Nim (Abigail Breslin) é uma menina fora dos padrões (é culta, ágil, divertida e amante da natureza) que vive com seu pai, um biólogo chamado Jack Rusoe (Gerard Butler), em uma ilha desconhecida e exótica no Pacífico. Ambos sofrem com o trauma da perca a mãe/esposa e lutam para manter a memória dela viva da forma mais feliz possível. Mas quando Jack fica perdido no meio do Oceano e deixa sua filha sozinha na ilha isolada é que a estória começa a realmente mostrar-se a que veio - ou ao que não veio.
Adaptado do livro infantil Nim's Island (2001) da escrita canadense Wendy Orr (especialista em literatura infantil), A Ilha da Imaginação (que como veremos, de imaginativo pouco tem) traz a sempre interessante Jodie Foster, que antigamente era considerada uma das melhores atrizes atuais e hoje em dia está em processo de esquecimento, de 1998 para cá fez alguns papéis interessantes em filmes bons, mas menores, como por exemplo Panic Room (2002) e Elysium (2013).
Nos primeiros 10 minutos A Ilha da Imaginação parece dizer que veio a ser um dos novos clássicos pipocas da tarde, como Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller's Day Off, 1986) ou Conta Comigo (Stand By Me, também de 1986), com um visual ágil e colorido, uma personagem mirim simpática e uma trama que realmente poderia gerar vários acontecimentos paralelos interessantes. Mas passados 20 minutos a imagem do divertido se desfaz e o que vemos são vários problemas narrativos e de uma direção insegura, que começa a abusar de efeitos medíocres e satura a paciência de quem está assistindo.
Alexandra Rover (Jodie Foster) é uma escritora que está passando por um bloqueio criativo, vive sozinha, é antissocial, possui toc, tem fobia aos germes e não gosta de sair de casa. É quando inexplicavelmente surge uma relação entre ela e Nim via email, ambas precisam de ajuda; Nim está sem seu pai e luta contra piratas modernos, Alexandra procura uma aventura ou qualquer coisa que traga de volta seu poder imaginativo, e enquanto isso o espectador pensa o mesmo do filme. Onde ficou a imaginação prometida - pelo sempre objetivo - título brasileiro?
É preciso ter em mente que para se assistir um filme restrito ao público infantil, é necessário que o adulto se coloque limites e tenha uma sensibilidade maior do que está ali sendo apresentado. Só que os próprios diretores não tem essa sutileza, e parecem um elefante entrando em uma loja de cristais japoneses, as piadas e relações ou simplesmente, todo e qualquer momento que poderia ser divertido acaba sendo esgotado antes da metade do filme. E ao todo são 90 minutos que acabam parecendo 140.
São jogadas situações abusivas e absurdas a cada momento na tela, lagartos que espirram, piratas marinheiros, leões-marinhos que dançam, etc. Sem contar a continuidade terrível, por exemplo: Alexandra é parada na inspeção do aeroporto antes de ir para a ilha, precisando deixar seus géis para as mãos. Alguns minutos depois, quando a personagem cai no mar ao redor da ilha, lá estão eles, todos boiando, aparentemente por terem caído da bolsa da escritora. Ou como explicar o vulcão inativo que entra em erupção e depois simplesmente é esquecido na trama? Sendo apenas usado de desculpa para espantar os visitantes indesejados da ilha.
A própria falta de dimensão de espaço também atrapalha, Nim sobe e desce um vulcão duas ou três vezes como se estivesse subindo no sofá de casa; embora isso seja apenas para tornar tudo mais agradável, falta a sensibilidade que eu havia citado antes e acaba tornando tudo enfadonho. Entre vários outros problemas, que se citados aqui detalhadamente, tornariam a crítica tão insensata quanto os 90 minutos citados.
Em súmula, o filme carece de personagens atrativos ou até mesmo de diálogos mais bem trabalhados - alguns chegam a ser ofensivos. Alex Rover por exemplo, é um heroi interessante, mas caricato (lembra muito Indiana Jones) e nada acrescenta a qualquer elemento de sua personalidade ou pior, para a própria estória. Mesmo que seja na sua primeira aparição que um dos poucos momentos mágicos do filme realmente aconteçam, quando a menina Nim está lendo um livro em sua cama e vê todo o resto transformar-se em um deserto cheio de aventuras e mistérios. Uma belíssima homenagem a literatura, e por que não ao próprio cinema. E interessante notar também que de alter ego da escritora, Alex Rover tenha apenas o nome. Ela é o oposto de tudo o que ele "é", representando certamente o que ela desejaria ser, já que nunca realmente nega uma aventura.
Pena que tudo isso seja facilmente esquecido se lembrarmos da maneira brusca como o filme acaba, não se passa nem um minuto em que a escritora (agora amiga de Nim) e o pai da menina se conhecem e na cena posterior, estão andando pela praia apaixonados jogando bola com um coco, tudo isso ao som de U2. Nim's Island poderia ser um belo filme infantil, e não deixa de ser, pois aqui há paisagens maravilhosas, mas quem começar a exigir um pouquinho que seja, acabará como eu, com um gosto amargo na boca.
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