A religião sempre influenciou Hitchcock, que quando criança, estudou em um colégio de Jesuítas. Este respeito e até temor divino, pode ser comprovado quando no final da vida o diretor inglês "reforça" seus laços com a Igreja Católica, uma atitude que demonstra o papel da religião e de sua formação intelectual, quando criança, no decorrer de sua vida. Mesmo que por alguns anos Hitch tenha se afastado da igreja, o respeito divino sempre esteve presente, e sem dúvida alguma, o filme A tortura do silêncio (I Confess) de 1953 não me deixa cair em descrença.
O Padre Michael Logan (Montgomery Clift) ouve a confissão de um homem, Otto (O. E. Heller), onde este confessa ter cometido um assassinato. Porém testemunhar o ocorrido do ponto de vista do assassino se torna um fardo para o Padre, afinal foi a partir de uma confissão religiosa que ele conseguiu tal informação, e desta forma, as normas da igreja o impedem de Falar. Mas o desenrolar do enredo coloca o Padre como principal suspeito do assassinato, assim Logan se enxerga em um ambiente complicado e repleto de dúvidas, afinal, o que ele deve fazer: romper com o sacerdócio e informar a polícia o que sabe sobre o crime, ou assumir a culpa do ocorrido?
Hitchcock, como sempre, nos conduz por um cenário repleto de suspense e intriga. O enredo em si, que já é um prato cheio para o estilo do diretor inglês, é composto de mistérios que ambientam a atmosfera "hitchcockiana" de forma satisfatória e convincente. O espectador enxerga o filme na perspectiva desta dúvida que vive o Padre Logan e isto, de certa forma, o coloca em um ambiente "metade seguro": a todo instante sabemos quem é o verdadeiro assassino, mas certos elementos são lançados de forma gradual, o que torna o ambiente, apesar da revelação do crime, funcional. A presença da mulher é o fator que dita este ambiente, e pra não fugir da lógica de Hitch, a mulher é loira. Trata-se da personagem Ruth, interpretada por Anne Baxter.
A tortura do silêncio é um filme composto por altos e baixos. Em certos momentos, o enredo se perde um pouco, como por exemplo, no processo de degradação psicológica do personagem Otto, que soa como uma forçação de barra e não funciona como esperado. Como principal ponto desta obra destaco os aspectos visuais. Em A tortura do silêncio a culpa se tornou real. Hitch filma vários planos em que uma cruz ou algum símbolo religioso está enquadrado, dando uma sensação não só de onipresença, mas de pressão. O ambiente é construído como se Deus estivesse sempre observando e testando o padre Logan, com isso, Hitch faz com que o espectador sinta o processo de forma intensa e precisa.
Podemos observar, como já foi dito anteriormente, as influências da formação religiosa na composição da obra. Em nenhum momento o Padre fere os princípios religiosos. Desta forma, Hitchcock na representação de Logan, expõe a igreja como um terreno seguro de seus dogmas e convicções, uma fé que apesar da provação dura, permanece inabalável. A tortura do silêncio não é, nem de longe, a obra máxima de Hitch, mas sem dúvida, é um filme onde temos momentos impagáveis de genialidade do mestre inglês. E pra finalizar jogo um pouco de polêmica: a obra de 1953 é um filme pra Católico nenhum botar defeito, ainda mais, em tempos de pedofilia e corrupção no ventre da "Santa da Igreja".
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