Esqueça os personagens fofinhos do filme de 1951 da Disney, esqueça a versão toda enfeitada e carregada de maquiagem e efeitos que Tim Burton fez em 2010. Aqui, a história de "Alice no País das Maravilhas" é contada muito diferente do convencional. Deixando de lado visuais “bonitinhos”, tudo que é apresentado aqui é grotesco e beira o neurótico. O diretor Tcheco, Jan Svankmajer optou em deixar de lado os visuais coloridos e trouxe algo realmente perturbador, que em certos momentos pode causar incomodo.
O filme tem como base, a historia original de Alice, mas diferente do que já foi visto por aí, aqui tudo tem um tom sombrio, de angústia e morbidez. Alice, interpretada com graça pela pequena Kristýna Kohoutová, vive em um casarão que parece estar prestes a desabar a qualquer momento, devido seu estado de conservação, cheio de umidade e quinquilharias espalhadas pelo chão; E é em meio a todas essas coisas que Alice avista um Coelho Branco saindo de dentro de um caixinha de vidro e correndo para fora da casa, a menina decide então segui-lo e o vê entrando em uma gaveta de escrivaninha, Alice decide acompanhá-lo e também entra na gaveta, eis então que ela acaba indo parar no País das Maravilhas, que de “maravilha” só tem mesmo o nome.
A própria queda da menina até o “outro mundo” é algo que já mostra o que vai se seguir durante o filme. Em nada lembra o filme de 51, onde Alice encontra-se num lugar todo colorido, cheio de coisinhas bonitinhas e recheadas de cor, aqui, não. O que é visto, é um lugar escuro, perturbador, repleto de coisas grotescas, amontoados de ferro e bizarrices. O mundo em que Alice cai é na verdade o próprio casarão onde ela vive, só que habitado por seres estranhos, e situações realmente sinistras.
O diretor optou por mesclar a menina atuando no meio de bonecos, fazendo uso da técnica de stop-motion (bem primitiva por sinal, o que se mescla as formas bizarras dos personagens e os tornam ainda mais sombrios) o que deixou o filme com ar bastante surreal. Não são bonecos bonitinhos, mas sim criaturas que assustariam qualquer criança que cruzasse o caminho com qualquer um deles, como por exemplo, a Lebre Maluca, que é um boneco de pelúcia, esfarrapado pelo tempo, com um dos olhos ficando pendurado por uma linha, e com uma chave de corda nas costas que soma mais um detalhe para enriquecer o melancólico ar que o personagem tem, vivendo em cima de uma espécie de suporte com rodas, que o auxilia em seus movimentos. O companheiro da Lebre, o Chapeleiro também tem um aspecto bastante estarrecedor, um boneco de madeira, ruído pelo tempo, de aspecto tenebroso e movimentos precários. Falando nos dois personagens, a cena do chá, aqui não é nada agradável, totalmente o oposto da alegre e cantante cena do filme de 51, aqui a cena tem um ar tedioso, perturbante que causa aflição em certo momento. Isso citando somente alguns dos bizarros personagens e situações que compõe todo a história.
Outro fator que deixa toda a projeção com um tom frio e sombrio é de que, não há trilha sonora em momento algum, e também, o de que nenhum personagem possui fala. Toda a história é narrada pela própria Alice, que dita todas as falas da história.
Diferente, uma visão um tanto quanto particular de uma história que já foi contada várias e várias vezes, "Alice" merece ser visto e ter seu reconhecimento no cinema. Algo muito bem construído e de valor único.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário