Dirigido pelo conhecido Tim Burton, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça acompanha a história de Ichabod Crane, um detetive de Nova York que recebe a missão de investigar curiosos assassinatos no pequeno vilarejo Sleepy Hollow. Curiosos porque todos os cadáveres são encontrados sem suas cabeças e isso leva as pessoas á acreditarem que as mortes estão ocorrendo por causa da mística lenda do cavaleiro sem cabeça. Ler uma sinopse dessas e ainda saber que o filme é dirigido pelo mestre da bizarrice deixa qualquer morrendo de vontade de ver uma produção com essas ambições, porém, ao contrário do que eu esperava A Lenda do Cavaleiro sem cabeça não se parece muito com um filme dirigido por Burton.
É claro que a construção da cidadezinha onde a trama se passa é magnífica: Com um ar puramente sobrenatural, a pequena Sleepy Hollow (do título original) tem todas as qualidades que Tim Burton ama dar aos cenários de suas obras: As ruas são ameaçadoras, as casas sinistras, porém, o ponto mais curioso é a floresta em que se passam vários minutos de projeção, já que a quantidade exagerada de folhagem e da presença de uma terra totalmente áspera fazem com que o local se encha de algo que caminha numa tênue linha entre o realismo e o surreal. A direção de arte ainda monta locais visualmente impactantes (obviamente, o destaque vai para a árvore torta que desempenha um importante papel na trama).
Por outro lado, a fotografia não é escura o suficiente para criar uma atmosfera sombria. E por isso, a direção de Tim Burton acaba escorrendo no menos provável: No clima. Apesar de conduzir cenas de ação de forma empolgante (o clímax é, especialmente, eficiente nesse aspecto), Burton não consegue imprimir na tela aquele ar denso de seus outros filmes, se limitando á criar momentos que deveriam ser tensos, mas que acabam falhando pelos exageros do diretor (é incrível, por exemplo, a quantidade altíssima de fumaça usada no set), e por mais que o tom fabulesco seja impressionantemente bom, ele não combina com o roteiro. Além disso, a trilha sonora não é capaz de prender o espectador, escolhendo ficar num lugar mais seguro utilizando acordes que parecem ter sido tirados de outros filmes de terror ao invés de acompanhar o clima da história.
Se mostrando uma versão mais séria de um episódio de Scooby-Doo (o que não é necessariamente ruim) o roteiro acaba sendo o melhor elemento da produção: O mistério envolvendo o assassino prende a platéia, e as inúmeras reviravoltas surgem como imprevisíveis e necessárias para manter o público interessado no que acontece em tela. Além disso, a forma com que as resoluções vão aparecendo é ótima e muito convincente. Por outro lado, o fato de ter um dos personagens por trás dos assassinatos do cavaleiro sem cabeça acaba tirando um pouco da ameaça que ele representa.
Em particular, é bom ver uma interpretação mais contida e equilibrada de Johnny Depp sem aqueles maneirismos e o excesso de maquiagem de seus projetos mais recentes. Além disso, a personalidade e inteligência do protagonista são bem construídas e a forma rápida e abrupta com que o homem resolve os enigmas da trama nunca soam como forçadas. E Christina Ricci apresenta uma competência impressionante na construção de uma personagem que não passa de uma mocinha de filme de monstros. É uma pena que os diálogos entre o casal são sofríveis e muito mal escritos, abusando dos clichês e insistindo em enfiar discursos bobos na boca dos personagens. Além disso, a condução da narrativa acaba sendo óbvia, e por mais que as surpresas funcionem, jamais nos vemos realmente surpresos com um acontecimento em questão.
O pior é que A Lenda do Cavaleiro sem cabeça já nasceu como um filme datado. Em um ano em que tivemos Matrix provando que o cinema podia impressionar, este aqui contém aspectos técnicos duvidosos que acabam sendo mais superficiais do que deveriam: O sangue usado em todos os momentos violentos é visivelmente falso, e a violência gráfica não é a autêntica (os momentos em que vemos as cabeças foras dos corpos das vítimas chegam perto de provocar risos pela ineficiência da maquiagem). No final, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça acaba sendo um excelente passatempo, mas nada além disso. E para um filme que tinha uma sinopse envolvendo vários elementos sobrenaturais e é dirigido por Tim Burton, isso acaba sendo decepcionante.
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