Á partir de 2002 a maioria dos filmes de ação começaram á apresentar uma certa mudança: Focando mais na história do que na correria, os filmes do gênero começaram á deixar de lado as aventuras imaginativas e impossíveis dos filmes da série 007 e começaram á apostar num roteiro e numa ação mais crível do que aquelas vividas por James Bond. O principal causador dessa mudança geral é A Identidade Bourne, um filme que não só usa os antigos e clássicos clichês genéricos da maneira mais ‘elegante’ possível, como também cria uma cartilha exata.
Com uma introdução ágil que nos apresenta ao protagonista através de um acontecimento importantíssimo dentro da narrativa, A Identidade Bourne logo estabelece um mistério imenso: Um homem inconsciente boiando no mar é resgatado por uma equipe de pescadores. Após acordas, o homem não consegue se lembrar de absolutamente nada de seu passado, não sabe seu nome, onde vive, o que aconteceu em sua vida até aquele ponto, a única pista que tem é o número de conta bancária, que fora encontrada dentro de um chip semelhante á uma bala que estava dentro de seu corpo. Depois de algumas confusões na suíça, o homem se junta á Marie, uma mulher comum e que aceita dar carona ao misterioso rapaz em troca de dinheiro, numa busca incontrolável e imprevisível para descobrir quem ele é.
Construindo a primeira metade da projeção a partir do mistério que envolve a natureza de seu protagonista, o roteiro move a trama através das inúmeras perguntas que o roteiro apresenta ao público. Já no restante, a história começa á se desenrolar aos poucos, e foca em responder as perguntas, e o que normalmente acabaria com qualquer filme, aqui se torna um ponto alto: As respostas encontradas por Bourne são tão interessantes e envolventes quanto as questões. Portanto é uma pena constatar que o script esqueça do expectador em diversos momentos, o filme acaba se tornando mais confuso do que deveria, porque ao esclarecer todas as dúvidas a trama se mostra bem menos complexa do que poderia ser (e isso não é um defeito).
Comandado com seriedade e calma por Doug Liman, A Identidade Bourne acaba se diferenciando dos outros filmes de ação por um simples ponto: As cenas de ação parecem se passar dentro do mundo real, sem abusar de efeitos especiais grandiosos e de aparelhos mirabolantes, em contrapartida, as sequências explosivas do filme são poucas e pouco empolgam (a cena do banco, logo nos primeiros trinta minutos são excelentes), e apesar de ter um bom ritmo ao contar sua história, o filme acaba se tornando um pouco mais ‘parado’ do que deveria, focando mais no desenvolvimento do roteiro do que na ação em si.
Convencendo completamente como um ‘espião’, Matt Damon se apresenta perfeito para um papel um tanto quanto complicado de levar ás telas: Sempre agindo por puro instinto nos desafios e imprevisibilidades, Jason Bourne é um personagem fascinante e encaixa perfeitamente dentro do cinema, já que prefere usar sua inteligência do que armas explosivas e objetos hiper-mortais. Por outro lado, a personagem vivida por Franka Potente é absolutamente dispensável quando analisada pelo ponto de vista narrativo, mas absolutamente necessário quando simplesmente usamos lógica (afinal, o que seria do novo James Bond, sem sua ‘BourneGirl’?).
Interessante e divertido até seus momentos finais, A Identidade Bourne é um filme formidável, que tem motivos de sobra para receber todo o sucesso que recebeu, é um longa que mesmo com as falhas e defeitos é inesquecível pelo simples motivo: É o primeiro (de muitos) filme de espiões realmente maduro e verossímil.
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