Existe uma diferença básica entre o terror e o suspense: O primeiro tende á ter uma classificação indicativa bem mais alta que a maior parte dos filmes que saem nos cinemas, usam litros de sangue, não se importam em desenvolver seus personagens (na maior parte das vezes) e insistem em usar a trilha sonora alta para assustar o público desprevenido. O segundo leva mais tempo para criar um clima de tensão absoluto, prendendo a espectador na poltrona temendo pela vida dos personagens e seus destinos, além disso, é uma combinação exata de vários elementos cruciais que do dão o tom certo para o filme. É uma pena que a maior parte dos filmes do gênero Horror estejam preferindo ir pelo caminho mais fácil e esquecendo todos aqueles aspectos inesquecíveis que fizeram de O Iluminado (por exemplo) um filme tão marcante. E, obviamente, A Hora do Pesadelo (tanto o original, quanto a refilmagem) pertencem ao segundo grupo.
Quero deixar dizendo desde já que eu gostei do filme de 2010. Passa muito longe de ser um ótimo filme, mas cumpre seu objetivo sem demora. Afinal: Qual é objetivo desta, e qualquer outra, refilmagem? Além da parte financeira (pois, a maior parte dos remakes são de franquias já conhecidas pelo grande público, por isso tem mais chance de dar um retorno bom financeiro), uma refilmagem deve apresentar aquele filme lá do fundo do baú para esta nova geração, usando sua linguagem e, assim, tentando contar uma boa história. Assim, considero A Hora do Pesadelo o filme que mais merecia um remake, principalmente por causa de sua ideia inicial:
Um grupo de adolescentes (sempre eles!) começam á serem perseguidos por um homem queimado, que usa uma roupa inesquecível e que sempre tenta os matar usando lâminas nos dedos. Até que, um dia, um rapaz morre de verdade, dentro de uma cafeteria que estava. Assim, todos eles começam á notar que Freddy Krueger é um assassino perspicaz que te persegue em seus sonhos, a única forma de escapar da morte é não dormir, já que se você morre no pesadelo, morre também na vida real.
Um assassino que persegue adolescentes durante seus pesadelos? Que ideia genial (na minha opinião esta é a maior premissa de um filme do gênero de todos os tempos, e, infelizmente, nenhum dos filmes da franquia fez jus á originalidade e inventividade da ideia), e exatamente por isso uma refilmagem era tão necessária: A nova geração merecia conhecer Freddy Krueger e perder o sono em algum momento da vida, porque aqueles filmes do século passado não causam nada mais do que vontade de rir (experiência própria) nos jovens de hoje em dia. O primeiro filme continua ótimo (de longe, o melhor da série), porém os efeitos pífios e o ar cômico não deixam o filme decolar como queria. Então, em 2010 chega ás telas dos cinemas o tão esperado remake de A Hora do Pesadelo, e a reação não poderia ser diferente...
Aquelas fãs dos filmes antigos saíram completamente frustrados com o novo filme do vilão, dizendo que tudo parecia falso demais, além de ser absolutamente previsível, mal dirigido e com um péssimo roteiro. Eu discordo relativamente dessas afirmações: A direção do longa é realmente precária e muito sem imaginação (as cenas de morte, que se passam dentro dos sonhos, são muito ruins e algumas chegam á serem patéticas), os personagens são tão clichês quanto vazios e desinteressantes, e toda a história envolvendo a verdadeira motivação de Krueger não convence. Além, é claro, dos enormes furos do roteiro que incomodam e ficam presentes durante todos os noventa minutos de duração (ainda somos obrigados á presenciar gigantescos erros de continuidade visuais e narrativas).
Porém, é bom ver que este novo filme é eficiente ao retratar Freddy Krueger como uma figura bem mais ameaçadora e com um humor bem mais contido do que a vista nos filmes da década de 80 (ou seja: Nada de língua saindo do telefone para lamber a boca da mocinha), e isso é ótimo, porque o filme fica mais sério e menos paródia. É uma pena que a construção da tensão falhe em diversos momentos, porém, funcione em alguns deles (e isso é uma surpresa muito estranha). Mas, como já comentei antes, A Hora do Pesadelo se encaixa no grupo dos filmes de horror, nada mais justo que suas mortes sejam criativas e explorem bem a barreira dos sonhos e a realidade (a segunda morte do filme é muito bem executada, e chega á empolgar). Por outro lado, poucas cenas têm aquele mistério de “Será que isso é um sonho?”, mas quando isso é usado engana o público direitinho.
Com um clímax/final eficiente e divertido (com exceção da péssima cena que encerra a produção), este novo A Hora do Pesadelo é um filme que divide opiniões por alguns motivos óbvios: Quem já estava acostumado com Krueger e suas matanças, certamente sairá desapontado dessa refilmagem, porém, quem está conhecendo o personagem pela primeira com certeza vai ficar satisfeito com o resultado final. Ou seja: Eu nunca me senti tão deslocado no tempo quanto depois que eu assisti ao filme. Numa época em que as pessoas estão cada vez mais manipuláveis e menos perspicazes, e a quantidade de cinéfilos diminuí á cada dia, eu que sou fã do cinema (fã não é exatamente o termo correto, mas tudo bem) acaba ficando entre essas diferenças de gerações. A Hora do Pesadelo me fez reabrir uma questão existencial que me atormenta á muito tempo... Quem diria, hein?!
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