A carreira de M. Night Shyamalan estava em alta por volta de 2004, ano em que escreveu, produziu e dirigiu A Vila, um suspense que prometia deixar a todos surpreendidos e grudados na poltrona, trazendo de volta a tona todo o brilhantismo que fez seus filmes anteriores serem considerados clássicos do suspense moderno. Se em O Sexto Sentido o cineasta conquistou a todos com seu talento, com Corpo Fechado e Sinais resolveu expandir estes elementos e inserir novas características em seu estilo que não apenas permitiram um frescor inovador em suas obras, bem como trouxe novidades a um gênero desgastado e tão afundado no lugar comum dos clichês. Seu estilo já era conhecido e identificado facilmente entre o público, e suas produções cada vez mais fantasiosas foram ganhando espaço na sociedade cinematográfica, contando cada vez mais com a participação de grandes astros em suas produções. Agora, o mestre do suspense moderno era destaque entre os executivos das maiores produtoras dos EUA, pois sabia que Shyamalan possuía o dom da escrita e o talento por trás das câmeras, o que atraía também artistas renomados para seus longas, como este aqui, recheado de nomes consagrados.
A produção de A Vila não economizou esforços e levantou, literalmente no meio do nada, uma vila por completo, com tudo o que se têm direito. Casas, jardins, ruas, tudo ao lado de uma intimista floresta aonde iria se desenvolver os fatos. O prestígio do diretor se encontrava em alta, o que fez também contar com interpretações magníficas de William Hurt e Sigourney Weaver, dois nomes do alto escalão de Hollywood, Shyamalan possuía mais cartas na manga, utilizando também os talentos de Joaquin Phoenix e Andrien Brody, respectivamente indicado e vencedor de Oscar, o que traria a este exemplar uma característica que até então não se tinha visto nas produções anteriores do diretor, um elenco estelar trabalhando juntos em prol de dar vida às fantasias de criança de Shyamalan. Ainda reservaria espaço para a belíssima Bryce Dallas Howard (filha do cineasta vencedor do Oscar Ron Howard), talentosa atriz que provou sua enorme capacidade de interpretação no denso segundo capítulo da trilogia USA de Trier Manderlay. Com um elenco de botar inveja em qualquer diretor ou produtora, o diretor tinha tudo pronto para contar sua fantasia aos milhões de fãs que conquistara em pouquíssimos anos.
Shyamalan e suas habilidades de contar histórias de fantasia continuam eficientes, principalmente quando nos convida a conhecer mais de perto uma estranha vila aterrorizada por um ser demoníaco, que caminha pelas noites nos arredores da comunidade. Apenas esta discrição nas mãos de um diretor talentoso como este é capaz de fazer subir um arrepio pelas costas do telespectador, imagina todos estes elementos míticos sendo colocados à prova em um suspense de tirar o fôlego? É justamente estas sensações transmitidas por A Vila, um misto de suspense com emoção, que faz qualquer um roer as unhas de apreensão. A presença de um suposto demônio caminhando pela floresta faz de todos os personagens inclusive quem está assistindo vítimas do poder hipnótico magnífico que possui o cineasta, que não apenas nos deixa interessado no que está acontecendo durante toda a projeção, como também vai fazendo revelações surpreendentes ao longo que a trama vai se desenrolando. Essa relação entre o público e as intenções de Shyamalan culmina em um processo extraordinário de descoberta de cada uma das inúmeras personalidades fantásticas dos personagens centrais, que progressivamente, vão instigando o público a descobrir o que realmente está ocorrendo neste estranho lugar.
Muitos afirmam que várias passagens de A Vila soam forçados, o que discordo completamente. Momentos em que a personagem de Dallas percorre um caminho delicado em meio a uma floresta hostil (sem contar o medo que chega a cortar) são filmados com uma sensibilidade exuberante. Em momento algum a sensação de inverossimilhança toma conta da projeção, pois alguns cuidados são tomados pelo diretor para deixar tudo muito crível e real. Outros afirmar que o desfecho improvável seja o pior defeito do longa, contrariando a lógica. Alguns questionamentos podem ser feitos neste instante, como o fato de nunca ter passado avião naquele local, ou um satélite ter monitorado a movimentação da vila. Mas outra vez entra a maestria do roteiro de Shyamalan, que defende e rebate tais dúvidas através da ação dos veteranos da comunidade, instaurando o medo entre os demais personagens, a fim de evitar quaisquer descobertas desagradáveis. Em relação ao fato de nunca ninguém ter invadido o local, mesmo que seja despropósito, a ponta de Shyamalan interpretando um fiscal daquele local também retira algumas possíveis dúvidas, já que deixa subtendido que ele vigia o local para a comunidade, o que pode garantir que o mesmo afasta os curiosos dali.
Em meio a pontos positivos e outras passíveis de questionamentos, A Vila se mostrou um exemplar bem sucedido da carreira de Shyamalan, o que infelizmente veio a decair por demais a partir de seu próximo filme, A Dama na Água. O suspense fantasioso que se transformou em marca registrada do mesmo, dá lugar a passagens desnecessárias, exageros narrativos que tomariam conta cada vez mais de suas produções, que viriam a frustrar todos aqueles que sempre esperavam uma obra prima cada vez que o indiano anunciava mais um exemplar. Fica a torcida para que volte a encontrar seu caminho, que retorne ao seu trabalho em sua maioria genial, que fuja dos gêneros comuns e dos clichês, e acima de tudo, que seja mais humilde e menos presunçoso.
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