O cinema independente de Jarmusch, se assim podemos chamá-lo, parece se limitar a esse círculo. As razões, se há de fato, podem ser a morosidade na condução da trama, ausência de história (e, ouso dizer, um certo solipsismo na direção). Ao caminhar para assistir ao filme “Amantes eternos”, a pálida noção de que seu diretor faz parte do grupo dos “alternativos”, “independentes” ou “cults” (termos entre aspas para amenizar a (possível?) tolice desses rótulos) pode nos encher de curiosidade e expectativas – uma vez que já sabemos do termo – que nunca fazem bem de fato para uma apreciação artística. Mesmo receoso de, na verdade, ter as impressões a respeito do filme influenciadas por aquelas expectativas, ousamos fazer um comentário, esperando uma indulgência sobre o nosso julgamento que certamente não tivemos para com o filme.
A tentativa, ou a ideia, de Jarmusch fazer um filme sobre amor e vampiros redundou em uma película que não fala nem de uma coisa nem de outra (mas se essa era sua intenção, acertou em cheio!). Um idiota ou um sábio diria que se trata do pior filme para exibir em uma sessão cujo tema fosse amor ou vampiro. Antes que alguém diga que essa opinião advém do fato de ele não ser cheio de pieguices e cenas românticas (no tocante ao “amor”), nem de sangue, dentes assustadores, truques mágicos (referente ao “vampiro”), eu diria que falta, simplesmente, amor e vampiro.
A insistência em comentar aqueles aspectos se justifica pela proposta do filme – que se percebe à primeira vista – e pelo desenrolar da história (fatigante, por sinal). A despeito disso, devemos tentar comentar sempre aquilo que o filme realizou, não o que ele poderia ter feito. No caso de “Only lovers left alive”, somos apresentados logo de início aos dois protagonistas em seus aposentos, aparentemente solitários e absortos; a música ao fundo é que fala profundamente sobre o amor (talvez o único momento com uma abordagem feliz). Depois o que vemos são algumas cenas que procuram explicar como o casal sobrevive, porém com eles separados (não sabemos por que) até reencontrarem.
A respeito dos protagonistas, podemos fazer uma análise em separado. A tristeza – uma quase depressão com tendência suicida, mas que o próprio filme esqueceu –, de Adam parece a gênese para uma reflexão sobre a existência de um ser que sobrevive vários séculos, em meio a uma espécie que pouco lhe agrada. Quanto a Eve, Jarmusch não quis lhe dar muita coisa especial (os homens vampiros foram/são artistas notáveis, mesmo ocultos), só a sensibilidade e o companheirismo (o que não é algo depreciativo, mas não deixa, no filme, nenhum legado). Talvez Eve seja a metáfora do próprio filme: algo cujos grandes atributos ou não lhe foram concedidos ou não foram bem explorados. A personagem de Mia Wazikowska também poderia funcionar como metáfora para o filme: uma ideia mal concebida, ou mal elaborada.
“Amantes eternos”, de fato, trata-se de um filme estranho – não no sentido positivo – que parece propor uma nova estética, um tanto experimental, para uma temática de certa forma pop. Mas, se a tentativa de distanciamento do modelo “pop” foi pelo menos esboçado, uma nova estética sequer foi concebida como um vislumbre. A morosidade e parcimônia no enredo quase empurram o filme para o tédio. Se não o fez, podemos dizer que obliterou a atuação de Tilda e de Tom consideravelmente (e olha que o filme é “praticamente eles dois”).
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