Filmes como A Escolha de Sofia não ficam velhos. Podem discordar, mas vou tentar explicar por que penso isso. Tudo no filme para ser feito para a eternidade: não é apenas um filme sobre o nazismo, visto que filmes que falam apenas de um tema datado (marcante, mas datado) como este tende a seguirem o caminho do tema. É um filme sobre culpa, sobre os reflexos dela ao longo de toda uma vida e tudo no filme consegue transmitir as emoções na vida dos personagens.
A fotografia, a trilha sonora e o elenco, além claro da excelente direção de Alan J. Pakula conseguem mostrar e devassar os já devassados personagens. São eles: um jovem escrito vindo do Sul, alvo de piadas ao longo da história, que se hospeda no estabelecimento onde moram Sophia e Nathan, um casal bastante inconstante, inconstância essa causada pelo problemático Nathan (aos poucos descobriremos seus segredos, bem como os de Sophia), já que Sophia é, aparentemente, o porto seguro de Nathan e, portanto, do casal.
O que iremos descobrir aos poucos são os segredos por trás da frieza de Sophia. Enquanto Nathan é abertamente inconstante, Sophia se revela aos poucos uma mulher cheia de segredos e destroçada por dentro. Sophia acaba encontrando em Stingo, o jovem escritor, mais que um amigo, um amante e alguém para finalmente se abrir.
Se a fotografia, a trilha sonora, a direção e obviamente o roteiro conseguem um equilíbrio e dimensão perfeitas, o grande destaque do filme é o elenco, mais especificamente, Kevin Kline e Meryl Streep.
Kevin Kline, que já foi um bom ator, ganhou um merecido Globo de Ouro de Melhor Revelação. Sua atuação está excelente, conseguindo sair-se muito bem nos momentos mais contidos e nos momentos mais explosivos, ambos exigidos por seu personagem tão inconstante e, até por isso, interessante.
Meryl Streep, que já havia ganhando um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Kramer vs. Kramer, ganhou praticamente todos os prêmios de 1983 e, naturalmente, o Oscar de Melhor Atriz. Prêmios mais que merecidos, mas que nem de longe consegue reconhecer o feito de Streep: se por um lado sua atuação é historicamente lembrada por “muletas” como o sotaque polonês, o fato dela ter emagrecido bastante e ficado quase careca para o filme, é o excelente desempenho contido que conseguiu ser ainda mais inesquecível para mim. Todas as suas cenas e sua narração são inesquecíveis (em especial a cena onde a escolha a que o título se refere é feita e a que Sophia desmaia na biblioteca, além de tantas outras) e elevam A Escolha de Sofia a um patamar de obra-prima.
A atuação de Meryl Streep foi considerada a terceira melhor da história pela revista Empire, e A Escolha de Sofia foi considerado o 91° melhor filme da história pela AFI e, mesmo o filme sendo criticado por ter envelhecido mal com o tempo, vou discordar dizendo que um filme tão sensível e que consegue construir personagens tão fortes, verossímeis e inesquecíveis torna-se um filme digno e tão inesquecível, pelo menos para aqueles que não se preocupam com imperfeições técnicas ou não se incomodam em ver personagens trabalhados durante duras horas e meia.
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