“Isso vai soar bobo, mas você partiu meu coração e eu estou velho demais pra essa merda.”
À Procura do Amor é um filme sobre pessoas comuns, como eu, você ou alguma pessoa que conheça. Da mesma forma, as situações vividas por essas pessoas não fogem dessa banalidade: uma adolescente acaba de ser aceita na universidade; marido e mulher vivem o dilema em torno da demissão de uma empregada; e o casal protagonista, divorciados de meia-idade que se conhecem e começam uma relação. Não existe nada de espetacular acontecendo nessa produção de Nicole Holofcener. Por outro lado, por trás de todo esse viés de normalidade, existe algo mágico acontecendo: a vida, ora embalada pela doce música de um riso, ora amargurada por um choro salgado.
Assim, não espere ao longo da narrativa cenas marcantes e frases de efeito. As situações vistas aqui podem até vir a tornarem-se marcadas em sua memória, mas isso será muito mais pela empatia com os personagens do que por alguma abordagem inovadora. Albert (James Gandolfini) e Eva (Julia Louis-Dreyfus) são “gente como a gente”: quando percebem estar se apaixonando mal conseguem esconder o nervosismo ao lado do companheiro, o medo de tropeçar nas palavras que faz hesitar durante a fala e aquela ânsia em finalmente beijar os lábios que estão ao seu lado, finalmente libertando-se de um desejo ainda temeroso de não ser retribuído. Da mesma forma, quando os dois embarcam na primeira transa, muito antes de se preocupar com o prazer daquele ato ou com tornar tudo romantizado e inesquecível: o que preocupa é não deixar o parceiro ver as gordurinhas sobressalentes e arriscar um término pela falta de boa forma. Poderiam ser mais humanos que isso?
Mas me precipito. Antes de falar das figuras que habitam esse À Procura do Amor, vamos às devidas apresentações: Eva é uma massagista que está divorciada há alguns anos e convive com a proximidade da partida da filha para a faculdade. Em uma festa ela conhece o divertido – e não atraente, como diz em um primeiro momento – Albert, que tal qual ela, é divorciado e logo verá a filha viajar para a universidade. Logo eles passam a sair juntos e se interessar um pelo outro, descobrindo-se, finalmente, apaixonados. Porém, logo eles enfrentarão um complicador nessa relação, já que na mesma festa Eva conheceu e se tornou massagista e amiga de Marianne (Catherine Keener), que logo começa a revelar diversos detalhes não-agradáveis sobre o ex-marido - e que logo a protagonista descobre ser Albert.
Nas mãos de Nicole Holofcener, que assina o roteiro e a direção da obra, À Procura do Amor se torna um dos filmes mais agridoces do ano. Rimos com seu casal de protagonistas que tanto valor dá ao riso ao lado da pessoa amada – não são poucos os momentos em que os personagens dizem se sentir bem por rir ao lado do parceiro -, mas também sentimos o gosto amargo que o desgaste das pequenas coisas inflige ao cotidiano daquelas duas figuras. Dito isso, por mais leves e simpáticos – ou exatamente em função disso – que sejam os personagens e situações do longa, não deixamos de sentir o peso que determinadas ações despertam, assim, ver Albert em certo ponto se esforçando para deixar sair as palavras que iniciam esse texto é algo dolorido para os dois personagens principais e para o espectador, que precisa ver aquele sujeito com quem se afeiçoou dizer uma frase que impacta não pela intenção de causar o impacto, mas por revelar um sujeito de prosa simples que faz da própria dor um pequeno lapso de poesia.
Conduzido com mão leve por Holofcener, que jamais tenta chamar a atenção para sua câmera, À Procura do Amor valoriza os diálogos e os atores que os encenam, sendo assim, é uma enorme vantagem contar com dois atores em tamanha sintonia como Louis-Dreyfus e Gandolfini. A primeira prova que há lugar para seu talento também na telona – vale lembrar que a atriz é colecionadora de elogios e prêmios pela participação em três seriados de comédia: Seinfeld, The New Adventures of Old Christine e Veep -, equilibrando com precisão comédia e drama em uma personagem que, muito em função do carisma gigantesco da atriz, logo ganha toda a empatia e torcida do espectador. Já Gandolfini, aqui em seu último papel no cinema, já que veio a falecer pouco tempo antes da estreia da produção, oferece um belíssimo canto de cisne em um desempenho brilhante, que pode ser menosprezado por o ator não se entregar a muletas dramáticas em um papel à primeira vista simples. Basta olhar atentamente para perceber o quanto Gandolfini valoriza os pequenos gestos e expressões na pele de Albert, da timidez palpável do sujeito nos primeiros encontros às pequenas pontadas de decepção que tomam seu rosto em diversos momentos, passando pelo excepcional trabalho vocal do ator, que utiliza sua pesada respiração como forma de evidenciar os sentimentos do personagem ao espectador. Uma performance bonita e recheada de carisma, que merecia muito mais reconhecimento ao longo da temporada de premiações – e digo isso sem em momento algum me deixar levar pela morte do ator, já que considero seu trabalho aqui muito superior ao de Bradley Cooper e Barkhad Abdi.
Derrapando por vezes em uma ocasional quebra de ritmo e na falta de desenvolvimento dos personagens coadjuvantes – Marianne parece viver apenas para reclamar do ex-marido; a relação de Chloe (Tavi Gevinson) e a mãe encontra uma resolução abrupta e insatisfatória; o casal de amigos de Eva, Sarah (Toni Collette) e Will (Ben Falcone), acaba jamais ganhando a empatia desejada do espectador -, À Procura do Amor é um filme leve e despretensioso, mas que ao seu término deixa o espectador se sentindo bem e com um gostinho de “quero mais”, ansiando por mais tempo ao lado dos simpáticos protagonistas que acompanhara ao longo dos poucos mais de noventa minutos de projeção.
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