É interessante ver a série Alien como um conjunto. Se ao escrever sobre Aliens já tinha comentado que os dois filmes eram totalmente diferentes, depois de ver todos os exemplares da franquia se tornam mais assustadores que o próprio vilão das histórias: Enquanto O Oitavo Passageiro era denso, sensorial, autoral e abusava de um silêncio aterrorizante, Alien – A Ressurreição surge como um mero caça-níqueis feito em comitê, cheio de absurdos e exageros técnicos e narrativos, e com um roteiro que, mesmo divertindo em alguns momentos, é mal escrito e mal estruturado. Você pode pensar – e com toda razão – de que eu esteja fazendo comparações desnecessárias aos demais filmes da série. Então vamos analisar A Ressurreição isoladamente:
A ideia inicial do projeto – que gera o subtítulo – mesmo sendo piegas e extremamente forçada no início, é utilizada pelo roteiro de maneira natural e orgânica, causa de dois simples motivos: Primeiro – A obsessão que a Weyland e seus funcionários têm em capturas e estudar a raça alienígena é algo que está presente na série desde o primeiro filme, assim a proposta de clonar Ripley afim de conseguir o espécime (quase) em extinção é totalmente plausível, o ilógico é que tenham demorado mais de quinhentos anos para pensar ou pôr o plano em ação; Segundo – A história do filme se passa num universo fantasioso, com naves espaciais, raças de vida desconhecidas, planetas recém-descobertos e uma tecnologia muito a frente de nosso tempo, enfim, um universo banhado nos elementos mais marcantes da ficção-científica, fazendo do conceito de “ressurreição” a partir do DNA tolerável.
Isso nos leva a um dos pontos mais frágeis do longa-metragem: A ‘protagonista’. Com pouquíssimos traços da Ripley que nos acostumamos, a personagem aparece na trama como um ser irreconhecível e antipático. Não é preciso que um dos personagens diga “Ela não é a Ripley. É apenas um clone”, apenas ao ver o olhar triste e depressivo de Sigourney Weaver ao ter que matar um dos alienígenas na nave para reconhecermos que nossa heroína realmente não está mais entre nós. Mais uma vez Sigourney Weaver encarna “Ripley” com o cuidado e talento habitual e mesmo que não tenhamos nenhum conflito complexo envolvendo o ‘número 8’, Weaver deixa tudo mais interessante em alguns raros momentos, como quando Ripley encontra a sala onde estão armazenados os mal sucedidos experimentos (1-7) de clonagem, uma cena que mostra a personagem se chocando com a própria natureza (algo interessantíssimo). E chega a ser divertido ver Sigourney Weaver robótica e ainda mais masculina usando de seus poderes numa cena narrativamente estranha, mas eficiente. Em contrapartida, a ideia de colocar Winona Ryder com todas as características da Ripley que vimos em O Oitavo Passageiro, apesar de parecer interessante no início, se revela outra grande decepção, não por culpa da atriz (que até se saí bem no papel), mas pela falta de coesão e peso que sua personagem tem (mesmo que seja responsável pela única reviravolta do roteiro). Dito isso, o restante das figuras presentes na aventura (personagens e seus respectivos atores) são descartáveis e completamente desinteressantes, e para o público seus destinos (sendo mortes terríveis ou uma sobrevivência milagrosa) não fazem nenhuma diferença na experiência.
Adotando uma postura neutra diante das decisão tomadas e levadas adiante pelo estúdio, Jean-Pierre Jeunet (responsável pelo sublime filme francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) “comanda” Alien – A Ressurreição de maneira rasa: Mesmo que tente imprimir alguma marca do cinema estrangeiro no filme, o diretor não desrespeita o exagerado apelo comercial do filme, resultando em cenas pouco inspiradas e que não chegam nem perto da tensão criada por Ridley Scott, das elaboradas e inesquecíveis cenas de ação criadas por James Cameron ou da complexidade dramática de David Fincher, por isso poucas cenas (talvez uma ou duas) de Ressurreição entrariam num possível Top 10 de melhores cenas da cine-série. Alien – A Ressurreição ainda conta com uma parte técnica curiosa: Enquanto os Ets estão mais convincentes do que nunca (os reais e, especialmente, os digitais) chegando a nadar naturalmente em certo momento do filme, direção de arte compõe o exterior da nave de forma incrivelmente convencional e pífia, principalmente quando unida com a incômoda e feia fotografia que além de ser exagerada demais, utiliza cores fortíssimas para causar impacto, mas só trás dor de cabeça e empobrecimento visual. Aliás, é incrível que mesmo a trama avançando quinhentos anos no futuro, a tecnologia (ao menos a primeira vista) parece exatamente a mesma.
O roteiro, por outro lado, é eficiente ao criar e desenvolver (até um nível) algumas ideias interessantes, principalmente aquela que transforma a Rainha Alien de ovípara para mamífera, ou seja: Nada de aliens que saltam e se prendem no rosto de algum hospedeiro que servirá de incubadora para o nascimento do real alienígena, agora os monstros nascem naturalmente já prontos de sua mãe. Repleto de esquisitices Alien – A Ressurreição é não é apenas o pior filme como também o mais trash (o que o elevou para alguns cinéfilos, deixando-o num patamar superior ao longa dirigido por Fincher, é uma pena que o estilo não tenha me chamado a atenção), e que fecha um ciclo narrativo que deveria ter sido fechado com Alien 3. Ao menos, agora depois de tanto tempo após seu lançamento, sabemos que não veremos mais as peripécias do ‘número 8’ nos cinemas. Assim espero...
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