O lar, a habitação dos jornalistas possui suas características próprias, sua natureza única. Escritórios com grandes máquinas de escrever, diversos balcões, papeladas, uns cigarros ali e acolá. De um lado, uma senhora que escreve assuntos de interesses a donas de casa, de outro, homens que escrevem sobre as notícias diversas, mais a frente um jovem jornalista, ainda inexperiente e a grande porta do editor, o proprietário Sr. Boots (Poorter Hall). É um típico escritório pequeno, com a “motivação/meta” pendurada na parede; “Diga a verdade”.
O que é afinal o jornalismo? O personagem de Wilder, Charles Tatum (Kirk Douglas), parece não saber exatamente, mas quem sabe? Contar histórias é a base da profissão, mas a mentira periga na mente do ser humano, o sensacionalismo mora ao lado. Tatum não é um mentiroso completo, mas um artesão das palavras, que as molda a sua maneira, ocultando o fato. Kirk Douglas compõe esse artesão, de forma especial. Tatum não parece possuir ética, sua malandragem e ganância, são figurados através de um Douglas que tenta manipular o próprio espectador, disfarçando em sua figura, um homem equilibrado.
Embora o ditado seja famoso, “não julgue o livro pela capa”, a aparência, a figuração e sobretudo aqui, a capa do jornal, parece ser fiel, limpa, impecável nas mãos do leitor. A Montanha dos Sete Abutres () é principalmente sobre essa ideia errada, da usurpação existente por trás da apenas aparente, perfeição. Somos introduzidos a essa figura de Charles como um malandro e mais tarde que se camufla entre essa figura cafajeste e de herói, dependendo com quem dialoga. Tatum, diferentemente do caso da crônica de Carlos Drummond de Andrade, é incapaz de ser verdadeiro, pelo seu instinto da ganância, não maléfico, mas ambicioso e feroz do ser humano.
O ato da escrita sempre foi violento, mas aqui torna-se mais forte. Não vemos os escritos de Tatum, resta nos pensar, refletir sobre o que ele escreve e que certamente não será o que ele ou nós vimos. Millôr Fernandes disse que “as pessoas que falam muito, mentem sempre por que acabam esgotando seu estoque de verdades”. A ambição de Tatum é clara, mas esse “estoque de verdades” também não seria? A imparcialidade não existe, por que a perfeição não existe e haverá sempre um ser humano por trás de cada palavra. Tatum diz que “o que vende são notícias ruins”, sendo assim, parece que a sociedade também assume sua parcela de culpa, o circo só fica de pé, por que as marionetes são facilmente manipuláveis. Wilder, torna assim, seu discurso sobre a alienação, embora não inicialmente visível, comum, onde a “culpa única e exclusiva” não existe, mas sim a prolongação de uma tragédia nutrida por todos, através de seus olhares, sempre insatisfeitos.
Se em Jejum de Amor (The Next Girl Friday, 1940), Hawks explorava essa ganância de maneira cômica e comum entre todos os jornalistas, aqui Wilder, a observa de maneira mais drástica, construindo a verdadeira fábula do malandro. O fanatismo, o flerte de Norma Desmond pelas telas em Crepúsculo dos Deuses (Sunset Blvd, 1950) parece ser o mesmo de Tatum por um artigo seu nas capas dos jornais, não atoa o fim dessas duas criaturas obsessivas é praticamente o mesmo. Porém, a obsessão não é sempre fadada por um destino claramente trágico? Não importa afinal para eles, apenas que deem seu tempo, sua capa, seus quinze minutos de fama, seu close-up e finalmente, seu espaço no cinema.
Eita Ricardo do avatar da morte a escrevendo bem pra caralho hein???
E esse filme então velho? Podia ter ganhado um 10 hein? Obra-prima!
kkkkkkkk, obrigadão Lucas!