É difícil encarar Aliens – O Resgate como uma continuação direta de Alien – O Oitavo Passageiro. Apesar de se passarem no mesmo universo, terem a mesma protagonista e o mesmo vilão (aqui, no plural), os dois filmes são completamente diferentes em quase todos os seus aspectos desde os técnicos até os narrativos. Isso se dá, principalmente, pela mudança de diretores, e portanto, a mudança de objetivos que o filme quer alcançar. E isso, de certa forma, é excelente, pois quando um longa faz sucesso e dá um bom retorno financeiro (algo que aconteceu com O Oitavo Passageiro) dificilmente vemos uma continuação utilizando uma fórmula diferente da do filme original, afinal se seguir os mesmos passos o número dois pode fazer tanto sucesso quanto seu antecessor. O mais drástico é que essas mudanças (extremamente sutis em algum momentos, mas nítidas em outros) acabam mudando também o gênero da franquia, algo que acaba soando necessário e natural.
Começando a partir do gancho deixado no final do primeiro filme, a história de Aliens começa com a heroína Ripley sendo encontrada depois de cinquenta e sete anos de sono. A “mocinha” acaba sendo convencida a voltar ao planeta onde sua tripulação encontrou os ovos alienígenas que começou com o terror dentro da Nostromo, afim de resgatar famílias que estavam vivendo no lugar sem saber da existência dos seres. Após chegar em seu destino, a equipe encontra a maioria da população servindo como hospedeiro para novos aliens em desenvolvimento. A única pessoa que sobrou do imenso massacre foi a pequena Rebecca (mais conhecida como Newt), que vê em Ripley a figura de uma nova mãe disposta a leva-la em segurança para casa. Mas é claro que, antes de saírem do planeta, há um problema na nave impossibilitando aqueles que sobreviveram ao primeiro ataque abandonarem o local.
Como já comentei, é interessante notar as consequências que a mudança de diretor provoca na continuação: Abandonando o tom tenso e praticamente insuportável criado por Ridley Scott no longa original, James Cameron foca, principalmente, nas sequências de ação, e que funcionam maravilhosamente bem (quatro delas são absolutamente inesquecíveis), dando mais importância aos efeitos especiais do que á construção do clima, o que passa longe de ser um defeito já que Cameron se dá muitíssimo bem com os mecanismos de filmes de ação. E mesmo que tenha uma quantidade muito maior de efeitos visuais do que o original, Aliens – O Resgate acaba escorregando em certos momentos com o uso exagerado, incômodo e datado da green screen – em especial quando vemos naves voando e explosões em larga escala. Algo que é compensado pelo fabuloso design de produção que monta cenários de cair o queixo (o ninho guardado pela rainha alien é, particularmente, espetacular) e criaturas perfeitas (destaque também para o aparelho mecânico, que deve ter inspirado Cameron em seu Avatar).
Voltando a viver a heroína Ripley, Sigourney Weaver confere a força e impotência necessária para estabelecer a tenente como uma grande protagonista de ação, além de estabelecer um laço afetivo interessante bom a garotinha Newt que se contrapõe a relativa masculinidade presente na personagem, o que rende ótimas situações que exploram esse ponto materno criado pelo enredo e ótimos momentos de Sigourney Weaver. Os personagens de apoio são curiosos: A início todos eles parecem caricaturas padrões de filmes de guerra, mas conforme a trama se desenrola, vamos aprendendo mais sobre suas respectivas personalidades e nos surpreendendo com o que aquela pessoa fez.
O bom é que mesmo adotando essa linguagem mais ágil e alucinante, Aliens pouco fica devendo para o original quanto o quesito suspense: Os quarenta minutos finais – e alguns outros - da película são assustadores, revoltantes e extremamente tensos (em certo instante, me vi gritando com a Ripley por não ter seguido o conselho que dei para ela alguns minutos atrás). O script também tem seus créditos, afinal ele é o responsável por ampliar assustadoramente a mitologia e o universo criado por O Oitavo Passageiro. Imprevisível, emocionante e dramaticamente eficiente Aliens – O Resgate funciona como uma continuação de uma obra prima da ficção científica, e também como um filme a parte e igualmente genial. Agora estou curioso para ver se David Fincher (nesse eu confio) e Jean-Pierre Jeunet vão manter o excelente nível que se estabeleceu nos dois primeiros exemplares da franquia.
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