O PREÇO DA FAMA
A discussão sobre o cinema e o teatro, sempre foi motivo de grandes discussões longas seguidas de lógico, desavenças. Um por parte do teatro, defende com unhas e dentes sobre a magia de atuar para o público e ter aquela ansiedade já respondidade, de saber se o público gostou ou não de imediato. Além de claro, denominar Hollywood como fonte de dinheiro, sem algum fim que tenha envolvido a arte da interpretação, atuação, direção ou qualquer relação. Por parte disso, o defensor do cinema, por exemplo, usa sob sua legítima defesa que o cinema deixa rico, mais famoso, popular, burguês(de modo que soe como elogio ou virtude), e claro um artista mais reconhecido sob as telonas que mostram mais magia ainda.
Com essas discussões e outras temáticas que se entram dentro de A Malvada(1950), fica mais fácil de intender a trama por si só, como abordadora de uma das conversas, que as vezes se ofuscam durante o filme, mais polêmicas e cansativa de todas, que se funde mais tarde com a hipocrisia e ambição pela fama, que por sua vez deixa a artista desamparada e sem rumo já que o seu objetivo já se realizou.
Margo Channing(Bette Davis, maravilhosa) é uma famosa estrela da Broadway que está apaixonada por Bill Sampson(Gary Merrill), um diretor de teatro que está destinado a ir à Hollywood para ganhar mais dinheiro e fama com filmes. Neste meio tempo, existe uma mulher, Eve Harrington(Anne Baxter, dessa vez só surpreendendo no gran finale do filme). Esta mulher, é contratada parar ser a secretária de Margo. Mas antes disso tudo, á um flashback(o mais bonito do cinema, perdendo apenas para Crepúsculo dos Deuses(1950)) em uma narrativa que envolve vários dos personagens, falando como no título americano, tudo sobre Eva.
Além do maravilhoso flashback, a ingenuidade de Eve se torna tão forte que deixa, Margo assustada, em uma das cenas mais bonitas que aparecem no filme, o preto e branco caídos sobre o maravilhoso cabelo e roupa das duas principais que praticamente movem o filme à vapor, é lindo. A fotografia brilhante de momentos inesquecíveis como a primeira vez em que vemos Margo no palco do teatro em frente ao telespectador é maravilhoso e muito bem posto por Joseph L. Mankiewicz, que depois, nunca conseguiu se superar.
Disto tudo, ainda temos uma ponta de suspense colocada no filme durante a dúvida do que acontecerá com Eve, a famosa malvada no título traduzido em português. A mentira e o preço da fama nunca foram tão bem retratados, a ganancia de viver mais e ganhar mais é maravilhosa, e retratada nos olhos de “conservadores da quinta arte”, que o cinema é o portal mais fácil para isso, e realmente ainda continua sendo(como os filmes comerciais), o que torna a obra atemporal de certa forma. A relação com Cinderela(1950) é enorme e até citada no próprio filme, a hipocrisia e a vontade de se tornar respeitada é tão grande, que não sabemos o que acontecerá depois disso, já que uma vez que alcançado o objetivo, a atriz hipócrita e gananciosa já teria seu “destino” alcançado. Mas, mesmo assim somos respondidos com um dos melhores finais de todos os tempos.
Um fato interessante e intrigante, é que mesmo abordando atrizes e prêmios na busca cega por um prêmio, no caso o prêmio Sarah Siddons até comparado com o Pulitzer, o filme faz uma crítica que pode ser comparada com a significância que muitos atores, diretores, produtores e afins, dão ao Oscar e como são retribuídos no futuro, com nada mais e nada menos do que uma velhice antissocial. Não podia ser ainda, A Malvada(1950) é homenageada por Almódovar em outra obra, Tudo Sobre Minha Mãe(1999), que com certeza ainda deixa mais um retrato do que ele acha sobre o filme, colocado na trama, além de claro, o nome semelhante ao título original da película. Depois que toda aquela vontade de sair bem na frente de todas e ser reconhecida por uma premiação que é considerada como parâmetro para tudo por muitos, não há nada mais a fazer, se não se lamentar e ficar como uma velha atriz de cinema famosa um dia. Com uma mensagem especial, ainda, o que faz o filme atemporal, mostra o reinicio do ciclo pela valorização mundial e seguido de, instantaneamente, desprezo profissional, que talvez nunca será aprendido por muitos artistas, mas que ficará marcado para sempre como um dos melhores retratos.
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