A Primeira noite de um Homem é uma das maiores comédias românticas de todos os tempos, e se eu fosse fazer uma lista dizendo colocações e lugares dos melhores do gênero teria pena dos concorrentes. Á primeira vista, A Primeira noite de um Homem é um romance divertido, puro e sincero, mas no fim, ele acaba sendo muito mais do que isso, destruindo barreiras narrativas para contar uma história inesquecível. Um dos aspectos mais marcantes do longa é sua estrutura narrativa: Ao contrário de ser dividido em três atos – como a maioria dos filmes - A Primeira noite de um Homem pode ser mais visto como uma história em dois atos que criam uma interessante comparação entre os dois sentimentos propostos pela trama.
Ato Um: Sra. Robinson e o Sexo.
A história de Benjamin começa com seu retorno da faculdade. Numa festa concebida por seus pais para mostrar o imenso orgulho sentido pelo filho, o rapaz reencontra Sra. Robinson uma mulher amiga da família a muito tempo e que pede para que Benjamin a leve para a casa, após recusar e notar que a mulher continuaria insistindo, ele resolve atender o pedido. Chegando lá, ela pede que ele a acompanha para dentro de sua casa, lá o oferece uma bebida e logo Benjamin nota que está sendo seduzido por uma mulher casada. De início, Benjamin recusa, acha uma ideia impossível. Mas, numa noite Sra. Robinson recebe um telefonema do garoto vindo de um hotel, onde os dois marcam um encontro... E assim começa um caso ‘romântico’ entre os dois.
Dustin Hoffman encarna o protagonista com total perfeição (é difícil imaginar outro ator interpretando Benjamin), transmitindo uma delicada e complexa ingenuidade, além de conseguir transcrever sua total inexperiência sexual. E esse é um ponto importantíssimo: Na primeira meia hora do filme, acompanhamos um Benjamin inquieto, já que as incertezas em torno de seu futuro o incomoda diariamente. E esse é o significado, inicialmente, que The Sounds of Silence: o de dúvida, confusão psicológica e pressão por conta do tempo. Isso se dá pela direção maravilhosa de Mike Nichols que cria tomadas de total confinamento intelectual, mostrando situações em que Benjamin simplesmente olha para lugar nenhum e fica ali, parado.
Isso até a chegada inesperada de Sra. Robinson, que diverte o público com suas falas irônicas (os primeiros diálogos entre o ‘casal’ são excelentes, e alguns memoráveis) e suas tentativas de conquistar (sexualmente) o rapaz. Além disso, ocorre uma virada narrativa incrível, já que aquele Benjamin quieto e recluso visto nos primeiros quinze minutos não existe mais, no lugar dele surge um garoto tomado pelo prazer e pela impotência que aparece á partir de sua primeira transa. Aliás, o fato de o protagonista ser virgem o deixa ainda mais complexo e interessante, justificando seu comportamento inconsequente visto posteriormente.
Mas essa reviravolta não ocorre apenas na narrativa, mas também em todos os outros aspectos do longa: Enquanto Benjamin cresce sexualmente, o diretor começa a investir em planos e situações mais sensuais (resultando naquele famoso tape que estampa todos os pôsteres do filme). Além disso, Hoffman transforma Benjamin em uma figura que parece ter encontrado seu destino, que é simplesmente se importar com alguma coisa. Os devidos créditos também devem ser dados para Anne Bancroft que dá vida a Sra. Robinson de forma inteligente e sempre interessante; uma sequência específica explora muito bem os vários sentimentos conflitantes e ocultos (e que não são esclarecidos totalmente pelo roteiro). E a edição ágil e eficiente produz um clima anestésico, mostrando como uma relação apenas sexual pode, aos poucos, se desgastar e perder a graça e o sentido (em uma sequência, maravilhosa, isso é muito bem explorado).
Ato Dois: Elaine e o Amor.
(nesta parte discutirei situações importantes de A Primeira noite de um homem, portanto, é recomendável apenas para quem já viu ao filme)
Outra reviravolta, ainda mais surpreendente que a anterior, é a chegada de Elaine Robinson (sim, a filha de Sra. Robinson), que para Benjamin é algo que tende a apenas atrapalhar o relacionamento com seu real interesse. Após um pedido desesperado feito por Sra. Robinson para que Benjamin não saía com sua filha, o rapaz promete obedecer, já que Elaine não é quem realmente interessa. Porém, após a insistência (e chantagem) de seus pais, Benjamin e Elaine saem num encontro, que termina com os dois marcando um encontro para o dia seguinte, após várias tentativas frustradas do garoto afastar a garota.
E assim se inicia o ciclo realmente importante na vida de Benjamin: O seu primeiro encontro com o amor. Na trajetória dele, Elaine é muitíssimo mais importante do que Sra. Robinson, já que propor a descoberta de um sentimento tão profundo e sensível como este é muito mais marcante do que propor a perca da virgindade. Além disso, Benjamin começa a notar isso com o passar dos acontecimentos: Seu afeto raso, e antes importantíssimo, sentido para com Sra. Robinson desaparece completamente, dando lugar á uma sensação de finalmente ter encontrado seu destino.
E com isso, a jornada de Benjamin dá outra volta e com isso a estrutura do filme também se transforma: Aqueles closes mais sensuais e íntimos são substituídos por cenas mais charmosas e impactantes. Além disso, Dustin Hoffman cresce juntamente com o personagem, apresentando uma atuação mais madura e que representa o desenvolvimento psicológico que Benjamin sofreu (é simplesmente tocante ver um garoto que apenas se sentia bem ao fazer sexo com uma mulher casa, correndo atrás do amor de sua vida). E a química dele com Katharine Ross resulta num envolvimento da platéia com a história.
E como não poderia ser diferente, The Sounds of Silence também recebe outro significado: Ao invés da incerteza, a certeza (é impossível ouvir a música e não se lembrar, automaticamente, dos quinze minutos finais). A certeza de querer ficar com ela, e ninguém mais do que ela. Correr, fugir, correr riscos é o de menos, o que realmente é perigoso é dizer a verdade e tentar reconquistá-la. O mais incrível é que ainda por mais gloriosa que sua jornada seja, Benjamin termina ainda com dúvidas em torno de seu futuro, mas com uma certeza incontestável: Ele será ao lado de Elaine.
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