ESCAPISMO PARA ADULTOS DESMIOLADOS
Qualquer pessoa mais atenta sabe que o cinema é, na verdade, um grande negócio, dinheiro. E, portanto, a esmagadoria maioria dos que vão ao cinema ou assistem filmes em casa buscam apenas diversão momentânea. Dito isso, é de se esperar que muitos diretores se preocupem muito mais em agradar o público do que em contar uma boa história ou uma história que mereça ser contada. Por si só, esse defeito, não torna o filme necessariamente ruim. Mas subestimar a inteligência dos espectadores, sim. Pior é constatar que a maioria do público é retardada como a produção do filme previu, e os números não deixam mentir.
Alguém Tem Que Ceder, escrito e dirigido por uma tal de Nacy Meyers, extremamente rentável em suas direções de comédias românticas, sendo este o primeiro trabalho que assisto dela, é um desses filmes "circo", ou seja, feito sob medida para entreter o público imbecilizado, a tal ponto que, assistido por um cinéfilo de bom gosto, causa até nojo. Detalhe que os imbecis em questão são pessoas de meia idade para cima e até (ou principalmente) pessoas da chamada terceira idade!
A tentativa, bem sucedida financeiramente, foi de abordar o tema do amor e da sexualidade na velhice. No entanto, o contexto escolhido para desenvolver a trama é asqueroso, pois o filme tenta a todo momento induzir o espectador a erro, invertendo os valores morais para tornar a ficção bonita e comercial.
Nada mais demente, patético e asqueroso do que pegar um ator de 66 anos e tentar, descaradamente, transformá-lo em um sex appeal. Toda plastificada, a história até parece um conto de fadas. É proposital. Os cenários milimetricamente decorados, com um luxo que tenta convencer que todos podem ter casas assim, com iluminação de cinema. Todos os personagens são ricos, bem vestidos com roupas novas, fazem compras em estabelecimentos que menos de 1% da população tem acesso, mas tudo de um jeito que pareça a coisa mais normal do mundo! O público precisa acreditar nisso! E para acreditar que um Jack Nicholson, que jamais foi bonito, ainda mais roliço e desleixado do alto de seus 66 anos, é um homem que desperta a libido de mulheres lindas com 40 anos a menos, basta utilizar a fama que o próprio tem na sociedade. Basta a arte imitar a vida mostrando o personagem, mais feio que qualquer velho na esquina da sua rua, conquistando as mulheres mais jovens e bonitas com apenas esse "charme", a boca de coringa, a cara enrugada, a barriga em formato de barril, os figurinos de Hollywood. Não é que as mulheres são interesseiras, imagina! É que o ator famoso é bonito com 66 anos. Beleza é ter status! Ou então, basta repetir seu personagem de Laços de Ternura (1984), pelo qual ganhou o Oscar e cuja a temática daquele personagem é praticamente a mesma desse filme (descobrimos assim a "criatividade" da autora). O adulto que estiver assistindo o filme precisa acreditar em tudo isso, assim como que a Diane Keaton é uma gostosa de 57 anos!
As cenas são as mais clichês e falsas possíveis. O texto é pobre tanto quanto a carta de amor entre duas crianças de 5 anos de idade. As atuações constrangedoramente canastronas e até irritantes em alguns momentos (a terrível cena do choro é praticamente uma agressão). O humor passa longe e o tédio toma conta. Mas a sociedade é vulgar, o mundo é injusto, e quem vai ao cinema, ainda mais quem já vê a morte no horizonte, precisa escapar da realidade. Mesmo que o custo seja apreciar um filme de péssimo gosto.
O longa teve orçamento de 80 milhões de dólares - metade deve ter sido usado em publicidade - e arrecadou no mundo todo 266 milhões de dólares.
Diane Keaton e Jack Nicholson concorreram ao Oscar e Globo de Ouro por suas atuações. Keaton ganhou o Globo de Ouro e o longa também disputou melhor filme.
É tão ruim assim viver a realidade ao passar dos anos? A obra parece provar isso.
Obs. 1: o filme é péssimo, mas justiça seja feita, possui pelo menos uma ótima cena super engraçada, quando Jack flagra Diane nua (não é spoiler pois o trailer também mostra).
Obs. 2: estou doando o DVD que paguei R$1,99 no saldão da locadora que fechou aqui em minha cidade, Ribeirão Preto-SP.
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