A EXPANSÃO DE UM RICO UNIVERSO
James Cameron é um veneno para o cinema. Além de ter impulsionado a carreira dos intragáveis Bill Paxton e Sam Worthington, seus filmes de maior sucesso, Titanic (1997) e Avatar (2009) - dois dos maiores recordistas de bilheteria da história -, são obras de nível artístico baixíssimo, com roteiros frágeis e cheios de furos, interpretações fracas, diálogos risíveis e conteúdo quase nulo, sustentados apenas pelo seu - irrepreensível - espetáculo visual. Não à toa, dois de seus filmes mais divertidos são praticamente desconhecidos: Piranhas II - Assassinas Voadoras (1981), seqüência da paródia clássico Tubarão (1975), de Spielberg e True Lies (1994), uma comédia cheia de ação com Arnold Schwarzenegger e Jamie Lee Curtis.
Porém, é preciso reconhecer que, quando tem um material de conteúdo em mãos, sua direção rende bons frutos. Assim foi em O Exterminador do Futuro (1984) e O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final (1991). Sendo assim, como Ridley Scott deixou um leque de possibilidades em aberto com sua obra-prima máxima Alien - O Oitavo Passageiro (Alien, 1979), Cameron precisou apenas adaptar o thriller de terror espacial do diretor britânico aos moldes de blockbuster, bem ao seu modo. E o resultado....foi Aliens II- O Resgate (Aliens, 1986), um filme excelente!!!!
Embora o roteiro apresente uma quantidade quase absurda de furos e brechas, Cameron expande o universo do filme original, abandonando o ambiente claustrofóbico da Nostromo e ambienta a trama em uma colônia em LV426, planeta visitado pelos personagens do primeiro filme, resultando no "contágio" de Kane.
Cameron abandona de vez a atmosfera do filme de Scott e assume de vez sua obra como um filme de ação legítimo, sem muita apresentação ou desenvolvimento de personagens. Os fuzileiros, por exemplo, durante boa parte da projeção, aparentam ter a mesma personalidade, sendo todos eles durões e auto confiantes. Somente Carter Burke (Paul Reiser) e o Tenente Gorman (William Hope) são melhor trabalhados, ainda que o mínimo possível.
Como todo blockbuster que se preze, Aliens II - O Resgate, é abarrotado de clichês e furos em seu roteiro. A composição dos personagens, por exemplo, é genérica e óbvia demais: o traidor ganancioso, a durona, o líder involuntário, o malandro irresponsável, o fraco que se sacrificará na hora H, etc. Porém, um personagem passa despercebido, mas tem uma função interessante na história: o Tenente Gorman. Gorman é o contraponto direto às fortes e racionais ações de Ripley. Sua notável inexperiência e falta de atitude diante de um obstáculo põe todos em risco na cena do embate entre os fuzileiros e as dezenas de Aliens.
A estrutura do filme também não apresenta nada de novo, iniciando com uma simples missão de resgate perigos surgirão, um flerte sem o menor sentido entre a protagonista e um bonitão se iniciará e tudo irá culminar, como sempre, em uma explosão catastrófica.
E os furos no roteiro já começam logo no início da trama. De onde a câmara de crio-sono tirou energia para manter Ripley (Sigourney Weaver) viva por57 anos espaço à fora? E mais: equipes de resgate e colonizadores, em 20 anos de trabalho, nunca encontraram sequer um vestígio de vida hostil em LV426? No ataque do alien à nave da sodado Ferro, como o Alien entrou sem ser notado? E como ele abriu a porta da cabine do piloto? No primeiro filme, Ripley não usa uma arma sequer o filme todo, mas aqui, com uma ou duas dicas do cabo Hicks (Michael Biehn), elá já sai até improvisando armas com lança-chamas e lança-granadas. A Rainha pegando um elevador também é forçar demais a barra. Aliás, de onde Ripley tirou forças para suportar o peso da Rainha pendurada no seu pé, sem falar do vácuo do espaço a puxando sem dó, enquanto ela segurava-se apenas com as mãos em um degrau de uma escada de ferro? E por aí vai.
