Wes Craven: Quem é fã do terror certamente conhece esse nome. Após reinventar o gênero, mostrando que existia muito potencial e que histórias envolvendo assassino poderiam ser originais e diferentes, com A Hora do Pesalo, o cineasta repetiu a façanha com o lançamento de Pânico (meu filme de terror favorito) que era totalmente diferente de todos os exemplares envolvendo serial killer’s vistos anteriormente. Após isso, a carreira de Craven foi pelo ralo: O diretor foi o responsável pelo terrível Amaldiçoados e em seguida comandou Vôo Noturno que apesar de ter bons momentos, acaba sendo um fracasso também. É uma pena dizer que A Sétima Alma se encaixa perfeitamente nessa segunda fase do cineasta: Sem nenhuma cena que fique na memória por mais de dez minutos, essa nova empreitada do mestre em seu próprio território acabou se mostrando bem mais desastrosa do que deveria.
O pior é que A Sétima Alma tinha uma premissa interessante: Após fazer história na pequena cidade em que vivia, um assassino intitulado de Extirpador morre num acidente, porém seu corpo não é encontrado. Na mesma noite, sete crianças nascem e dezesseis anos depois o assassino retorna, no corpo de um dos sete jovens.
A ideia não era ruim, mas o desenvolvimento dela é: O roteiro não tem cuidado em nenhuma de suas tentativas de prender o espectador vidrado na história. Além de nunca se aprofundar no sobrenatural que ronda a narrativa, o texto dá um espaço fútil e altamente desnecessário para ‘desenvolver’ os dramas dos personagens. O que não seria um problema se a galeria de personagens não fosse tão patética: Além dos inúmeros personagens que marcam presença apenas para cumprir cota (um filme chamado A Sétima alma, precisa de sete almas, certo?), somos obrigados a acompanhar estereótipos que roubam um tempo precioso da projeção, incluindo o melhor amigo que sofre de agressões domésticas, o valentão que só aparece malhando ou chamando a menina para transar, a religiosa que mesmo orando o filme todo não pensa duas vezes antes de ir á um evento no meio da madrugada que tem como centro um assassino impiedoso, e a mocinha peituda e burra que só existe para o interesse romântico do protagonista. E para piorar a situação, todos os atores são péssimos e não convencem em momento algum, chegando ao ponto de provocarem risos sem ter a intenção.
E é horrível constatar que Craven não só é uma sombra do que já foi, como também entrega uma direção digna de filme feito para home-video: Insistindo em usar cenas auto explicativas (por exemplo: um dos personagens diz “ele morreu na ponte” e então vemos a ponte num longo plano de dez segundos), o cineasta restringe o uso do sangue para poucos momentos e usa raramente a violência gráfica, preferindo esconder mortes com uma câmera alta e afastada das facadas e do sangue. Além disso, o lado técnico é muito mal organizado: A trilha sonora é exagerada demais (além de aparecer em cenas desnecessariamente) e, por isso, irritante e inconveniente; a fotografia não sabe o que fazer, ora aposta em uma paleta mais escura e quente, ora é aberta e exageradamente clara. E a direção de arte falha ao querer construir comparações entre cenários: Como quando acompanhamos uma conversa de celular envolvendo o descolado musculoso – em sem quarto repleto de cores fortes e impactantes – e sua namoradinha – com um quarto claro e delicado -, e isso acaba se revelando indiscutivelmente bobo e falho.
Infelizmente, esses são os menores dos problemas de A Sétima Alma: Diferente dos dois trabalhos que marcaram sua carreira, Wes Craven acaba dando vida á um vilão sem um pingo de personalidade, que não tem uma única característica marcante (por causa dos ângulos terríveis que Craven usa jamais conseguimos ver a máscara do vilão inteiramente) e que tenta ser marcante apenas ao repetir uma sentença que não quer dizer nada, o pior é que em momento algum conseguimos sentir uma ameaça real vinda do assassino e por isso suas ações são desinteressantes. Além disso as pistas dadas para que a platéia descubra a identidade do vilão são todas falsas (com exceção de uma tomada) e quando finalmente vemos o rosto por trás da máscara não nos importamos o suficiente para ficarmos surpresos e pensarmos: "Como eu não descobri?".
Não se contentado em criar uma história boba e personagens clichês, o roteiro do filme ainda monta situações ridículas e desnecessárias: Em certo momento uma das mocinhas encontra o protagonista dentro de um cubículo do banheiro feminino e grita desesperadamente, e então, o som de seu grito é intercalado por um de uma sirene, provocando um momento cômico involuntariamente. Além disso, o script consegue ter mais de quarenta minutos de cenas que não levam a história á lugar algum, como por exemplo o evento nos momentos iniciais que reúne os sete aniversariantes e vários outros adolescentes no meio de uma floresta: Qual outra função ela tem á não ser apresentar personagens que logo esqueceremos? E ainda por cima somos obrigados á ouvir diálogos dramáticos idiotas que querem dar uma profundidade aos personagens, e isso nos leva ás cenas que se estendem mais que o necessário, deixando o ritmo do longa lento e cansativo.
E é impossível não comentar sobre os furos (que aqui se transformam em verdadeiros abismos) presentes nos acontecimentos: Pra quê investir tanto na loucura do personagem principal, se a resolução para isso não é tão crucial? Porque criar sub-tramas que poderiam ser excluídas de uma versão mais enxuta do roteiro? E tudo isso fica ainda mais decepcionante ao notar os bons momentos que A Sétima Alma têm: Mesmo que o ‘romance’ entre o protagonista e a mocinha loira seja frágil e nada convincente, ele dá origem á uma cena particularmente boa que enfoca no diálogo dos personagens; a amizade do protagonista e o melhor amigo é bem trabalhada; e em uma sequência é impossível não sorrir ao se lembrar de GosthFace ao ouvir o assassino falando ao telefone com uma de suas vítimas.
Porém é impossível negar que mesmo não sendo um filme torturante, A Sétima Alma não tem absolutamente nada que me faça ter vontade de vê-lo novamente, ou indicá-lo para alguém (nem mesmo para os fãs do gênero). Mesmo assim, é um filme inofensivo e que não causa grandes danos cerebrais (ao menos isso).
OBS: Note que eu não disse o nome de qualquer um dos personagens, resumindo sua persona á uma simples palavra. Isso, porque, não consegui lembrar o nome de nenhum deles.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário