"A ROCHA VIROU ATRAÇÃO TURÍSTICA???"
O segundo filme de Michael Bay, produzido pelo Midas hollywoodiano Jerry Bruckheimer, é até hoje, e disparado, seu melhor filme. Não só pela estilosa (embora questionável, às vezes) e dinâmica direção de Bay, ou a ágil edição de Richard Francis-Bruce ou a música do sempre competente (e algumas vezes exagerado) Hans Zimmer ou pelos nomes envolvidos no elenco, do calibre de Nicolas Cage, Sean Connery, Ed Harris, David Morse, William Forsythe, Michael Biehn, Tony Todd e John Spencer. Mas também por apresentar algo totalmente inovador e original em sua trama: um vilão justo.
Ed Harris dá vida ao Brigadeiro General Francis X. Hummel, uma lenda viva das forças armadas norte-americanas que perdeu 83 soldados em operações ilegais à serviço dos estados unidos e foram abandonados como se nunca existessem, deixando suas famílias desamparadas. Após protestar contra tamanha injustiça e não ser ouvido, Hummel decide ir ao extremo, mantendo 81 civis reféns em Alcatraz. Caso o governo não pague U$ 100 milhões, para indenizar as famílias dos soldados mortos e pagar sua equipe, Hummel lançará 15 mísseis equipados com o gás venenoso V-X, a mais mortal arma química já inventada. Ou como um personagem se refere, algo que se gostaria de se desinventar. Para combater tal ameaça (já que governo nenhum pagaria para salvar vidas de civis - sem ironia) o governo envia uma equipe de elite comandada pelo Comandante Anderson (Michael Biehn) invadir Alcatraz e impedir o General Hummel de chegar ao extremo de suas ações. E é aí que entram os mocinhos da história.
Stanley Goodspeed (Nicolas Cage) é o melhor bioquímico do F.B.I., especialista em armas químicas, nerd e beattlemaníaco, acaba de receber a notícia que sua mimada namorada está grávida. Uma negação se tratando de missões de campo, Goodspeed agora é o responsável por salvar a cidade de San Francisco inteira. John Patrick Mason (Sean Connery) é um espião britânico altamente treinado que tomou posse de um filme pertencente a J. Edgar Hoover (ex-diretor do F.B.I.) contendo os maiores segredos dos E.U.A.. Preso sem julgamento pelos últimos 33 anos, Mason escapou de duas prisões de segurança máxima, incluindo a Rocha (Alcatraz). O governo oferece perdão total e liberdade para Mason, caso ele coopere na investida, já que conhece os túneis e os labirintos debaixo da ilha. Agora Goodspeed e Mason precisam unir forças e egos para combater um grupo grupo de fuzileiros experiantes, armados com 15 terríveis armas químicas e comandados por um dos maiores combatentes que o Tio Sam já conheceu.
O elenco todo está praticamente irrepreensível. Cage, em mais uma de suas interpretações over the top, alterando momentos cômicos e dramáticos. Connery, em nada se esforça, apenas emprestando sua tradicional elegância britânica ao personagem. Já Ed Harris nos passa todo o drama e o dilema vivido por seu personagem apenas com o olhar. Hummel não é um assassino, muito menos um homem ruim, apenas um herói revoltado contra a injustiça sofrida por seus iguais diante do país que juraram defender e pelo qual deram a vida. E é nele que reside praticamente todo o centro dramático do filme, pois seus dramas são mais profundos. Goodspeed não quer casar e vai ser pai; Mason quer reconciliação com a filha que não vê a 33 anos e Hummel quer honrar a memória e as famílias de seus homens mortos em combate. Pra quem você torceria? Fácil: Hummel. William Forsythe, como o Diretor Paxton é o equilíbrio perfeito entre o despreparado Goodspeed e o calculista Woomack (John Spencer) diretor do F.B.I.. David Morse, como Major Tom Baxter e John C. McGinley como Capitão Hendrix Gunnery dão mais competência ao elenco de apoio. Já Clair Forlani aperece apenas para nos deleitarmos com seus lindos olhos verdes.
O roteiro tenta dramatizar uma ótima crítica implícita ao governo que se gaba de não negociar com terroristas. Ora, é mais fácil ordenar a destruição por completo de Alcatraz, mesmo com os 81 civis inocentes como reféns, do que pagar os benditos milhões.
Mesmo com todo esse talento na produção e no elenco, A Rocha (The Rock, 1996) segue sendo um filme de Michael Bay e, sendo assim, carrões como Ferrarris e Humvees são usados em cenas excepcionais de ação execerbada e descontrolada (e por vezes descerebrada), como visto na eletrizante cena da fuga do hotel, onde um rato de laboratório como Goodspeed mostra uma incrível habilidade para pilotar uma moto enquanto fala ao telefone e Mason não se intimida ao volante de um carro moderno, mesmo tendo passado os últimos 33 anos atráas das grades. Também temos aquele apelo emocional barato, mas eficiente, como na cena (muito bem escrita, dirigida e interpretada) do masssacre da equipe de Anderson. Reservando também alguns momentos de pura tensão, como no lançamento do primeiro míssil ou na cena final do motim dos fuzileiros. De arrepiar e acabar com as unhas.
No fim das contas, unindo o estilo banal e eficiente de Michael Bay, com um elenco em grande forma e um conteúdo crítico muito bem estruturado por trás do enredo, A Rocha acaba sendo o melhor filme do diretor, pois o que ele tem de bom lá está, e o que tem de ruim também, mas muito bem disfarçado.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário