O conceituado diretor Walter Salles, que esteve a frente de grandes sucessos de crítica como Central do Brasil, não conseguiu imprimir nesta obra todo seu talento e criatividade, mostrando que sua investida ao suspense foi equívocada. O trabalho em questão é Água Negra, seguindo os mesmos velhos padrões Hollywoodyanos quando o assunto é suspense envolvendo crianças e espíritos. O grande problema deste filme é justamente não conseguir escapar desta fórmula, sendo que este filme é mais do mesmo.
Tudo que é mostrado em Água Negra já pôde ser conferido em milhares de outros títulos que trabalham com o gênero. Faltou mais tato de Salles em conduzir seu filme e lhe dar ares de originalidade, deixando as coisas mais facéis para os telespectadores. Não dá para saber ao certo o que realmente passa pela cabeça do diretor, tendo em vista que sua trama nunca se fixa em algo, sempre intercalando drama, suspense e leves toques de terror, onde no final das contas, quase não temos nada de bom disso tudo.
O drama familiar do filme é simplesmente ridículo e superficial. Dahlia (Jennifer Connelly) e sua filha (Ariel Gade) possuem uma relação tão distante que todo o drama imposto pelo roteiro acaba por ser ineficiente. As coisas pioram ainda mais quando o foco é a conturbada relação de Dahlia com sua mãe, que é recontada através de alguns flashbacks. Para começar essa relação é a mais mal resolvida de todo o filme, sem contar que pouco faz sentido a trama e seu desenvolvimento.
Água Negra começa justamente enfatizando essa difícil relação de mãe e filha, deixando claro que esse conflito psicológico afetará de alguma maneira Dahlia mais tarde, principalmente na relação com sua filhinha. O problema é que são levantadas várias situações, mas pouco delas ou nenhuma são resolvidas, tendo em vista que a intenção do diretor era contextualizar melhor a personalidade da protagonista, o que não acontece. Apenas rápidas insinuações de como a antiga relação pode ter afetado a jovem.
Aliás, Salles parece se preocupar mais com esse drama familiar pouco interessante ao invés de partir com tudo para o suspense, e fazer jus ao título do filme. A trama perde muito tempo explorando o divórcio dos personagens, os conflitos pela guarda da filha, mas pouca coisa se salva e realmente ajuda a dar profundidade ao filme e personagens. As coisas melhoram um pouco justamente quando Salles se aventura pelo suspense, realizando finalmente cenas interessantes e de apreensão, apesar de poucos sustos que valem a pena.
O clima presente no estranho apartamento onde as personagens se encontram é bom, mas nada que se destaque, devido a milhares de outros títulos já terem utilizados esses recursos. A fotografia escura que é imprimida quase a todo instante contribui para deixar a trama mais tensa, mas também não passa disso. Aliás, alguns velhos clichês não escapam de participar aqui, como o sombrio e misterioso porteiro, servindo inutilmente para chamar as atenções para si, para no final mudar tudo.
O desfecho é problemático, pouco criativo e sem tensão, onde esporádicas passagens lá para o meio da projeção reservam melhores momentos do que estes, sem contar que muitas pontas acabam ficando soltas, a maioria envolvendo o mistério da garotinha do apartamento e suas motivações, principalmente após aparentemente tudo resolvido, a mesma retornar. Fora Dahlia e sua filha, os demais personagens pouco tem a acrescentar ao filme, como o advogado e o ex-esposo da protagonista.
Enfim, Água Negra possui poucas qualidades, e dentre elas a estonteante Jennifer Connelly se destaca. A atriz se esforça para entregar uma atuação convincente, sendo eficiente em sua construção de personagem. O psicológico frágil, a tensão em cenas de suspense e mais algumas características fazem da bela atriz um dos destaques do longa. Sabe aqueles filmes que passam mais de 1 hora construíndo um clima tenso para no final estragar tudo em cenas sem sentido e de pouca explicação? Este exemplar se encaixa perfeitamente.
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