O sonho de ser princesa, recorrente entre as meninas, era a realidade de Alexandrina Vitória Regina. Mas a vida da moça, última de sua linhagem real, não era exatamente um conto de fadas, já que ela cresceu sob as duras "Regras Kensington", que visavam sua proteção a todo instante, cuidando da sucessão do trono. Esses normas rígidas impediam que ela dormisse sozinha, descesse escadas desacompanhada ou mesmo deixasse seu palácio com frequência.
Só que Vitória, apesar da consciência sobre seus deveres, é uma jovem de 18 anos. E, como tal, tem atitudes típicas da idade. Ao longo do filme são facilmente percebidos alguns momentos de menina, onde reações inusitadas, mas perfeitamente compreensíveis surgem. Vitória quer liberdade, mas dentro de um certo limite. Além disto precisa aprender a lidar em um novo meio, onde segundo suas próprias palavras, sente-se como "uma peça de xadrez em um jogo contra sua vontade".
O filme de Jean-Marc Vallée (C.R.A.Z.Y.), com roteiro de Julian Fellowes (Feira das Vaidades), flerta com ideias que parecem arrojadas, como a de um amor igualitário (Vitória já era rainha e poderosa o suficiente, mas viu na troca de ideias com Albert o futuro de seu reinado). Mas é nos ideais do amor romântico que ele efetivamente se encontra. A imagem das escrivaninhas frente a frente, como duas metades de um todo, não deixa dúvida disso. Dá pra entender o fato do filme ignorar temas importantes do reinado de Vitória, como a política expansionista britânica e a Revolução Industrial, afinal, optou-se por um romance típico e nos registros históricos existiram poucos como o da rainha e seu príncipe consorte. Como ela o escolheu para marido, considera-se que o casamento tenha sido o primeiro por amor já realizado na realeza.
Ao final do filme, antes dos créditos, letreiros informarão (e isso não é spoiler, porque é fato histórico) que Victoria é a monarca que mais tempo ocupou o trono inglês: foram 63 anos de reinado, de 1837 até sua morte, em 1901. E então o letreiro completa: “Até hoje”. Sim, porque Elizabeth II, a atual rainha, está no trono há 59 anos. E não há qualquer indicação de que ela deixará o reinado nos próximos quatro anos. Pelo contrário, tudo indica que Elizabeth II, a avó de William, cujo casamento foi acompanhado por um terço da humanidade outro dia mesmo, vai bater o recorde de sua tataravó Victoria.
O argumento é em grande parte, extraído da correspondência entre os dois e de mais alguns fatos inseridos por Fellowes para criar dramaticidade os quais, entretanto, não têm significação histórica, como o atentado contra a Rainha Vitoria, que nunca aconteceu. Vallée, por sua vez, valoriza enormemente o seu trabalho de direção, compondo cenas calcadas pela tonalidade exata da fotografia de Hagen Bogdanski no elemento visual de quadros de mestres da pintura do Reino Unido da época vitoriana, rica em produções artísticas e industriais. Essas cenas são pontuadas pela trilha sonora de Ilan Eshkeri, constituída por temas de sua autoria, mas incluindo também peças de compositores como Schubert (Serenata) e Bellini, o que acentua ainda mais a linha romântica da narrativa. Além disso, ele explora em grande estilo a interpretação dos atores, especialmente dos protagonistas: os novos, mas experientes, Emily Blunt (O Diabo Veste Prada) e Rupert Friend (Chéri). Do elenco de apoio constam também nomes famosos como o de Paul Bettany (Criação), no papel do Premier Melbourne, Miranda Richardson (As Horas) e Mark Strong (Robin Hood).
O filme foi indicado a 3 categorias do Oscar: Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem e Melhor Figurino. Levou somente na categoria Figurino, mais uma estatueta para Sandy Powell que já havia vencido o Oscar duas vezes, a primeira em 1999 com "Shakespeare Apaixonado" e em 2005 por "O Aviador". Powell mereceu demais a estatueta visto que toda as roupas usadas pela realeza, serviçais, aristocracia e todos os outros personagens estão irretocáveis. A direção de arte também está fantástica, recriando com louvor os palácios e todas as outras locações do filme. Perdeu na categoria Maquiagem para "Star Trek", mas poderia muito bem ter vencido também.
“Algumas pessoas nascem mais afortunadas do que outras. Esse foi o meu caso. Mas, quando criança, estava convencida do contrário. Que menina não sonha em crescer como princesa? Porém, alguns palácios não são como se pensa. Até um palácio pode ser uma prisão.” Com esse monologo Blunt sintetiza bem sua condição durante sua juventude, um filme que não é perfeito, mas merce ser visto devido a um grande fato histórico...
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