Sonhos, narrativa de filmes de assalto, protagonista com passado traumático e triste, e a complexidade da mente do ser humano, mais um porre de elementos que não me recordo agora, Christopher Nolan cria o que é, até agora, o seu melhor e mais complexo (de modo narrativo e interpretativo) filme do seu ótimo currículo, que provavelmente mostra que ele vem crescendo a cada filme, foi com Amnésia, que ele mostrou sua habilidades de narrar uma história contada do final para o começo de forma orgânica; com Insônia, apresentou uma história que envolvia sentimento de culpa; Batman Begins, ele estudou como ninguém o personagem Bruce Wayne de forma tão profunda e inteligente que este Batman se tornou o definitivo; O Grande Truque, conflitos entre personagens é muito bem mostrado através do roteiro; Batman - O Cavaleiro das Trevas, o injustamente filme rejeitado do ano de 2008, impôe uma discussão moral, sem julgar, mas põe na pauta junto com cenas de ação muitíssimo bem feitas com um roteiro que não caía no clichê e um personagem bastante marcante, apesar de vir dos quadrinhos, o Coringa, que é totalmente mudado, apesar de não perder a essência do personagem. E extraindo tudo o que fez até o The Dark Knight, e colocou no filme A Origem, na qual anda trabalhando há 10 anos, e o tempo foi suficiente para Nolan criar sua obra-prima, um misto de sci-fi, drama, ação e suspense.
Como sempre, se a pessoa ler apenas a sinopse, vai ver muito do que ela prepara você, mas esse filme, mesmo com comerciais revelando a trama após mantê-la em segredo (se ele tivesse feito isso, talvez não daria certo, já que as pessoas ficariam perdidas no começo do filme), ainda surpreendeu em vários aspectos, como o roteiro extremamente bem escrito e a direção que consegue manter o ritmo, mesmo com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, sem fazer a plateia ficar confusa, ainda que o 2º ato, a parte mais emocionante e mais tensa (nunca fiquei com as costas tão grudadas e os ombros tão enrigecidos numa cadeira de cinema), com uma sequência de ação, longo mas não cansativo, ao mesmo tempo que prossegue com a história, e a relação entre plateia e personagens se torna profunda graças ás ótimas atuações de Leonardo diCaprio (cadê o Oscar do cara?), Marion Cotillard (bonita, e além de tudo, talentosa; é demais, né?), Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Cillian Murphy, Ken Watanabe, e pequenas participações de Michael Caine e Tom Berenger, mas que marca presença.
O filme tem uma estrutura de filme de assalto, obviamente, misturado isso com uma ideia de pessoas entrarem na sua mente através dos sonhos, até aí nada demais, qualquer um poderia ter essa ideia para um filme, mas essa ideia foi parar nas mãos certas, nas mãos de Christopher Nolan, um diretor exímio em aprofundar nos sentimentos das pessoas, e ainda abordar uma complexidade moral através deste tema, o que faz do roteiro ser uma preciosidade, em um ano com tantas bobagens, remakes e adaptações. Mas ele não é original, ele bebe de muitas fontes, principalmente Matrix, e até o Vingador do Futuro, sobre sonhos e sobre distinguir o sonho e a realidade, além de outros filmes de sci-fi pouco conhecidos, mas o filme tem boas sacadas como o CHUTE e o LIMBO, que eu não irei explicar para não estragar a surpresa.
A parte técnica é o que faz deste filme empolgante e emocionante, graças a fotografia, sempre fria e escura, como de costume de Nolan; os efeitos especiais, que como em The Dark Knight, funciona para seguir o roteiro, e não jogados gratuitamente como em Transformers; a montagem, que ajuda o roteiro a nunca perder ritmo (destaque para a cena do corredor do hotel com Joseph Gordon-Levitt); e enfim, a trilha sonora do mestre Hans Zimmer, que apesar de, para mim, seu melhor trabalho, funciona bem nas cenas de ação, de drama e de suspense.
É um filme para se ler críticas, opiniões e interpretações, após assistir o filme, pois apesar do roteiro ser complexo, vendo de longe, a história não é tanto, pois qualquer detalhe pode estragar a experiência, que é muito boa, que quando acaba o filme, parece que você acabou de ter um orgasmo, ou tomou uma droga, pois o filme é realmente excitante.
Christopher Nolan é um diferencial dos cineastas de hoje, junto com Quentin Tarantino, pois Spielberg não faz filme por um bom tempo, Scorsese não faz filmes tão bons quanto antes, além de que alguns mestres já se foram, como Kurosawa e Kubrick, no qual há uma comparação boba com Nolan, por ser bastante racional e frio, que apesar de ambos ter estas características, são bastante diferentes.
Agora, no quesito ficção científica, ele é um belíssimo exemplar, muito melhor que as adaptações de obras de Philip K. Dick para o cinema, vendo que o gênero é bastante utilizado em blockbusters, alguns nem tão bons, apesar de bem dirigidos, como Guerra dos Mundos, de Spielberg, este que fez sci-fis melhores como os clássicos Contatos Imediatos do 3º Grau e E.T., pós-2001: Uma Odisséia no Espaço, em que Kubrick conseguiu mostrar que dava para fazer uma obra de arte com este gênero, que era sempre relacionado com filmes B nos anos 50, graças aos filmes de alienígenas (relacionados aos soviéticos, na época). E A Origem mantém a boa reputação do gênero dada por Kubrick, com bons ingredientes do gênero, e muito bem desenvolvido por si só.
Alguns reclamam que os sonhos estão "organizados" para ser um sonho, mas acho que é uma necessidade, pois ia ser bastante confuso para o expectador acompanhar a história que é estruturalmente complexo, e fazer sonhos no estilo de David Lynch, pois é um blockbuster, não um filme independente, apesar de autoral, mas Chris Nolan pôe a arquiteta para construir o sonho, o que torna a "organização" do sonho convincente, e além disso, nem todo mundo gosta de David Lynch, e nem do seu estilo.
Como em The Dark Knight, cada personagem tem sua importância no filme e no seu desenvolvimento, e cada um é tratado com carinho por Nolan, principalmente Dom Cobb (Leonardo diCaprio) e Fischer (Cillian Murphy), que são os personagens mais interessantes da trama.
Se este filme vai virar um clássico, ou um cult, isso só o tempo dirá; mas é inevitável dizer que por enquanto, é o melhor filme de 2010, e a obra máxima de Christopher Nolan, um diretor que tende a crescer cada vez mais.
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