AMARELO-MANGA
Vindo da safra dos bons filmes pernambucanos este Amarelo Manga de Cláudio Assis já entrou como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Não que seja revolucionário, longe disso, nele o que se encontra é um desfilar de tipos peculiares, não digo que seriam clichês, mas tipos que estão inseridos num cotidiano rotineiro duma cidade como Recife.
Temos o homossexual interpretado por Matheus Nachtergaele que o faz de maneira a caricaturar o que se convencionou chamar de “bicha” e “viado”, pelos seus trejeitos, falas e expressões. Ele é apaixonado por outro tipo, o homem bruto, Wellington Kanibal, muito bem interpretado por Chico Dias, é um amor platônico que o faz até lamber a faca que ele acabara de tirar a gordura de um pedaço de carne crua. Este homem bruto citado é casado com uma crente devota que sabe que o marido a trai. Temos a figura da amante de homem casado que, cansada de ser “a outra” impõe uma escolha entre ela e sua mulher.
Nesta mistura antropológica, dando voltas pela cidade, passeando por lugares, em sua maioria bem pobres, labirintos de casebres feitos de madeira o filme ora se passa no Hotel Dallas, ora no Bar da brava Ligia, a loira dos pentelhos da cor de amarelo manga, como ela mesmo mostra durante uma cena do filme, subindo numa cadeira do bar para todos verem. Ali no bar, ela passa seus dias monótonos, servindo cachaça e petiscos àquelas mesmas pessoas que lhe enchem a paciência, alguns com certa petulância e ousadia direcionam-se com intenções machistas em direção a ela, mas recebem em troca todo o empoderamento daquela mulher que reage com socos, pontapés e tapas. Aliás, o filme é um verdadeiro manifesto da liberdade assumida pelas mulheres, o poder exercido pelas mesmas, em cenas como supostas agressões que elas enfrentam, sem medo fazendo com que os pseudoagressores desistirem. Uma cena que demonstra a libertação da mulher dos gládios masculinos e de dogmas ultrapassados é quando a personagem de Kika pega um batom escondido atrás de um armário vai para a rua e o usa como se fosse sua arma de libertação, ela flagra seu marido com sua amante, arranca a orelha dela com uma mordida, caminha sozinha pela cidade e entra no carro do primeiro estranho que lhe aparece, no motel ela transa como se nada daquilo lhe fosse estranho.
A linguagem utilizada no filme não poderia ser outro que não a do baixo-calão, são desferidos praticamente palavrões em todas as sentenças das personagens. Para se ter ideia na primeira fala do filme já podemos encontrar um “Vai tomar no cu!”
A última cena do filme aparece Kika num cabeleireiro pedindo que corte o seu cabelo bem curto e que o pinte de amarelo manga.
O filme termina mostrando diversos rostos de pessoas da cidade de Recife, jovens, velhos, trabalhadores rurais, garis, pobres, não tão pobres, gente de todo tipo numa representação ao que o filme quer mostrar desde o início os tipos de gente
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