POR QUE, EM HOLLYWOOD, NEM TUDO QUE MORRE PERMANECE MORTO
Tudo bem que Alien 3 (Alien 3, 1992), primeiro filme de David Fincher (Se7en; O Clube da Luta) e – teoricamente – o capítulo final da saga da Tenente Ellen Ripley (Sigourney Weaver) não foi aquela obra-prima que todos esperavam para a trilogia, ainda mais depois de dois filmes extraordinários: Alien – O Oitavo Passageiro (Alien, 1979) de Ridley Scott e Aliens – O Resgate (Aliens, 1986), de James Cammeron. Mas mesmo assim, apesar de todos os seus problemas e sendo o mais fraco dentre os três exemplares, o filme de Fincher apresentou uma conclusão decente para a série, sem qualquer gancho para uma possível continuação de uma série que já se mostrava cansada e necessitada de algo realmente inovador para seguir em frente. Mas quase nada em Hollywood termina bem e a vontade de espremer um pouquinho mais o nome da franquia, na esperança de ainda pingarem alguns cifrões à mais nas contas do estúdio, falou mais alto. Eis que, em 1997, um novo capítulo da série chegava às telonas. Alien – A Ressurreição (Alien – Resurrection, 1997), dirigido por Jean-Piérre Jeunet (O Ladrão de Sonhos, Eterno Amor, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), surgiu na tentativa de propor um recomeço e dar um gás novo à franquia, além de uma abordagem mais ampla e diferente daquilo já visto antes. Em tese, uma expansão do universo de Alien. O resultado, no entanto, foi um filme muito abaixo de seus antecessores, reunindo tudo o que há de pior em todos eles e amplificando esses defeitos, pois apresenta um número maior de furos no roteiro, em comparação ao filme de Cammeron e possui uma narrativa mais inconstante do que o filme de Fincher.
Co-produzido por Sigourney Weaver (assim como no terceiro filme), Alien – A Ressurreição se passa 200 anos após a morte de Ellen Ripley. Durante estes anos, A Companhia vem tentando reproduzir espécimes através de resíduos mortais de Ripley deixados no local de sua morte. Após inúmeras tentativas falhas, um clone perfeito de Ripley, enumerado como ”8”, finalmente foi desenvolvido e consigo um espécime. Uma Rainha, como a que Ripley carregava no ventre na hora de sua morte. Criadas separadamente, Ripley e a Rainha compartilham características genéticas de ambas as espécies. A Rainha herda e desenvolve um útero, tornando-se capaz de gerar crias sem o auxílio dos parasitas e Ripley desenvolve força sobre-humana, sentidos aguçados e fator de regeneração, além de uma ligação natural entre os dois indivíduos. Contando com o auxílio dos mercenários da nave de contrabando Betty, a companhia adquire corpos para iniciar um processo de incubação e “produção” de novos espécimes para serem estudados e trabalhados como armas biológicas. Obviamente, os espécimes escapam e inicia-se uma corrida para sair da nave com vida.
Só no esboço acima, pode-se enumerar um série de incoerências na base do roteiro de Joss Whedon, diretor de Os Vingadores (The Avangers, 2012) e Serenity - A Luta Pelo Amanhã (Serenity, 2005), sem dúvidas, o pior dos quatro filmes. Por exemplo, Ripley havia destruído o último exemplar da espécie ao lançar-se para a morte no terceiro filme, sendo este exemplar uma Rainha. Ao clonar a Rainha, como é dito no próprio filme, esta herda um útero de Ripley, gerando espécimes em seu ventre e não em ovos. Daí eu pergunto: de onde saíram todos aqueles ovos que aparecem no filme, tanto na câmara de incubação, quanto no nível inundado? Se alguém souber, por favor, me ajude. Peço ajuda também para entender outro fato estranho evolvendo as criaturas. Na sala de experimentos, havia sete ovos, contendo um parasita cada. Também havia a rainha. Se entendi direito, somam-se oito Aliens. Ao que Ripley mata um espécime, o cientista chefe afirma haver mais doze criaturas na nave. Ou seja, ele acaba de confirmar que havia treze Aliens na nave. Nunca fui mestre em matemática, mas não descobri de onde surgiram estes outros cinco Aliens.
