O choque e o vazio
Dizer que A Professora de Piano (2001) é um título chocante é pouco. Mais do que isso, o clássico de Michael Haneke enoja, confunde e machuca. Falamos de um filme que não hesita em invadir uma intimidade asquerosa e nos desafia a compreender um comportamento violento e perturbado.
A magnífica Isabelle Huppert aparece aqui como Erika, uma talentosa professora do Conservatório de Viena. Aos 40 anos, vive com a mãe (Annie Girardot) e mantém com ela um relacionamento instável. Secretos são os seus deleites pela automutilação e o voyeurismo. Sua vida é transformada quando conhece Walter (Benoit Magimel), um jovem que tenta conquistá-la a todo custo.
Acusações de pura apelação pela imagem impressionável contra qualquer outro filme de Michael Haneke seriam injustas. É verdade que o diretor alemão sempre foi talentosíssimo ao unir a perturbação com a crítica social e a estrutura inteligente. Isso não se aplica ao filme em questão.
Aqui, a seqüência de episódios indigestos vai nos distanciando da personagem a cada minuto até chegarmos ao ponto de querermos nos livrar daquele universo demente. Quando a história termina, ficamos sem entender a razão. Nada há por trás do retrato intimista provocante – a não ser, um conjunto de excelentes interpretações (não é à toa que o casal protagonista foi premiado em Cannes).
O valor da obra está justamente aí, dirão alguns. Até pode ser. Talvez a intenção tenha sido essa mesma. Mas a pergunta que inevitavelmente fica no ar, quando colocamos este ao lado de outras produções hanekianas, é por que? O fato é que depois do revertério, o que o filme nos deixa é um doloroso vazio.
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