Lembranças não matam.
Eu assisti A Hora do Pesadelo, 2010, de Samuel Bayer, por um motivo bastante simplório: colocá-lo no meu Bottom. Sim, esse foi o motivo, que nos últimos tempos vêm se repetindo – alguém disse Premonição 4? Ouvi comentários diversos sobre o filme, que variava de péssimo ao regular, mas, para meu completo assombro, o filme superou todas minhas expectativas. Não sei se foi porque elas eram nulas, ou porque ele é “bem feito”, mas uma coisa é certa, A Hora do Pesadelo é um bom passatempo.
A tentativa de ressuscitar a velha saga de Freddy Krueger veio com uma nova roupagem (exceto a de Freddy, que continua com seu clássico suéter listrado e o chapéu que são extremamente fashions até hoje!), explicando a origem e trazendo a história para os dias atuais. Não como “Freddy Krueger – O Início”, e sim como um novo começo, mas a premissa é exatamente a mesma da saga original.
No remake, Krueger assombra vários jovens que não conseguem imaginar o motivo do psicopata estar “brincando” com eles, e nem as ligações entre si. A tensão, cargo chefe de qualquer filme de terror que se preze, não é alcançada com facilidade. Para falar a verdade, foram raríssimos momentos que senti alguma pitada de “acho que vou tomar um susto”. E as cenas-sonho eram muito, mas muito previsíveis.
Vários pontos da saga original foram repetidos, como a música tema de Freddy (1, 2, Freddy vai te pegar...) e as crianças pulando corda, enquanto outros foram reciclados, como a frase dita pela protagonista ao matar Freddy ”Esse é meu mundo, id*ota”, frase quase idêntica a de Freddy vs. Jason (”Bem vindo ao meu mundo, idi*ta”), além do próprio Freddy, que está com uma maquiagem... duvidosa. Ele parece mais um alienígena que uma pessoa queimada.
Mas o filme não funciona como deveria. Motivos: A história já está batida (e muito). O que Freddy faz não é mais um escândalo como era antigamente, já que somos bombardeados com atrocidades (no sentido de violência) nos cinemas, como na saga Jogos Mortais, O Albergue, Retorno dos Malditos e tantos outros que entopem as prateleiras das locadoras da esquina. E o principal: o que atormentava nossos jovens nos primeiros filmes? Dormir com o namorado escondida, fumar e outros acontecimentos que hoje em dia são fúteis e patéticos. Nossa sociedade livre-de-preconceitos-e-sem-vergonha-onde-todo-mundo-é-de-todo-mundo faz aqueles filmes iniciais serem até puritanos, tamanha inocência. Isso fez com que o novo filme busque meios alternativos para criar a tensão, o que o torna vazio e muito rápido (a “protagonista”, que grita como ninguém, morre com menos de meia hora de filme, numa morte divertidíssima, sadicamente falando). As cenas ficam atropeladas e não temos tempo de digerir tudo aquilo. Quando piscamos, meio mundo já passou pelas lâminas de Freddy.
Depois que nossa belíssima “protagonista” (entre aspas pelo motivo dado no parágrafo anterior) morre, o cargo é passado para outra, quase inexpressiva (ela também sabe gritar), mas não chega a ser uma atriz ruim (queria que os produtores de Premonição lessem isso/assistissem ao filme). Acho que esse é um dos maiores problemas dos filmes de terror: os péssimos atores, que superam as situações bizarras e absurdas (vide Jogos Mortais 5, onde os atores são bastante ruins), mas nesse “clássico 2010”, os atores estão até bem. A protagonista #1, por exemplo, é uma ótima atriz (boa, sendo mais crítico). Os personagens em geral não foram tão vazios quanto esperava, e isso conta muito para um mediano filme.
Os efeitos especiais são regulares. Comparados com filmes do gênero ditos anteriormente, eles passam bem longe do ideal, porém conseguem convencer se semicerrarmos os olhos, mas a cena do supermercado, e todas com a variação real/sonho ficaram muito legais e até bonitas de se ver. Os jogos de câmeras nos momentos de ação irritam, já que passamos o filme inteiro tentando visualizar o rosto de Freddy por completo, mas lá está a câmera, segurada por um cinegrafista com Mal de Parkinson (desculpem a brincadeira). Mas, colocando estrelinhas ou smiles felizes na ficha do filme, a cena que mostra como Freddy morreu é bem interessante. Ela explica as profundezas de Krueger, ainda humano, e o que levou ao trágico fim. Bem, nem ela nem o resto do filme explicam abertamente isso, nós apenas supomos, mas é quase óbvio (vide cena das fotos na “caverna”). A trilha-sonora, pelo menos, não abusou de barulhos altos para dar sustos, mas ela entrega os momentos que Freddy ia aparecer. O silêncio seria muito mais gritante nesses momentos.
Mas os clichês também foram reciclados! Quem aqui não está cansado da cena do espelho, onde o ator está olhando-se, abaixa-se, e quando volta, lá está o vilão? Bem, no filme tem duas cenas como essa; na primeira o clichê todo é quase completo, porque, numa fraca tentativa de dar susto, quando a protagonista #1 volta ao espelho, nada está lá. Criatividade, por favor? Até quando não acontece nada é clichê. Na segunda, eles se entregam ao clichê completo.
Entre prós e contras, A Hora do Pesadelo não se encaixa muito bem na sessão “terror” (só para aqueles com corações extremamente fracos). Poderia se encaixar facilmente na sessão “comédia”, sem desprestigiá-lo, claro, pois como disse, ele me surpreendeu. Mas, naquelas noites de insônia, onde seu pueril Orkut e outros afins estão um tédio (como minha noite), esse filme é muitíssimo bem-vindo. Assista-o, mas antes da sessão, guarde seu senso crítico kubrickiano no bolso, pois o que você vai ver aqui pode lhe trazer pesadelos. De um jeito que os produtores não esperavam, obviamente.
PS: Só a título de curiosidade, quando Dean (Kellan Lutz, o "Emmett" da saga Crepúsculo, numa interpretação feita no intervalo das filmagens da saga, tenho certeza) está cortando seu pescoço, dá para ver que só há o cabo da faca, sem lâmina. É...
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