Um filme que não se limita a não manter o nível da sua abertura; vai rolando ladeira abaixo até esse nível quase não se ver.
Aparentemente, nós seres humanos temos tendência para assumir coisas, nomeadamente no que toca às intenções por trás das ações dos outros. E segundo alguns estudos, a maioria das vezes o que assumimos não é a verdade. Ok, tudo bem (só que não, hehe. Às vezes isso pode levar a problemas de variadas escalas…). Eu tento evitar isso, mas à medida que ia vendo A Lenda da Estátua Nua, meio que não conseguia evitar assumir que o filme foi feito só para exibir Sophia Loren. É muito provável que não tenha sido bem isso – aliás, os filmes costumam ser feitos para gerar retorno monetário ao produtor, estúdio ou whatever – mas desconfio que isso tenha sido parte da razão. Quer dizer, não é exatamente inédito ver filmes que foram feitos não tanto para fazer uma bela obra, mas sobretudo para aproveitar uma metafórica fonte de dinheiro que está a jorrar na altura mas pode parar a qualquer momento. Essa é a mais provável razão pela qual A Era do Gelo tem 4 sequências até ao momento. E estas fontes de dinheiro também podem ser atores que estão no pico da sua popularidade…ou simplesmente estão na moda.
Pois então, Sophia Loren foi uma bela figura para mostrar num ecrã durante muitos anos. Quer dizer, era aquilo que muitos produtores gostariam de colocar no ecrã para atrair público: uma mulher com o dom da beleza. Figura elegante, lábios chamativos, simetria típica das pessoas belas…enfim, por aí. E como os anos 50 não eram uma má altura para fazer dinheiro à custa do charme de Loren…ou pelo menos mostrá-lo ao mundo, sei lá…dá a sensação que este filme foi feito para ter Loren no ecrã. Porque o que sobra do filme à parte de Loren é…bem, quase nada! O que sobra até está lá, mas é de uma pobreza que praticamente não justifica uma longa-metragem. À exceção da abertura, bem entendido.
Falemos então do que o filme oferece…naturalmente, a primeira coisa é a abertura. E essa, como eu escrevi, tem um bom nível. A abertura, de uma elegância quase tão grande como a de Sophia Loren, mostra uma harmonia fantástica entre os créditos iniciais, as aquáticas imagens de fundo e, acima de tudo, a música. As notas e a voz de Julie London ficaram-me na memória, a ponto de a música Boy on a Dolphin fazer parte da minha playlist já há uns meses. E está para ficar, eu acho. Simplesmente, a abertura está muito bem composta, encaixando bem o som com a imagem. E se calhar isso é parte do problema do filme, porque tudo o que vem a seguir é fraco comparado com a abertura. A abertura sobe as expetativas e o seguinte…bem, o seguinte não corresponde, não é? Infelizmente. Pura e simplesmente, o que resta é Sophia Loren e uma receita de desapontamento. Roteiro medíocre, direção insípida, atuações discretas, imagem e som nada extraordinários.
Entre estes pormenores, o que mais me desagradou foi mesmo o roteiro. Já escrevi várias vezes que para mim o roteiro é o mais importante de um filme e o que mais facilmente o salva se todo o resto falhar. Pois bem, este roteiro não salva nada; quando muito, só afunda mais o filme. Haha, afunda, como a estátua que está no fundo do mar! É…brincadeiras à parte, o roteiro falha sobretudo nas personagens. A maior parte não tem consistência, as suas ações raramente condizem com o que vimos anteriormente. A cena em que Alan Ladd (nem me lembro do nome da personagem, de tão esquecível que o filme foi para mim…) aparece pela varanda de Sophia Loren (idem) é um bom exemplo. Trocam um diálogo meio surreal, em que as palavras e ações não batem certo com o que foi mostrado antes. Mais à frente, se bem me lembro, Loren dança um bocadinho e é bonito. Mas depois volta o marasmo. E chega a cena do confronto entre Ladd e Loren, em que as suas personagens parecem revelar que sempre viveram uma relação de amor-ódio a tender para o amor, coisa que o filme não se esforçou para dar a entender. O espetador provavelmente sabe que eles vão acabar juntos – de que outra forma acabaria um filme que funciona quase como uma passerelle para Loren? A garota bonita tem de encontrar o amor, não é? (-__-) – mas seria melhor fazer o “casal” juntar-se de uma forma que fizesse mais sentido. Não é isso que acontece. Infelizmente.
À parte da inconsistência das personagens, o roteiro não conta lá grande história. Sim, é um tema clássico, ética vs. dinheiro. Mas disso há histórias que chegue. Para A Lenda da Estátua Nua ser melhor com esta história, seria importante que ela fosse contada de maneira diferente. Não o é, propriamente. A diferença que a direção podia fazer? Não faz, a direção arrisca pouco e fica-se sobretudo pelo convencional. As atuações memoráveis? Não as há, Loren teve performances bem melhores e os restantes não têm oportunidade para fazer muito melhor.
Na minha opinião, a razão pela qual este filme é tão fraco é mesmo simples, e tão simples quanto isto: no fim de contas, os fatores que podiam tornar uma história ordinária em algo mais memorável não estão lá. É tudo uma pobreza. Que saudades de ouvir London a cantar…:P
PS: Já que o meu perfil informa generosamente que a véspera deste dia, 9 de janeiro, é o meu aniversário – acreditam que eu me tinha esquecido disso até começar a escrever este comentário ontem à noite?! =O Se calhar é resultado de ser solteiro, hehe… – bem que alguém podia dar-me o singelo presente de comentar esta minha opinião sobre o filme, não? ;) Eu gostaria. (Tão carente, lol! Sei lá, deve ser mesmo vaidade minha. Afinal, uma das várias razões pelas quais comento cinema na Internet é a vaidade, não nego…)
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