Mas as bizarrices do medonho roteiro de Whedon não param por aí e não se restringem apenas aos Aliens. Os personagens também nos contemplam com ações estúpidas de doer e suas peculiaridades. Por exemplo, não consigo compreender por que Elgin (o desconhecido e subestimado canadense Michael Vincott, de Vlad – O Príncipe das Trevas, O Conde de Monte Cristo, The Doors – O Filme e Na Teia da Aranha) arriscaria a vida para pegar uma única pistola no meio de um estreito corredor com a maior cara de arapuca do capeta, sendo que ele estava armado até os dentes com as armas mais potentes disponíveis. Burrice total. Assim como na cena da morte de Christie (Gary Douran de Quinta-Feira Violenta), acho que seria muito mais simples ele apenas sacudir o pé e derrubar o alien morto que havia ficado pendurado nele, ao invés de se jogar para a morte. Tentativa idiota de tentar dramatizar a cena. E nesta cena, descobrimos que os Aliens cospem ácido!!!! Por que nunca fizeram isso antes??? Ah, e eles também nadam!!! Mas nada se compara à personagem Cal (Winona Ryder), o robô mais chato de toda a franquia. Primeiro porque um robô emotivo, que choraminga à toda hora é demais para mim. Segundo, por que ela protagoniza as piores cenas do filme, ou pelo menos as mais difíceis de engolir. Como ela pôde ficar bêbada se ela é um robô??!! E de onde ela tirou o spray com o hálito do general?? Whedon passa a impressão de quem não está nem aí para os furos e absurdos de seu roteiro e os ignora por completo, talvez na esperança de que os ignoremos também. Também estranhei o tempo de incubação dos aliens no corpo humano. Em uma cena, acompanhamos sete humanos sendo expostos aos parasitas. Lá pelo final, um destes humanos é encontrado ainda vivo, muito tempo depois dos outros já terem gerado seus aliens, e ainda assim ele resiste até a cena que antecede o "clímax". Por que seu tempo de incubação foi maior? Terá sido apenas por conveniência do roteiro? Creio que sim.
O elenco, repleto de nomes de peso, está mais irregular do que gol do Corinthians. Winona Ryder faz um trabalho medíocre como a sintética da vez, mas justiça seja feita, seu personagem é o pior do filme, tem as piores falas, ações e cenas. Uma espécie de substituta mecânica para Newt, do segundo filme, na tentativa de estabelecer um relacionamento afetivo com a nova Ripley, tentando humanizar os dois personagens. Michael Vincott, nem tem tempo de trabalhar seu personagem, pois Elgin passa a impressão de que será um dos protagonistas do filme e, depois é retirado subitamente de cena, numa infeliz tentativa de chocar o espectador. Ron Pearlman (Hellboy; Caça às Bruxas; Círculo de Fogo) está muito à vontade no papel e seu Johnner vai crescendo e ganhando força com o desenrolar da trama, merecendo destaque. Outro que vai bem, até certo ponto, é o irreverente Brad Douriff (Brinquedo Assassino; Vício Frenético; O Exorcista III), mas recebe um personagem pessimamente aproveitado pelo roteiro. A personalidade de seu personagem muda drasticamente ao longo do filme, passando do cauteloso e obstinado cientista responsável por clonar Ripley, devotado ao trabalho, mas ciente de seus riscos, para um doido varrido sem o menor sentido ao final. Ridículo. Mas a maior decepção de todas fica por conta da protagonista. Visivelmente incomodada com essa nova versão de Ripley, Sigourney Weaver faz seu pior trabalho dentro da franquia. Uma atuação digna de pena. Mas volto a salientar, a culpa maior é do roteiro que não dá margem para nenhuma inspiração de tão ruim.
Mas algumas coisas ainda são aproveitáveis em Alien - A Ressurreição. O visual dos aliens é o melhor até então aproveitado e sua interação e movimentos agradam muito, como se vê na cena dos aliens nadando. Assim como algumas cenas que se destacam, como a de Ripley encontrando seus vários clones deformados, incluindo um ainda vivo, que implora pela morte. Uma cena forte e até perturbadora. Completamente inútil à trama, pois Ripley já sabia que era um clone, mas ainda assim uma bela cena. Porém, a cena final é o que há de mais insoso e idiota em filmes do gênero. Porque aquele alien feiozão não matou Cal de uma vez? E o jeito com que ele é destruído é mais engraçado do que assustador, além de pouco inspirado, já que Cammeron usou do mesmo artifício em seu filme, porém com muito mais inteligência.
Se pelo menos esta bomba que foi Alien - A Ressurreição tivesse servido de exemplo para que se deixasse quietas grandes franquias, à menos que algo realmente bom surgisse para impulsioná-las para frente, ela teria alguma utilidade. Mas nem pra isso o filme serviu. É de longe o pior dos quatro filmes, sendo inclusive desconsiderado pelos fãs. Um triste retrato do que vem acontecendo com absurda freqüência em Hollywood, que insiste em usar títulos consagrados para atrair investimentos e - principalmente - lucros com filmes medíocres que muitas vezes jogam no lixo o trabalho de muita gente. Alien - A Ressurreição já nasceu morto.
Pois é bicho foi exatamente isso que pensei, ou então um conceito diferente, já com dna humano inserido nele poderia haver um novo comportamento. uma criatura escrota, mas mais racional talvez. Assim fosse teria aberto espaço para um quinto filme...
Pois é bicho foi exatamente isso que pensei, ou então um conceito diferente, já com dna humano inserido nele poderia haver um novo comportamento. uma criatura escrota, mas mais racional talvez. Assim fosse teria aberto espaço para um quinto filme...
A mitologia já era fantástica. Se tivessem feito isso, poderiam utilizar neste novo filme ou mesmo na franquia AvsP.
pena que vacilaram. Agora é torcer pro Scott e o blomkamp botarem a saga no eixo.