Terno e devastador, Amor Bandido está aí pra nos lembrar que ainda há potencial a ser descoberto para criação de histórias peculiares com temas batidos.
Eu tive a prazerosa surpresa em voltar aos anos passados quando me juntava com os amigos pra explorar lugares abandonados, baldios, perto e principalmente longe de casa, com a sensação de estar numa excitante aventura. Jeff Nichols evoca muito dessa nostalgia em toda a projeção do filme, principalmente na primeira metade, onde a trama ainda está sendo construída. Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) são os aventureiros da história. Criados na zona rural, às Margens do Rio Mississipi, os dois amigos procuram aventuras, molecagens, até chegarem numa ilha deserta nas proximidades. Um barco abandonado em cima de uma árvore ferve o instinto aventureiro dos meninos empolgados com a descoberta. Mas a “casinha” na árvore já tem dono, o misterioso Mud (Matthew McConaughey) que precisará da ajuda dos meninos para fugir da ilha e ir de encontro com sua eterna amada Juniper (Reese Witherspoon).
Em meio a esses acontecimentos, somos levados a alguns instantes da vida cotidiana de Ellis, especialmente os que envolvem o amor. Uma garota na escola, a separação dos pais e relacionamento paternal. Frustrações que acabam desmoronando a ideia de que o amor é lindo, colorido, simples e compreensivo. Ellis é um personagem muito apaixonante. Tye Sheridan dá vida a um adolescente inocente que tem suas próprias idéias otimistas sobre o “amor” até encontrá-las desaparecendo entre seus pais. É a razão pela qual decide ajudar Mud a se encontrar com Juniper, fazendo disso, uma missão obrigatória.
Nichols cria uma reflexão íntima sobre amizade, amor não correspondido, e amadurecimento com uma abordagem rítmica e sensível para as frustrações da vida durante a infância. Embora o diretor (e roteirista) possa estar tentando fazer demais com esses temas, ele consegue elaborar personagens que realmente se preocupam com cada arco temático da história, deixando ao final, muitas reflexões. Ainda com um tom fabulesco e inocente delicioso quando estamos diante do olhar de Ellis para o amor mas ao mesmo tempo doloroso quando pra ele é constatado a realidade, fora da concepção otimista que ele criou. Ajuda muito o cenário. Ellis mora numa casa flutuante de madeira no Rio Mississipi, a cidade é pacata, poucos são os vizinhos e amigos afirmando que o garoto pouco viu da vida, das pessoas e do mundo. O relacionamento de Mud com os garotos lembra Os Goonies. Um amigo misterioso a qual levam comida, mantimentos e o ajudam em segredo. Mas é quase impossível não se lembrar do climão nostálgico de Conta Comigo.
Nichols consegue essa mistura muito orgânica e crível. A segunda metade vem como um turbilhão de sensações. Fica muito difícil até ali, não estarmos apegados aos personagens, não compreendê-los ou não querer ajudá-los de alguma forma. Principalmente pra nós que já sabemos as verdades sobre o amor, sabendo que todo o otimismo de Ellis pode ser em vão. Por outro lado, temos Mud que nutre um amor por Juniper quase fabulesco. Fugido da civilização por cometer crime passional, e está sendo caçado por matadores de aluguel a mando do pai da vítima. Mud é o espelho de Ellis. Um eterno apaixonado que luta de todas as formas pelo seu amor de infância. Pára no tempo dos sentimentos. Por isso constroem uma amizade tão linda e capaz de ser muito íntima com relação ao sentimento que um tem pelo outro como vemos na cena do tiroteio.
A essa altura da projeção já estamos completamente capturados por Nichols. Ansiando causar ainda mais sensações, arrebata o espectador na cena decisiva que remete a um tiroteio, podendo muito bem ser taxada como aproveitadora e desnecessária, o que é uma tremenda injustiça; Sem qualquer tipo de previsibilidade, a cena põe nossa expectativa em primeiro plano. Na segunda metade Nichols deixar a "fábula" de lado, e por ser um filme doloroso de modo geral, os personagens estão livre pra ir em direção a qualquer caminho na conclusão da obra. Impossível não ficar apreensivo com o que pode acontecer.
É sem duvidas uma das mais preciosas obras lançadas no ano. Com apenas 35 anos de idade mas muita competência, Nichols se mostra ser um dos melhores diretores a surgirem no cinema. Magnífica direção de atores, todos muito bons, mas o destaque vai para Tye Sheridan. Que atorzinho incrível. E Matthew McConaughey em ascensão, definitivamente, um excelente ator. Michael Shannon é desperdiçado, fazendo apenas uma pontinha no filme. Parece que o diretor não quis deixar um “amigo” fora do seu filme, o que vale lembrar sua grande atuação em O Abrigo outro filme notável do diretor.
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