Temos aqui uma obra prima com um quase explicito envolvimento aos atentados ao 11 de setembro, um Spike Lee motivado e um Edward Norton em grande forma!
"A Ultima Noite" (25th Hour) foi um filme dramático lançado em 16 de dezembro de 2002 nos EUA, 1 ano e 3 meses após o trágico atentado terrorista ás torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Considerado (com razão) o maior atentado terrorista da história, este grande incidente mudou a história de muita gente, e a de toda cidade de Nova York e se não, a história da humanidade.
Foram mais de 2.000 mortos (contando com os atentados ao Pentágono, em Arlington, Virgínia) e um número assustador de feridos. Um atentado que chocou o mundo por um dia inteiro, sendo relatado em todas emissoras de televisão, estações de rádios e jornais ao redor do mundo, dando ao mundo um sinal de alerta.
A história todos sabem, foi o maior homicidio da década passada, e será lembrado até hoje devido ao famoso "Tribute in Light", uma instalação de arte com 88 holofotes colocados um do lado do outro para simbolizar as torres gêmeas e as pessoas que morreram ali.
É aí que temos os créditos iniciais de "A Ultima Noite". Após uma "cold open" que deixa o espectador sem muito o que pensar, além de rir com "Lei de Doyle", nada mais além disso.
Nisso somos apresentados a abertura, que mostra os holofotes em trabalho junto com o nome do elenco e da produção, com a arrepiante trilha de Terence Blanchard e as deslumbrantes sequências muito bem gravadas do excelente tributo ao WTC.
Ai que começa o grande lançe do filme: a introdução dos personagens.
Na "cold open" somos apresentados á Monty Brogan (Edward Norton), um traficante que junto com seu suposto amigo, Kostya Novotny (Tony Siragusa), resgatam um cachorro que aparentemente foi espancado ou atropelado e largado no meio da rua.
Monty é o protagonista. Após a abertura, somos apresentados á um outro Monty. Alguém arrependido e mudado, ou convertido e pacífico que tenta reeconstruir sua vida com sua namorada Naturelle Riviera (Rosario Dawson) e o cachorro no qual ele resgatou, nomeado de Doyle e tratado como um filho.
Porém, Monty ainda mantinha narcóticos em sua casa e atravéz de alguem, o DEA (Drug Enforcement Administration - Administração de Repressão ás Drogas) chegou até ele e o atuou em flagrante , e o condenou á 7 anos de prisão.
Aquele dia, seria o ultimo dia de Monty antes de ele ir para o inferno e ficar lá por 7 anos. Com base nisso, ele decide fazer daquela noite, a sua ultima noite de glória e felicidade (ou algo mais além).
Monty é filho de James Brogan (Brian Cox), um ex-bombeiro e atual proprietário de um bar. Ele tem dois amigos de infância, o professor de inglês Jacob Elinsky (Phillip Seymour Hoffman) e o empreendedor Frank Slaughtery (Barry Pepper).
Esses 3 são os unicos em que ele confia, de acordo com suas palavras. E faz questão de passar seus ultimos momentos de vida com eles.
O filme se passa em uma Nova York pós-11 de setembro, e mesmo apesar do filme não rodar sobre a história do atentado, ele é um grande monólogo sobre como se tornou morar em NY após o atentado. Em uma sequência do filme, Monty entra no banheiro do bar do seu pai e começa á atirar palavras contra todas as raças, etnias e pessoas que circulam a cidade, soltando a palavra "Fuck" com frequência e não deixando nenhum detalhe escapar. Sem duvida, este é um dos pontos mais altos do filme, aqui temos um protagonista completamente louco, perdido e descrente ("Fuck JC, he got off easy!") e a prova constante de que o personagem não está com a mente no lugar certo. Isto percebemos ao longo das 2hrs de filme, o desejo do personagem de voltar ao tempo e continuar com sua vida.
Monty tinha um futuro brilhante e jogou tudo fora devido o desejo de ser grande de modo fácil: com o crime.
Aqui temos o lançe da atuação maravilhosa do talentoso Edward Norton. Em 2002, o ator já era considerado um dos maiores nomes de Hollywood da época, já que em seu curriculo continha 2 indicações ao Oscar, uma vitória ao Globo de Ouro e muitos filmes que se tornaram febre e até hoje, são relembrados pelo forte impacto cultural ("A Outra História Americana" e "Clube da Luta") e por serem filmes que de uma forma, chocam a sociedade por sua vez ser relatada com realismo em todos os filmes que tem Norton no elenco.
Em A Ultima Noite não é diferente. O ator entrega uma performance sólida, dificil e grandiosa, tudo sob os cuidados de Spike Lee.
Spike Lee assinou a direção deste filme e não decepcionou. Na minha opinião pessoal, um dos melhores filmes do diretor americano é este, onde Spike pode mostrar a cara e conduzir um filme extremamente sério, com referências explicitas ao atentado terrorista, sem temer a censura e o fato de que o filme não foi aqueles com grande bilheteria.
Os americanos não deveriam estar numa fase de reflexão, por isso "A ultima Noite" não obteve uma bilheteria bem sucedida.
Lee na época, já tinha o seu respeito. Indicado á 2 Oscars e diretor cultuado, se mostrou firme e decidido em ousar e impactar com este filme.
Fora a excelente direção, temos em jogo uma trilha sonora perfeita. Deprimente, dark, forte, tudo isso se encaixa perfeitamente na trilha de Terence Blanchard (que esteve do lado de Lee em pelo menos todos seus filmes). Em todo momento do filme, as composições de Blanchard preenchem o ambiente depressivo em que Monty se encontra.
Os coadjuvantes não decepcionam também. Rosario Dawson faz um ótimo trabalho como Naturelle, a jovem namorada de Monty. Fora isso, temos aqui também ótimos trabalhos de Phillip Seymour Hoffman ("Dúvida") , Brian Cox ("Coração Valente"), Anna Paquin ("True Blood") e principalmente a de que eu mais gosto, Barry Pepper ("O Resgate do Soldado Ryan").
Todos conseguem dar vida de forma magnifica ás pessoas envolvidas emocionalmente ou momentaneamente com Monty.
A Ultima Noite é um filme que precisa ser visto com a certeza de que vc não sai de uma sessão comum. Você vê aqui um belo soco na cara, levado por um protagonista perdido em um roteiro cheio de diálogos simples e dificeis de serem engolidos, e sequencias deprimentes que recheiam este drama, que merece ser visto e comentado.
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