A Maldição de Chucky veio para tocar num ponto sensível comum em muitos dos admiradores de filmes (sim, admiradores. Afinal, não é preciso ser cinéfilo para gostar muito de uma personagem X ou franquia Y): nostalgia. Não sou fã incondicional de nenhum dos filmes do boneco ruivo e desbocado, mas gosto quase que igualmente de todos. Até de O Filho de Chucky, que muitos acham uma aberração enquanto eu me divirto horrores com as sátiras, referências a Hollywood e o humor grosseiro. Claro que eu estava na expectativa de ver o novo, que pouco foi anunciado por aqui. Tanto que foi lançado direto para vídeo.
Se você que está lendo isso for um dos que também querem ver e ainda não o fizeram, mas têm medo de que o filme siga pelo lado mais cômico, como os dois filmes anteriores, aqui vai: pode ver sem medo. O máximo que vai haver são algumas piadinhas sacanas com o tom sarcástico na voz de Brad Dourif, mas isso já é característica de Chucky desde seu primeiro filme.
Sobre o enredo do filme: Nica é paraplégica desde que nasceu. Vive com sua mãe numa casa em um lugar pouco movimentado. Eis que chega à porta uma encomenda para a mãe, e dentro dela está um boneco. Sem nenhuma carta dentro nem nome de remetente na correspondência, deve ser algum mal-entendido. No dia seguinte, uma tragédia: Nica encontra a mãe morta.
Seguinte ao incidente chega à casa a irmã de Nica, junto com o marido, a babá e a filha, que logo se encanta belo boneco Chucky que diz frases fofas. Também vem um padre, que reconhece o brinquedo. Não por ter sido um sucesso no fim dos anos 80, mas sim relacionado a vários casos de assassinato.
Antes de as mortes começarem, há uma cena notável. É uma refeição. Estão todos sobre a mesa, e um dos pratos está envenenado (uma paçoca para quem adivinhar o autor da travessura). Mas nós, espectadores, não temos ideia de quem o está comendo, o que torna a experiência uma espécie de roleta russa para quem assiste. Quando os mistérios começam tudo se torna previsível: nossa heroína, depois de umas básicas investigações, descobre a verdadeira índole de Chucky.
Quando escrevi sobre Pânico 4, no já finado Pudim de Cinema, ou até por aqui no CP, há 4 anos, disse que era um filme com defeitos, só que o saldo foi positivo devido ao fato de ter matado as saudades dos fãs. Aqui é a mesma coisa. Alguns dos efeitos soam toscamente, há erros graves de continuidade e alguns fatos no filme acabam não sendo explicados. Não entrarei em detalhes para não soltar spoilers, assim como não falarei das referências a quase todos os outros filmes da franquia. Devo dizer que elas são ótimas.
Mas chamo atenção para dois detalhes interessantes e ao mesmo tempo frustrantes, que para alguns podem ser spoilers, para outros não. Enumerarei-os abaixo. Lê-los é por sua própria conta.
1- No original, Charles Lee Ray canta todo aquele ritual para que sua alma passe para o corpo de Chucky. Em A Noiva, Tiffany faz o mesmo para que ele reviva. Em O Filho, o atrapalhado e ingênuo Glen também o faz para ressuscitar seus pais. Mas aqui não. Chucky simplesmente está possuído e é só isso.
2- Quanto mais tempo Chucky (ou Charles) passa no boneco, mais este humaniza-se, e fica mais vulnerável a dores e sentimentos humanos. Ao ser morto pelo próprio filho no filme anterior, muito sangue é esparramado ao ter seus membros decepados. Pois bem, aqui ele tem a cabeça novamente decepada, e nada acontece. Vemos o molde de um boneco comum, e o próprio corpo encarrega-se de encaixar sua cabeça no lugar, assim que a mocinha vira de costas. E logo após levar uma facada, voam pedaços de algodão (agora fugiu à mente o nome daquele treco branco que constitui os bonecos por dentro, perdoem-me) ao invés de sangue. E o desgraçado não sente um pingo de dor.
No fim das contas, este filme em nada acrescentou ao cansado gênero. Os que o viram, certamente têm suas intenções, que provavelmente serão satisfeitas.
Cara, depois de Brinquedo Assassino 3, eu desisti. Nem como comédia os filmes funcionavam pra mim. Mas este aqui é bem bom mesmo. Além de engraçado, possui cenas bacanas, como essa do jantar e a situação da protagonista, que aumenta a sensação de perigo real. O melhor desde a trilogia original.
"No original, Charles Lee Ray canta todo aquele ritual para que sua alma passe para o corpo de Chucky. Em A Noiva, Tiffany faz o mesmo para que ele reviva. Em O Filho, o atrapalhado e ingênuo Glen também o faz para ressuscitar seus pais. Mas aqui não. Chucky simplesmente está possuído e é só isso."
Como foi Tiffany que enviou o boneco, fica subentendido que foi ela quem fez o encantamento antes de enviar Chucky para a família de Nica.