Dois nomes definem a essência de A Outra Face Da Violência, a obra que caminha entre o teor violento, a crítica social, drama pessoal e o estudo de personagem, traz características marcantes e fiéis a dois cineastas impactantes de uma geração, o diretor John Flynn e o roteirista Paul Schrader, que descarregam na obra toda uma visão de mundo e noção estética e narrativa contundentes. A obra se delineia entre traços de ambos. Num olhar geral do filme, pode-se ver a melancólica consciência social de Schrader ganhando vida através da brutalidade de Flynn.
A base da trama é tradicional, um oficial, Charles Rane, retorna da guerra, aqui do Vietnã, após ser mantido como prisioneiro por anos, ao longo de toda celebração em torno de seu regresso à cidade natal, recebe condecorações e dinheiro, o que leva a ser assaltado e consequentemente perde esposa e filho. O que logo se configura é um drama pessoal de um homem amargurado pelos traumas da guerra revestido em desejo de vingança, mas não chame o filme, de apenas um conto de vingança, ele vai bem mais além.
Ao retornar à vida, após sentir todas as dores físicas e psicológicas possíveis, Rane, não enxerga mais a sociedade como antes, perdeu toda sensibilidade, como o próprio diz: arracaram-lhe tudo que havia por dentro dele. E numa visão metafórica, sua constatação pessoal cria uma tensão psicológica em torno dele, ja que sua frase é a prova de que a dor interior machuca mais que a exterior. E para suprir esse vazio existencial, ele encontra na violência uma fuga perfeita, justificando-a numa jornada de vingança sangrenta que se submete sem medo algum, parte por já ter sido calejado pelos temores na guerra, parte por não ter nada mais a perder. E a existência da personagem Linda enfatiza a sua ausência de sensibilidade e dificuldade de se readaptar aos moldes. Linda lhe deseja e é sedutora, mas ele não retribui suas vontades por não enxergar mais a possibilidade de uma vida normal, essa idéia nem paira pela sua cabeça, e não por não simplesmente não a querer, ele está calejado emocionalmente e sentimentos não fazem mais parte de sua vida, a sua própria vingança é motivada mais pelo desejo de algo que faça sentido real do que pela dor da perda.
E como pano de fundo para toda amargura nervosa do personagem está a sociedade que o recebe. Toda uma situação é criada para homenageá-lo e louvá-lo, quando o que ele mais deseja é ficar sozinho, pois nada daquilo faz sentido mais, uma situação superficialmente erguida, não ao seu respeito, mas pelo senso patriótico que nunca prezou por sua vida e sim o enviou para uma guerra armada que lhe matou da pior das maneiras, a que ele permaneceu vivo para sentir a cada dia, que está fadado a viver até que a morte definitiva lhe conforte. E quando perde aquilo que é a única coisa que ainda dá valor, resolve preencher o vácuo em que se encontra com violência.
A brilhante cena do assalto, em que bandidos lhe rendem em casa e começam a torturá-lo e ele permanece indiferente sem ceder a ameaça alguma, mostra que passou por um mal bem pior que aquilo e que a sociedade americana não é muito melhor que aqueles que lhe fizeram prisioneiro e lhe massacraram por anos. E assim se configura a visão social de Schrader, num paralelo entre a realidade da guerra e a sociedade, jogando as semelhanças na tela e mostrando que as distinções só existem na superfície, mas no fundo guardam muitas coisas parecidas.
Ao longo do progressivo estudo de personagem em torno de Rane, o roteiro, inteligentemente, não permite que os principais coadjuvantes fiquem apenas pairando ao redor dele, eles são bem definidos e encaixados no contexto. Linda, a garota que o oficial se aproveita e utiliza em sua vingança devido aos desejos dela por ele, sem o menor peso na consciência, pois já não é mais capaz de discernir a natureza de seus atos, revela que também possui seus traumas e seu destino é tão definido quanto o dele, como ela diz "ninguém dará falta de nenhum de nós dois". Além dela, Cliff, o afeto romântico de sua esposa assassinada, tem uma preocupação natural com ele, prefere segui-lo ao invés de comprometê-lo e irresponsavelmente não envolve a polícia no caso. E por último, o enigmático personagem de Tommy Lee Jones, o único que talvez compreenda Rane, pois passou pelos mesmos traumas de guerra, devido a isso aceita seu repentino convite para partir numa matança em um bordel, sem hesitar.
Toda a obra é constituída a partir de um conceito realista, onde a violência gráfica é essencial que se faça presente e seja explorada sem pudores. A natureza do roteiro de Sharader e do estilo de John Flynn é visceral e agressiva. A historia quer mostrar e não se esconde atrás de suposições, não joga idéias no ar para livre interpretação, é direto e sem rodeios, o que precisa ser visto é escancarado e dessa maneira as intenções dos autores alcançam o espectador com toda força possível.
Bela Crítica Ravel, to até com vergonha da minha.
óh rpz, achei que esse nem tinha sido aprovado, passou direto pela pagina principal!
Hahah vlw Darlan!
Perfeita mesmo a crítica, Flynn estava no auge, juntamente com Schrader!