Outra coisa que difere as obras de Cameron e Scott: a maneira como os aliens são tratados. No filme de Scott, havia uma preparação toda especial, uma trilha tensa (ou a ausência dela), criando uma aura de respeito, temor pelo ser espacial. No filme de Cameron, os aliens surgem em números incontáveis, o que os torna - aparentemente - mais frágeis, pois vérios são exterminados pelos fuzileiros à cada investida. Talvez tal artifício tenha sido usado para salientar o poder da Rainha. Se foi esta a intenção, o filme acertou em cheio. Foi neste filme que ficou estabelecido o comportamento dos Aliens semelhante ao dos insetos, como abelhas e formigas.
Mas então, o que faz o filme de Cameron tão bom quanto o de Scott? Simples: o filme de Cameron, como já dito antes, contribui - e muito - para o universo dos xenomórficos. À começar pela inserção de dois personagens clássicos da série: o sintético Bishop (o talentoso bad boy Lance Henriksen) e a Rainha. Além de pôr a Companhia como agente direto na trama, personificada no previsível, porém interessante personagem Carter Burke.
E naquilo à que se propõe, Aliens II dá show. A Ação é contínua e espetacular. Se no primeiro filme o combate com a criatura era praticamente zero, aqui, tiros e granadas é o que não falta. Com o maior número de personagens, aumenta também o número de mortes que, francamente, é que se espera em um filme como este.
Sem falar que algumas cenas de Alien II - O Resgate tornaram-se clássicas na série, como a cena da aparição da Rainha ou o embate de Ripley com esta; a cena de Bishop mostrando suas habilidades com a faca em Hudson (Bill Paxton); a cena da morte do meso Bishop ou aquela em que ele segura Newt para que ela não seja sugada pelo espaço; o Alien surgindo da água atrás de Newt, entre outras.
É uma pena - e um absurdo - que na versão nacional, principalmente quando vai ao ar em tv aberta e até mesmo em alguns canais fechados, muitas cenas importantes tenham sido crtadas ou mesmo excluidas por completo do filme, como cenas dos trabalhadores na colônia em LV426, ou a cena em que Ripley busca informações sobre sua filha (algo que retira completamente o sentido da relação mãe/filha entre Ripley e Newt), díalogos importantes no inquérito para apurar os eventos ocorridos na Nostromo e o ataque aos pais de Newt. Até quando vamos ter que aturar esse descaso com os títulos que chegam por aqui?
James Cameron não conseguiu pôr seu filme no mesmo patamar do de Scott, mas chegou o mais próximo possível. E isso, por si só, já faz de Aliens II - O Resgate, um dos grandes filmes de ficção dos anos 80.
Seria uma boa opção.
"É uma pena - e um absurdo - que na versão nacional, principalmente quando vai ao ar em tv aberta e até mesmo em alguns canais fechados, muitas cenas importantes tenham sido crtadas ou mesmo excluidas por completo do filme, como cenas dos trabalhadores na colônia em LV426, ou a cena em que Ripley busca informações sobre sua filha (algo que retira completamente o sentido da relação mãe/filha entre Ripley e Newt), díalogos importantes no inquérito para apurar os eventos ocorridos na Nostromo e o ataque aos pais de Newt"
Christian, essas cenas que você citou fazem parte da versão estendida, que felizmente foi lançada em DVD aqui no Brasil e realmente enriquecem muito a obra.A versão original do cinema, não possui essas cenas, e deve ter sido essa a versão que passou na tv a cabo(tv aberta não conta pois eles sempre mutilam os filmes).
É bem isto mesmo Danilo. Já assisti as duas versões e confesso que prefiro a do cinema, visto que não acho necessário estas cenas da versão estendida que apenas prejudicam o ritmo da projeção. A relação de Ripley e Newt independe destas informações extras, visto que fica bem claro para o público o elo mãe/filha que se constrói entre elas durante o decorrer do filme. Quanto a versão para a TV aberta é melhor nem comentar.
Confesso que não sabia e agradeço o esclarecimento. Descobri recentemente que a versão que eu conheço de Blade Runner é a versão do diretor, lançada em 1991. Esta de Aliens eu adquiri logo que comecei a colecionar filmes e percebi que haviam estas cenas à mais. De novo, agradeço o esclarecimento.