bonachão. David Marrow (Liam Neeson) é o responsável pelo experimento.
Nell parece ter uma estranha relação com o passado da mansão, sendo atraída a descobrir o porque desta atração, assim como a verdadeira história de Hugh Crain, sua esposa e as crianças que parecem querer alertá-la sobre o perigo do local. O roteiro da produção foi uma das principais reclamações do público, sendo repleto de furos e erros básicos de lógica e continuidade. A direção ágil e segura de Jan de Bont tenta compensar o fraco roteiro, com momentos bem conduzidos, construindo uma tensão crescente e uma atmosfera sobrenatural convincente. Sua mão pesa no entanto nos momentos em que os fantasmas são revelados, mostrando-se mais interessado em surpreender o público com o virtuosismo técnico das sequências do que em oferecer uma experiência de fato assustadora.
A parte técnica é exemplar. A direção de arte de Eugenio Zanetti fascina pela riqueza de detalhes do interior da mansão, com salas e quartos suntuosos, elegantes e luxuosos. Os entalhes góticos e bizarros espalhados pelo local são um espetáculo à parte também. Os efeitos visuais impressionam pela beleza e criatividade, com raros momentos que hoje soam datados. O trabalho de som é magnifíco, seja na respiração de Crain, nos súplicios das crianças ou num simples bater de porta, todos muito bem executados. E pensar que o filme foi ignorado em todos estes quesitos pelo Oscar da época. A trilha sonora de Jerry Goldsmith (A Profecia) é um dos seus trabalhos mais interessantes, num ousado contraste entre o gótico e o infantil, com notas que capturam os momentos retratados com talento e precisão.
Os bastidores da produção foram conturbados, visto que Jan de Bont é famoso por ser um diretor difícil de se trabalhar, exigindo bastante do elenco, além do controle total da edição final, que com as intervenções constantes de Spielberg, acabou por gerar um mal-estar na equipe, com este impedindo a vinculação de seu nome ao projeto. É interessante notar que o filme é praticamente uma sequência espiritual de Poltergesit: O Fenômeno (Poltergesit, 1982), terror sobrenatural que também teve discussões infladas entre Spielberg e Hooper. Apesar da experiência áudio-visual impecável, o filme acaba desapontando por não assustar o espectador, talvez porque mostre demais, sem falar na censura exigida pelo estúdio dado o valor envolvido na produção. Poltergeist compensava este fato pela tensão quase insuportável e o drama familiar convincente, elementos estes diminuídos aqui.
Interessante notar que A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999) lançado no mesmo ano, faz justamente o contrário a este aqui, conseguindo assustar com uma produção independente e "amadora", se tornando um verdadeiro fenômeno de público e um dos filmes de terror mais influentes dos últimos anos. Mesmo assim, A Casa Amaldiçoada é uma obra mediana, que não assusta, mas oferece ao menos uma experiência passageira e visualmente instigante para o público.
Implico muito com filmes de tertor que abusam dos efeitos digitais. Aquelas cenas em que a porta transforma-se em mãos ou faces são ridículas. A idéua é boa, embora não original, mas a execução é muito ruim.
PS: tanto De Bont quanto Luis Llosa têm merda na cabeça pra escalar Owen Wilson em filmes de Terror?