Com cada notícia, foto ou vídeo que era divulgado na Internet, a expectativa em volta da nova versão de Alice no País das Maravilhas crescia consideravelmente, já que a produção parecia ter um visual arrebatador, além de ter uma história absolutamente perfeita para o novo trabalho do diretor Tim Burton, que é um dos poucos cineastas vivos que tem uma assinatura marcante em todas as suas obras: O espetáculo visual que ele consegue moldar diante de nossos olhos.
Porém, após o lançamento do filme, muitas (muitas mesmo) pessoas saíram da sala de cinema insatisfeitos com o filme, e uma minúscula porcentagem gostou dele tanto quanto eu. Mesmo não sendo um filme perfeito Alice no País das Maravilhas é um filme divertidíssimo, encantador e que consegue criar um mundo fantástico espetacular e minimalista.
Contando uma história jamais vista (uma combinação entre os livros Alice no País das Maravilhas e Alice através do Espelho e ainda uma terceira trama) o roteiro nos apresenta uma Alice muito diferente da que conhecemos: Com dezenove anos, Alice é uma cidadã que vive completamente deslocada dos costumes da sociedade onde vive. A menina entra em choque após um pedido de casamento “surpresa” e – assim como a história original – saí á procura de um coelho branco, vestindo um paletó; escorregando para dentro de um imenso buraco, Alice caí dentro de Wonderland (ou Underland ‘o mundo subterrâneo’ como é dito diversas vezes no filme) e lá descobre que seu sonho na verdade era real, e todas as criaturas que ali vivem acreditam que ela seja a pessoa que irá deter o reinado cruel da Rainha Vermelha.
Como sempre, o mundo criado por Burton é impecável, repleto de detalhes que fazem muita diferença, o País das Maravilhas é construído de forma encantadora e um pouco diferente do que vimos na animação clássica da Disney, aqui Wonderland parece estar em um estado constante de emergência, e isso faz com que o diretor se aprofunde em uma de suas especialidades: Os cenários sombrios e pesados; com troncos tortos e encaracolados, os cenários do filme são de cair o queixo, e esquecemos em diversos momentos que tudo aquilo são simples efeitos especiais feitos em um computador. Além disso, as criaturas criadas pela computação gráfica são eficientes em toda a projeção; desde o gato que desaparece, até chegar aos exércitos de cartas que protagonizam um momento ótimo no ato final da fita.
O roteiro consegue montar uma história interessante que combina As Crônicas de Nárnia com Hook – A Volta do Capitão Gancho, e ainda se mostrar eficaz em prender o público já acostumado com o clima episódico da história original; o roteiro ainda tem tempo de relembrar nossos antigos amigos: Estão ali a lagarta filosófica, o gato risonho, as flores que falam, os irmãos gêmeos gordinhos com nomes que rimam, e (é claro) o Chapeleiro Louco – e chegamos á uma falha difícil de se ignorar...
Como em todo filme de Tim Burton, Johnny Depp aparece extremamente pálido (causa do uso em excesso da maquiagem), caricato, com um figurino escandaloso e completamente irreconhecível, mas o problema não é esse, mas sim o tempo que Depp tem em tela. Roubando o título de protagonista de Alice, o Chapeleiro Louco nunca é desenvolvido o suficiente para seu tempo em tela ser justificável, e uma boa parte das cenas de Depp surgem de maneira forçada e artificial, já que todas aquelas cenas são desculpas para manter um ator principal na frente da câmera.
Porém, isso não seria um problema se a própria Alice não fosse tão mal aproveitada pelo roteiro; a “protagonista” jamais apresenta aquela sede de aventura, ou o deslumbramento com cada nova descoberta no país das maravilhas, o que é uma pena, já que Mia Wasikowska se saí muitíssimo bem (dentro do possível, claro) no papel.
E aqui é o momento em comentar sobre uma fatia curiosa do “bolo”: As irmãs rivais interpretadas por Helena Bonham Carter (Rainha Vermelha) e Anne Hathaway (Rainha Branca) se mostram interessantes suficiente para criar algumas sub-tramas complexas – como a rivalidade (justificada) da Rainha Vermelha. Hathaway interpreta a rainha boazinha de maneira delicada, e exageradamente doce, tudo é muito gótico e sem cor no castelo da irmã branca. Porém, a Rainha Vermelha surge como um dos pontos mais altos do filme: Divertida, cruel, cativante, Helena Bonham Carter consegue criar uma vilã perfeita (e com um cabeção que causa o riso em diversos momentos).
E mesmo que toda a história seja apenas uma base para os momentos tensos e repletos de aventura, mesmo com personagens mal desenvolvidos, Alice no País das Maravilhas é um ótimo filme, um passatempo colorido, divertido e inesquecível... Um conto que sobrevive mesmo com todas as mudanças feitas pelo roteiro, Alice no País das Maravilhas mostra que Tim Burton ainda tem muito á oferecer – mesmo que ainda precise melhorar a complexidade sentimental de seus próximos projetos.
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